Porto de abrigo. É o que tento ser para ti nas longas e solitárias horas em que procuras o calor do meu corpo. Um sítio quente e seguro onde podes esquecer o mundo; esqueceres-te de ti até. Um porto de abrigo sob a forma de aconchego e sensações. O mundo fica lá fora. Contigo, connosco, apenas os cheiros, o toque, os gemidos. Uma bolha de segurança e esquecimento onde te podes abrigar. Minutos sem contagem nem espera. Um compasso sem tempo nem horas. O alívio físico, sexual e emocional. O regresso ao útero de forma inconsciente mas voluntária. A independência através da dependência. E sempre que precisas de fugir, é para mim que corres. Porque te faço sentir bem, único, especial, desejado. Porque te sacio sem censuras nem represálias. Porque faço o que mais nenhuma te faz. Porque te dou o que mais nenhuma dá. Porque sou a tua puta, a tua amiga, a tua amante. Porque sou o teu porto de abrigo. Vens?...
O tamanho do mundo altera-se com o Amor. É mais pequeno quando vivemos um e maior, muito maior, quando não vivemos. Reparei nisso uma vez quando fui tomar café ao bar do outro lado da rua, aquele que se vê da varanda do meu segundo andar. Nunca mais lá chegava e, quando cheguei, senti-me como se tivesse acabado de atravessar um deserto. Ainda por cima, ainda tinha que fazer o mesmo na direcção oposta.
É o tempo do Não Amor que torna o mundo maior, porque esse é o tempo em que se espera todos os segundos que aconteça alguma coisa boa. Uma paixão, por exemplo. Mas nunca acontece nada e cada segundo transforma-se numa hora. Atravessar uma rua passa a ser uma viagem de dias.
Quando nos apaixonamos, o mundo encolhe subitamente. Está tudo à nossa mão porque também o está a mão do nosso Amor. Quando entramos no bar e pedimos café, já nem nos lembramos do carro que nos apitou por atravessarmos a rua tão depressa.
É assim que se vê o tamanho de um Amor. É sempre inverso ao tamanho do mundo. Até porque existindo, é ele o nosso mundo.
O Lourenço M. criou esta charada e autorizou-nos a publicá-la aqui. E deixa duas pistas:
"É uma quadra a rimar.
Não há duas iguais (com o mesmo significado)..."
"Na Festa dos Tabuleiros de Tomar, descobri que a beselga, nome dado em alguns locais à... fiarresga... à passarinha... à amêijoa... à... etc. lá é uma freguesia." Paulo M.
Quadro em madeira com figuras em alto relevo de Sancho Pança a jurar fidelidade a D. Quixote, da forma mais apaixonada possível.
Da sexão «O que não é suposto ser erótico», da minha colecção.