05 agosto 2015

Marlo Marquise - «Monster Hunter»


Marlo Marquise - Monster Hunter (NSFW) from steve prue on Vimeo.

«A Guerra dos Tronos» - bagaço amarelo

Defendo a ideia de que todos os homens deviam ter um sofá só para eles, como antigamente. De preferência um monolugar grande e robusto, parecido com o trono de um rei, onde as crianças até podem dar uma cambalhota quando ele não está, mas a mulher nem pensar.
Todos ganham com esse sofá. O homem, que pode ser Rei em casa mesmo quando é humilhado todos os dias no trabalho; a mulher, que ganha o estatuto de conselheira familiar por uns momentos; a criança, que pode dar umas cambalhotas de vez em quando.
O sofá monolugar sempre foi um elemento essencial na estrutura familiar portuguesa. Era com esse sofá que parecia que tudo estava bem, mesmo quando tudo estava mal. Era o Poder do Trono. O homem sentava-se nele a ler o jornal e ganhava imediatamente o estatuto que não tinha em mais lugar nenhum, nem sequer no café da frente entre os bêbados diários (cada um deles também teria o seu sofá em casa).
Com o fim do sofá, as famílias desagregaram-se porque a peça principal da estrutura ruiu. As mulheres começaram a partir do princípio que também tinham o direito à felicidade e, pior, a decidir o seu próprio destino. Aumentou o número de separações, divórcios e discussões caseiras.
O Ikea tem parte da culpa, porque os seus sofás são todos iguais. Falta-lhe o sofá monolugar tipo trono, com uma almofada enorme, pesados pés de madeira e um tecido grosso e difícil para ela limpar.
Na boa época do sofá, um homem decidia que estava apaixonado e queria ficar com aquela mulher para toda a vida, sempre antes do primeiro sexo. Assim mesmo, com o verbo "ficar", não pelo seu significado de posse, mas sim pelo seu aspecto mais conservador. Ficar significa permanecer ou deter-se. O sofá era a garantia desse conservadorismo e o conservadorismo sempre seguiu um modelo masculino.
O fim do sofá como lugar de Poder é uma responsabilidade feminina, no exacto momento em que as mulheres decidiram que o homem não tinha o direito de decidir ficar (lá está o verbo de novo) com elas. A subversão da coisa é que deixou de ser o trono do Rei para passar a ser um lugar de queca. Foi o fim da monarquia lá de casa.
Ainda assim, todos os homens deviam ter um sofá como antigamente.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Postalinho de um clássico

"Vai aonde?!"
Joana L.

São tão girinos...


03 agosto 2015

iWireless - «Regret» (arrependimento)

«Veludo» - João

"Estavas tão hesitante que se notava nas tuas pernas, torneadas, um recorte perfeito no contraste da paisagem, e não há ninguém, não há ninguém aqui, e tu num nervosinho miúdo, miudinho, e eu também, e a electricidade no ar, sentes? Sentes a electricidade a envolver-nos? A comer-nos por dentro, por fora, a atrair, a faísca a formar-se, e as tuas pernas a hesitar, os teus braços atrás das costas sem saber o que fazer, e para onde vamos, o que vem lá, um sol que nasce ou noite escura, e quem vem lá, quem está cá, ninguém, não há ninguém, só silêncio e hesitação, e o teu corpo a conquistar milímetros, avanços e recuos à força para novos avanços sem conseguir resistir e então que te quero, não consigo mais, e deixas-te cair sobre mim, e eu faço-me chão teu, e acolho o teu corpo a cair, a cair, a tombar, desfaleces sobre mim e suspiras, deixas rolar lágrimas pesadas de querer guardado e não há ninguém aqui, não há alma alguma que não a tua, e seguramo-nos num abraço longo, no conforto do cheiro da pele, e o silêncio é imenso, o tempo da verdade, dos sinais, da telepatia que nos faz.A cortina de veludo vermelho pendia de um varão acobreado, horizontal, separando duas paredes que compunham um provador bastante espaçoso. As paredes, pintadas em cinza escuro, aproximavam-se do chão preto e brilhante, que funcionava como um espelho perfeitamente polido, e ao fundo daquela sala, em oposição ao provador, estava um sofá branco, para três pessoas, e eu sentado do lado esquerdo, com o braço apoiado no sofá e a perna cruzada, ondulando o pé vagarosamente enquanto ouvia o barulho de cabides a despir-se da roupa que seguravam, e a cortina vermelha a ondular, a reagir à brisa que o teu corpo provocava sempre que te movias mais exuberante.

A tua mão surge e afasta a cortina, e encostas-te à parede, de lado para mim, com um vestido belo e saltos muito altos. E perguntas-me se gosto. Gosto, se gosto. Mas depressa te digo

tira tudo, mas deixa ficar os sapatos

e então descruzo as pernas, e tu caminhas em direcção a mim, no sofá branco, e eu sento-me ao meio, tu sobre mim, com um joelho de cada lado, e o peito ao nível da minha boca, e dizes-me que te lamba, e eu lambo, e delicio-me com os teus mamilos enquanto te seguro e a dado instante, a dado instante já me interessa muito pouco, se alguma vez, se o sofá é branco ou não."


João
Geografia das Curvas

Postalinho da força do vinho

"Grande vinho de colheita seleccionada!"
Càpê