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«Melancholy (Melancolia)»
Nicoleta Bida, Roménia, 2002
Acrílico sobre tela da colecção
de arte erótica «a funda São» |
Passaram-se mais de quarenta anos, desde que ela tinha saído de Coimbra para ir viver em New York...
Uma vida inteira!
Nos momentos de melancolia a Isabel abandonava-se aos seus pensamentos secretos, escondida dos olhares do marido e dos filhos, receosa que eles lhos adivinhassem. Perdia-se em recordações, deixava que a imagem do Luís, aquele que foi o amor da sua juventude, lhe aparecesse nítida, tão presente que quase sentia o seu contacto. Ondas de confidências, gritos de alma, desejos inconfessados abanavam-lhe o corpo, uma doce dor apertava-lhe o coração.
Tantas foram as vezes em que, abraçada ao seu marido, era ao Luís que realmente beijava, que acariciava, que sussurrava palavras de amor.
Nunca mais tinha tido notícias dele, mas jamais o esquecera.
Até que, há pouco tempo...
Viu o nome dele na internet. Ficara a saber que ainda vivia em Portugal, casado e com filhos, do outro lado do mar. Começaram a trocar mensagens, a princípio formais, depois mais íntimas.
Ela, uma mulher madura mas ainda fogosa e bonita, não se conformava por tamanha e tão longa separação.
Um dia, faço-te uma surpresa, apareço-te aí, nem que seja por uns dias, para desfrutarmos este amor que ainda nos une, escrevia-lhe ela nas mensagens que lhe mandava.
O Luís às vezes respondia-lhe que era ele quem lhe faria essa surpresa. Que também ansiava tê-la nos braços, mostrar-lhe todo o amor que também nunca deixou de lhe ter.
Certo dia, o Luís recebeu um telefonema. Era a Isabel a dizer-lhe que, como lhe prometera, estava no aeroporto da Portela para estar com ele. Indicou-lhe o hotel de Lisboa onde se iria hospedar por uma semana e pediu-lhe que fosse encontrar-se com ela.
O Luís, atónito, respondeu-lhe que naquele mesmo momento estava a desembarcar no aeroporto de Newark, para onde tinha ido à procura dela. Fazer-lhe a prometida surpresa...
Rui Felício
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