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«Casal algarvio»
em madeira e com olhos feitos com
chumbos de pressão de ar
Doação da Maria Augusta para a colecção
de arte erótica «a funda São» |
Depois de um dia encafuado no escritório acanhado, saiu e levou com o bafo quente da canícula que se abateu na cidade.
Foi ontem, 29 de Junho de 2015, um dos dias mais quentes do ano.
Desapertou a camisa, aliviou a gravata, arregaçou as mangas e de casaco pendurado ao ombro desceu a avenida em direcção à paragem do autocarro.
Cansado, o suor escorria-lhe, ensopava-lhe a camisa
Quando chegou a casa, descalçou-se, atirou com os sapatos um para cada lado, tirou as peúgas e a camisa e deixou-se cair no sofá, exausto.
A Marta tinha passado o dia a preparar um jantar especial. Aquele era um dia também especial, o dia do aniversário do seu casamento.
Mas o Carlos lembrava-se lá disso!
Esquecer uma data importante é a pior coisa que um homem pode fazer à sua mulher.
A Marta ficou furiosa, claro.
Desconfiava já há uns tempos que ele a traía. Aquele esquecimento era a prova disso.
Fez uma cena de ciúmes, berrou, barafustou, insultou-o.
O Carlos sem perceber nada não estava disposto a continuar a ouvir tamanho alarido.
Esparramado no sofá, pegou no comando.
Premiu a tecla Stop.
Em seguida carregou no Restart e esperou uns minutos que as configurações reiniciassem.
Por fim carregou no Play e ouviu a voz melodiosa e suave da Marta:
- Meu amor, estava ansiosa pela sua chegada. Há cinco anos que vivemos juntos. Mostrou-lhe, carinhosa um talão datado de 29 de Junho de 2010.
Foi então que o Carlos se lembrou que fazia cinco anos que ele tinha comprado aquele robot.
Rui Felício
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