14 outubro 2015

Acabou-se a pouca vergonha



HenriCartoon

«Hammam» - Florence Miailhe, 1992

«dos Amores antigos» - bagaço amarelo

Todas as coisas antigas, a que às vezes até gostamos de chamar vintage, já foram simplesmente velhas. A antiguidade é a boa nova de que nada precisa de acabar na sua própria velhice, nem sequer o Amor.
Pensei nisso hoje, quando vi dois turistas nórdicos a fotografar umas casas de pescadores no bairro da Beira-Mar. São casas pequenas, revestidas de azulejos cuja cor se foi apagando com o sopro do tempo. São casas que despertam a curiosidade de quem passa por elas, pelo que aparentam ter sido e albergado. Lembro-me delas desde sempre. Eram apenas casas velhas que, apenas por dedução, eu sei que já foram novas.
Uma relação entre duas pessoas também passa de nova a velha, às vezes mais depressa do que elas mesmas. Envelhece assim que o tempo lhe tira a cor e o que se observa são apenas gestos gastos e usados. É o Amor que pode transformar uma relação velha numa Paixão vintage.
Fiquemos assim: existem desAmores velhos e Amores antigos. É nestes últimos que, tal como a uma casa qualquer, todos os dias olhamos para quem está ao nosso lado e suspiramos de espanto.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

José Vilhena (1927-2015), escritor, pintor, cartoonista e humorista português, faleceu no passado dia 3 de Outubro.
No site http://www.vilhena.me/ estão vários desenhos e  revistas da sua longa e corajosa carreira (várias vezes teve livros e revistas apreendidos, nos tempos da ditadura).
Existe também uma página no Facebook que vai relembrando trabalhos do "incorrigível e manhoso" Vilhena.
Como algumas dessas revistas só são acessíveis a quem tiver conta no ISSUU, um bom samaritano criou links via Gatovolador para as tornar visíveis a qualquer pessoa:





A dar com pau