13 novembro 2015

«É tudo normal na ponta de um cigarro» - bagaço amarelo

É tudo normal na ponta de um cigarro. Ela dá mais uma passa e diz que vai deixar de fumar assim que arranjar coragem. Fico a vê-la por um instante. Talvez seja o cigarro a fumá-la a ela, não sei bem. As mãos tremem-lhe e a pele está mais velha do que o tempo que já viveu. Não faz mal. É tudo normal na ponta de um cigarro.
Uma vez, há muitos anos, estivemos apaixonados. Éramos novos e durante três dias acreditámos que ia ser para sempre. Não foi. Ao terceiro dia ela recusou-se a beijar-me e mergulhou no rio a sorrir. Lembro-me da disponibilidade da água para afogar toda a tristeza. A dela e a minha. Era a água, a mesma que agora está aprisionada dentro duma garrafa de plástico ao lado do cinzeiro usado, à espera que uma moeda de um euro a liberte. Penso no presidente da Nestlé a afirmar que os seres humanos não devem ter direito à água. O que seria de mim nessa tarde sem acesso à água? Não sei. Teria sede da vida. Não faz mal. É tudo normal na ponta de um cigarro.

- Lembras-te de nós?

E ela abana afirmativamente a cabeça. O queixo trémulo e o cigarro a fumá-la já quase no filtro.

-Ainda tenho a flor que me deste, seca, entre as páginas de um livro qualquer...

Era amarela. É do que me lembro. Resgatei-a duma fenda no alcatrão da estrada e dei-lha. Senti-me um herói. A qualquer momento, o pneu dum automóvel ia esmagá-la para sempre. Assim não. Perdura no tempo entre as palavras dum livro que eu não sei qual é, mas sei que existe. É suficiente. É dum tempo em que as sementes cresciam de forma aleatória por aí, sem a Monsanto e sem o gene suicida, à espera duma morte natural. Até no chão impermeabilizado que ligava as cidades. A minha e a dela. O que seria de nós, de mim e dela, sem uma morte natural? Não faz mal. É tudo normal na ponta de um cigarro.

- Somos tão estúpidos quando somos jovens! - E acende outro cigarro.
- Somos... - Concordo sem perceber porquê.

De toda a estupidez que já vivi, a dela foi a mais curta e feliz. O que nos sobrou de três dias foi uma vida inteira. Sem uma Economia medonha a esmagar-nos a esperança, sem uma dívida que ninguém sabe bem de onde veio, sem um governo a aniquilar uma população inteira e a perpetuar o cadáver de um jogador de futebol. Éramos só nós, a gostar imensamente da vida e de um rio por três dias. Não faz mal. É tudo normal na ponta de um cigarro.
Ela é bonita. Ainda, digo eu. Às vezes olha-me de lado, como se tivesse medo de enfrentar o passado, e eu percebo porque é que gostei dela. Era bonita, sorria, mergulhava na água e guardava as flores silvestres que eu lhe dava. Para sempre, diz ela, como se isso existisse. E o cigarro a fumá-la.
Ao vê-la a ela vejo um mundo inteiro que acabou, onde todos perdemos a mais óbvia das coisas: o direito a ser feliz por três dias. Não faz mal. É tudo normal na ponta de um cigarro.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

«Eu e ela - conta-corrente» - Ruim

Eu espeto o guarda-sol. Ela corta melão aos cubos e põe numa tupperware que só ela sabe qual é a tampa.
Eu grelho bifes de 2 metros de espessura. Ela faz uma salada com montes de coisas que eu não sei o nome.
Eu subo a escadotes para mudar lâmpadas. Ela passa-me a lâmpada certa à segunda vez e diz “ não caias” pela terceira.
Ela faz a lista das compras e mete os produtos no carro. Eu levo o carrinho a fazer "vruuum" e carrego os sacos.
Eu monto o móvel do IKEA. Ela lê as instruções e dita qual a peça a seguir.
Eu digo foda-se. Ela diz merda.
Eu abro os frascos de pickles. Ela abre embalagem das lâminas de barbear que parece ter sido selada a vácuo e eu não tenho unhas.
Eu guio o meu carro e ela vai ao lado. Ela diz para eu guiar o carro dela e ela vai ao lado.
Eu tomo banho em 5 minutos, em 2 se ela me pedir. Ela toma banho em 15, em 14 se eu lhe pedir.
Ela fica com a maior parte do sofá. Eu fico com o comando na mão.
Ela chora quando está naqueles dias. Eu choro quando ela está naqueles dias.
Ela fala da vida das amigas e eu finjo que estou interessado. Eu falo que o novo Batman: Arkham Knight da PS4 tem o Batmobile e ela finge estar interessada.
Eu não suporto aquela amiga dela que é víbora. Ela não suporta o meu amigo putanheiro.
Eu bufo à espera dela a arranjar-se mas fico sempre a olhar espantado com o resultado final. Ela bufa quando chego às tantas depois de uma noitada mas aquece-me o que sobrou do jantar no micro-ondas.
Eu sei quando ela precisa de um abraço e um beijo. Ela sabe quando eu preciso de ser comido por ela.
Ela gosta de me ver a aparar a barba de toalha enrolada. Eu gosto de a ver a escovar o cabelo de top e boxers.
Eu pago a conta. Ela deixa-me pagar.
E mesmo que eu esteja nas lonas, ela passa-me o cartão dela sem que o empregado veja, pisca o olho e sorri. Ajudo-a a vestir o casaco, abro-lhe a porta e dizemos ambos adeus ao empregado ao mesmo tempo. Abro-lhe a porta do carro. Ela liga o rádio e mete na estação que eu gosto.
Não há coisas para um lado e o outro não. Um casal é uma equipa e nenhuma boa equipa joga com todos os jogadores na mesma posição, porque ninguém ganha jogos só a defender e todos os jogos se perdem se apenas atacamos. Se o defesa confiar no avançado sabe que vai ganhar. Se o avançado confiar no defesa sabe que não vai sofrer golos. Não há posições melhores ou piores. Um sem o outro de nada valem.
Sejam felizes e não percam isto.

Ruim
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«Estará a sentar-se em cima de algo?!..» - Shut up, Cláudia!



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12 novembro 2015

«Beauty in decay» (beleza em decadência)


Beauty in Decay (The Music Video Edit) from Donal Moloney on Vimeo.

«O poema da Clarice» - J. P. Silva

«A Gata»
Milena Miguel (Atelier S. Miguel)
Uma gata que exibe um corpinho de
mulher por baixo do casaco de pêlo,
com o detalhe do lenço no chão
para um cavalheiro apanhar.
Estatueta em barro vermelho
da colecção de arte erótica «a funda São»




"Hoje apetece-me ser uma prostituta, mas só hoje!

Hoje apetece-me ser uma prostituta
Apetece-me quebrar um ou mais caralhos
Sem dó nem conduta, sair da rotina
Abrir a minha cortina
Chamar alguém e que alguém me chame de puta
Enquanto me agarra os cabelos.
Apetece-me colocar um anúncio no jornal: Prostituta só por um dia.
Apetece-me ir para a estrada pedir boleia a troco de sexo mal parido
Apetece-me receber dinheiro a troco de falsos gemidos...
Venha quem vier
Aproveitem, serão todos fodidos
Comerei, mas só hoje
Porquê amanhã já é dia de trabalho.
Clarice"

J. P. Silva

Deuses e homens

Lote de várias peças eróticas em bronze, provenientes do Nepal para a minha colecção.





Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

«Ceci n’est pas…» - Adão Iturrusgarai


11 novembro 2015

Uma posição nada católica...


Martin van Meytens Yr.
«Freira ajoelhada» (frente e verso)
cerca de 1731
Museu Nacional de Estocolmo


Via mon ami Bernard Perroud

«Consegues ser mais promíscuo do que um miúdo de dez anos?» - bagaço amarelo

Os homossexuais, bissexuais e transexuais não são, por definição, tarados sexuais que só pensam em sexo com vestimentas alegóricas, próprias do Carnaval do Rio de Janeiro. São pessoas que Amam, se apaixonam e sofrem de Amor como outra pessoa qualquer.
Estou a dizer isto por um motivo muito simples: quem assiste a uma marcha qualquer sobre o Orgulho LGBT pode pensar que sim, e é por isso que eu não dou muito crédito a essas marchas. Aceito-as, mas acho-as estúpidas porque têm um efeito contrário ao que teoricamente pretendem, ou seja, a aceitação generalizada de todas as orientações sexuais.
Vejo reportagens fotográficas e vídeo das várias marchas que recentemente se realizaram um pouco por todo o mundo (algumas, infelizmente, com intervenção policial injustificada) e vem-me à mente um programa de televisão que se poderia chamar "Consegues ser mais promíscuo do que um miúdo de dez anos?".
A promiscuidade não é exclusiva de quem não é heterossexual, mas as manifestações parecem querer fazer parecer que sim. Provavelmente, nunca ninguém ali falou com um putanheiro a sério, bom chefe de família, bebedor de Teobar e presente todos os fins de semana nos jogos do Benfica.
Por isso repito: os homossexuais, bissexuais e transexuais são pessoas que Amam, se apaixonam e sofrem de Amor como outra pessoa qualquer.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Eva portuguesa - «Fode-me»

Fode-me com o olhar, com as mãos, com o sorriso. Fode-me com a língua e com o sexo. Fode-me com força e depressa, com coragem e desespero. Fode-me devagar e com meiguice, quase como se fazendo amor. Fode-me a c*na e a boca; e o traseiro também. Fode-me até chegares à alma e encontrares a minha essência. Fode-me toda. Só não me fodas o juízo.

Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado

Não vás ao médico, não...