Quadro numa tábua de madeira recortada, com 13x55cm, proveniente de África para a minha colecção.
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26 novembro 2015
25 novembro 2015
«pensamentos catatónicos (325)» - bagaço amarelo
Quando nos acostumamos a um Amor e eles nos começa a parecer banal, a melhor coisa que temos a fazer é afastarmo-nos por um momento, para sentirmos a falta que ele nos faz.
É que quando se Ama alguém, o melhor que nos pode acontecer é sentir saudades desse alguém de vez em quando, para não cairmos no erro de pensar que é dispensável. O maior erro que se pode cometer no Amor é perceber a sua importância apenas quando ele já não está.
Quando isso nos acontece, zangarmo-nos com o Amor sem ele nos ter feito nada de especial, acabamos a fazer as pazes com as piores coisas que esta vida tem. O comando do televisor, por exemplo, para passar os canais num zapping que se quer tão rápido e insípido quanto a própria vida.
Por outro lado, se nos afastamos e a saudade não vem, ficamos esclarecidos sobre a falta que esse Amor não nos faz. Vejamos televisão então, porque certamente conseguiremos parar no melhor filme ou na melhor série.
Afastarmo-nos por um momento é o barómetro do que somos. Também do que não somos. Afastemo-nos todos por um momento e, assim que voltarmos, ou não, aos braços de quem Amamos, o mundo estará melhor.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Boa noite, Amor!
O dia cerra as pálpebras sobre nós
permitindo melhor apreciar as estrelas,
e oferendando a visão única
que apenas a noite pode vestir,
um manto terno, misterioso e protetor,
que roça de leve na nossa imaginação,
altera a velocidade do ritmo do coração
e humedece de suor a nossa pele,
enquanto os dois ansiamos a sua chegada,
pálpebras cerradas e a face maravilhada!
Abraçamo-nos e, cúmplices, sorrimos,
calmos e ansiosos no mesmo tempo,
e entramos aconchegados noite dentro,
bebendo o som que um violoncelo solta,
enquanto um fado tinto escorre líquido
pelo bocal aberto de uma taça generosa.
As roupas ganham vida própria
e abandonam os nossos corpos ardentes,
espalhando-se pelo chão da casa,
como sinais da necessidade erótica
com que respiramos os momentos!
Quando reabrimos as persianas do olhar,
já o mapa estrelar não está na mesma posição
e a Lua brinca às escondidas connosco,
escondendo sempre o seu lado negro,
e descontraímos os músculos e os sentidos
nos corpos que em repouso se diluem no chão
e que, quase líquidos, esperam novo e fresco alvor…
Olhamo-nos, sorrimos e saudamo-nos:
– Boa-noite, amor!
Vitor. C
Google+
permitindo melhor apreciar as estrelas,
e oferendando a visão única
que apenas a noite pode vestir,
um manto terno, misterioso e protetor,
que roça de leve na nossa imaginação,
altera a velocidade do ritmo do coração
e humedece de suor a nossa pele,
enquanto os dois ansiamos a sua chegada,
pálpebras cerradas e a face maravilhada!
Abraçamo-nos e, cúmplices, sorrimos,
calmos e ansiosos no mesmo tempo,
e entramos aconchegados noite dentro,
bebendo o som que um violoncelo solta,
enquanto um fado tinto escorre líquido
pelo bocal aberto de uma taça generosa.
As roupas ganham vida própria
e abandonam os nossos corpos ardentes,
espalhando-se pelo chão da casa,
como sinais da necessidade erótica
com que respiramos os momentos!
Quando reabrimos as persianas do olhar,
já o mapa estrelar não está na mesma posição
e a Lua brinca às escondidas connosco,
escondendo sempre o seu lado negro,
e descontraímos os músculos e os sentidos
nos corpos que em repouso se diluem no chão
e que, quase líquidos, esperam novo e fresco alvor…
Olhamo-nos, sorrimos e saudamo-nos:
– Boa-noite, amor!
Vitor. C
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24 novembro 2015
E depois a tarada sou eu...
Às vezes a neblina cobre a ponte Vasco da Gama com a elegância de uma lingerie.
Sharkinho
@sharkinho no Twitter
Novas Cartas Portuguesas, vistas por Catarina Sobral
Impressão 1/20 de uma ilustração feita para uma exposição colectiva da Feira do Livro do Porto de 2015.
Como explica a autora, Catarina Sobral: "foi-nos pedido que escolhêssemos um livro e ilustrássemos a capa para uma exposição colectiva da Feira do Livro do Porto" (de 2015).
O livro «Novas cartas portuguesas» (NCP) é uma obra literária publicada conjuntamente pelas escritoras portuguesas Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa em 1972. As autoras ficariam conhecidas internacionalmente como “as três Marias” (The Three Marias tendo sido mesmo o título da edição original do livro em inglês). Nos anos setenta, a publicação de NCP assumiu um papel central na queda da ditadura dirigida por Marcelo Caetano, uma figura apenas superficialmente mais liberal que o seu antecessor António de Oliveira Salazar. O livro revelou ao mundo a existência de situações discriminatórias agudas em Portugal, relacionadas com a repressão ditatorial, o poder do patriarcado católico e a condição da mulher (casamento, maternidade, sexualidade feminina). NCP denunciou também as injustiças da guerra colonial e as realidades dos portugueses enquanto colonialistas em África, emigrantes, refugiados ou exilados no mundo, e “retornados” em Portugal.
Uma ilustração deliciosa na minha colecção.
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Como explica a autora, Catarina Sobral: "foi-nos pedido que escolhêssemos um livro e ilustrássemos a capa para uma exposição colectiva da Feira do Livro do Porto" (de 2015).
O livro «Novas cartas portuguesas» (NCP) é uma obra literária publicada conjuntamente pelas escritoras portuguesas Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa em 1972. As autoras ficariam conhecidas internacionalmente como “as três Marias” (The Three Marias tendo sido mesmo o título da edição original do livro em inglês). Nos anos setenta, a publicação de NCP assumiu um papel central na queda da ditadura dirigida por Marcelo Caetano, uma figura apenas superficialmente mais liberal que o seu antecessor António de Oliveira Salazar. O livro revelou ao mundo a existência de situações discriminatórias agudas em Portugal, relacionadas com a repressão ditatorial, o poder do patriarcado católico e a condição da mulher (casamento, maternidade, sexualidade feminina). NCP denunciou também as injustiças da guerra colonial e as realidades dos portugueses enquanto colonialistas em África, emigrantes, refugiados ou exilados no mundo, e “retornados” em Portugal.
Uma ilustração deliciosa na minha colecção.
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23 novembro 2015
«Batalhas campais» - João
"Leio algumas mulheres regularmente, o que poderia considerar-se estudo porque os homens já eu conheço, e Deus sabe que demasiados daqueles que partilham o género comigo são de tal modo primitivos que lê-los se torna penoso. Conto poucos homens que aprecio ler, e as mulheres, na sua complexidade – que não é mais ou menos que os homens complexos, apenas diferente no âmago -, oferecem leituras mais interessantes. Há uma matéria, porém, que me choca em alguma escrita feminina, e que se prende com a maternidade, com o ter ou não ter filhos, com o que fazer com eles. Choca-me não pelo conteúdo das opiniões, mas pela sua forma, pelo extremar de posições que é sempre pior entre mulheres.
Não nascemos todos para ser pais, mas na dança de conas e caralhos – ah, o core business desta Geografia afinal! – os filhos às vezes acontecem, com graus variáveis de premeditação, desejo e oportunidade.
Algumas das mulheres que leio são, ou aparentam ser, fortemente contra a maternidade. Enfurecem-se com idas a restaurantes onde estão crianças, reclamam espaços reservados a adultos, alinham em campanhas ferozes contra a amamentação, acusam os pais e mães de ter uma existência triste por comparação com os adultos que não têm filhos, em síntese, colam na testa daqueles que são pais uma etiqueta com um “idiota” escrito a marcador de ponta grossa e resistente à água. Talvez porque são as mulheres que transportam os filhos nas suas barrigas durante alguns meses, é a elas que eu vejo discutir isto. Os homens raramente se ocupam destas conversas, remetem-se ao sacrossanto futebol – que felizmente me transcende -, ao automobilismo ou, e isto sim acho bem, à apreciação das curvas femininas. É raro haver um comentário crítico da maternidade que não descambe numa batalha campal entre mulheres, com acusações diversas e argumentos gastos. “Não sabes porque não és mãe”, “quando fores mãe mudas de opinião”, “os filhos portam-se mal por causa dos pais”, e tantos outros que não reproduzo por fastio. Não nascemos todos para ser pais, mas na dança de conas e caralhos – ah, o core business desta Geografia afinal! – os filhos às vezes acontecem, com graus variáveis de premeditação, desejo e oportunidade. E talvez não faça sentido reagir com tanta violência às opiniões de quem os tem e de quem os não tem. E talvez também não faça sentido arranjar formas mais ou menos subtis de chamar idiotas aos que são pais e mães, ou de sugerir que as suas vidas são deprimentes porque têm filhos que berram e que os deixam cansados. Todos os pais têm momentos em que lhes apetece atirar os petizes pela janela. Possivelmente os nossos pais também o pensaram. Os pais de quem critica a maternidade também o terão feito, e no entanto, não tivessem eles vivido essa experiência, quem critica não o faria. Não estaria cá.
Sim, é verdade que os filhos podem ser maçadores. Dão trabalho. Sujam-se, cagam no chão, tiram sozinhos fraldas cheias de merda, são insuportáveis quando têm sono, comam o que comerem pingam do queixo, sujam a roupa, fazem birras por coisas que a nós parecem insignificantes, mas também são aqueles que se deitam ao nosso lado e dizem que gostam muito de nós, são aqueles em cujo cabelo se encontra a paz quando lhes fazemos carícias (há outros cabelos e outras formas de paz, e de pás, como sabeis), e a forma como cada um vive os momentos mais complicados – i.e., os mais sujos e barulhentos – é coisa nossa. Talvez as nossas vidas sejam um bocadinho deprimentes em alguns momentos da paternidade, assim como as vidas de quem não tem uma experiência familiar podem ser um pouco vazias de sentido a dado momento, mas nada disto define uma vida inteira. São curvas que fazemos, e o extremar de posições, que da normalidade ao insulto demora um segundo, é um disparate que eu convidaria as mulheres a não alimentar. E só não convido os homens a também não alimentar essas discussões porque sei que a maioria deles está a ler um jornal desportivo, e os que não estão provavelmente pensam qualquer coisa parecida comigo. Quem não quer ter filhos, viva com isso e divirta-se como ache melhor. Quem os tenha, ature-os e ame-os como deve. E deixem-se disso de achar que uma vida é melhor que a outra. Na soma de momentos e opções, nenhum caminho é totalmente certo."
João
Geografia das Curvas
Não nascemos todos para ser pais, mas na dança de conas e caralhos – ah, o core business desta Geografia afinal! – os filhos às vezes acontecem, com graus variáveis de premeditação, desejo e oportunidade.
Algumas das mulheres que leio são, ou aparentam ser, fortemente contra a maternidade. Enfurecem-se com idas a restaurantes onde estão crianças, reclamam espaços reservados a adultos, alinham em campanhas ferozes contra a amamentação, acusam os pais e mães de ter uma existência triste por comparação com os adultos que não têm filhos, em síntese, colam na testa daqueles que são pais uma etiqueta com um “idiota” escrito a marcador de ponta grossa e resistente à água. Talvez porque são as mulheres que transportam os filhos nas suas barrigas durante alguns meses, é a elas que eu vejo discutir isto. Os homens raramente se ocupam destas conversas, remetem-se ao sacrossanto futebol – que felizmente me transcende -, ao automobilismo ou, e isto sim acho bem, à apreciação das curvas femininas. É raro haver um comentário crítico da maternidade que não descambe numa batalha campal entre mulheres, com acusações diversas e argumentos gastos. “Não sabes porque não és mãe”, “quando fores mãe mudas de opinião”, “os filhos portam-se mal por causa dos pais”, e tantos outros que não reproduzo por fastio. Não nascemos todos para ser pais, mas na dança de conas e caralhos – ah, o core business desta Geografia afinal! – os filhos às vezes acontecem, com graus variáveis de premeditação, desejo e oportunidade. E talvez não faça sentido reagir com tanta violência às opiniões de quem os tem e de quem os não tem. E talvez também não faça sentido arranjar formas mais ou menos subtis de chamar idiotas aos que são pais e mães, ou de sugerir que as suas vidas são deprimentes porque têm filhos que berram e que os deixam cansados. Todos os pais têm momentos em que lhes apetece atirar os petizes pela janela. Possivelmente os nossos pais também o pensaram. Os pais de quem critica a maternidade também o terão feito, e no entanto, não tivessem eles vivido essa experiência, quem critica não o faria. Não estaria cá.
Sim, é verdade que os filhos podem ser maçadores. Dão trabalho. Sujam-se, cagam no chão, tiram sozinhos fraldas cheias de merda, são insuportáveis quando têm sono, comam o que comerem pingam do queixo, sujam a roupa, fazem birras por coisas que a nós parecem insignificantes, mas também são aqueles que se deitam ao nosso lado e dizem que gostam muito de nós, são aqueles em cujo cabelo se encontra a paz quando lhes fazemos carícias (há outros cabelos e outras formas de paz, e de pás, como sabeis), e a forma como cada um vive os momentos mais complicados – i.e., os mais sujos e barulhentos – é coisa nossa. Talvez as nossas vidas sejam um bocadinho deprimentes em alguns momentos da paternidade, assim como as vidas de quem não tem uma experiência familiar podem ser um pouco vazias de sentido a dado momento, mas nada disto define uma vida inteira. São curvas que fazemos, e o extremar de posições, que da normalidade ao insulto demora um segundo, é um disparate que eu convidaria as mulheres a não alimentar. E só não convido os homens a também não alimentar essas discussões porque sei que a maioria deles está a ler um jornal desportivo, e os que não estão provavelmente pensam qualquer coisa parecida comigo. Quem não quer ter filhos, viva com isso e divirta-se como ache melhor. Quem os tenha, ature-os e ame-os como deve. E deixem-se disso de achar que uma vida é melhor que a outra. Na soma de momentos e opções, nenhum caminho é totalmente certo."
João
Geografia das Curvas
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