11 dezembro 2015

«coisas que fascinam (180)» - bagaço amarelo

Lembro-me de uma árvore.
Não imagino quantas, mas passei imensas horas debaixo dela, normalmente a escrever textos soltos nas páginas em branco dum caderno barato. Às vezes pegava numa folha outonal, caída no chão, e decalcava-lhe os contornos com a minha esferográfica roída numa das pontas. Nunca percebi porque é que o fazia, mas talvez esses desenhos toscos fossem a construção duma memória muito específica de que, na altura, eu precisava.
A M. sentava-se às vezes ao meu lado, nos dias em que a sorte me sorria, e ficava a falar comigo até à hora do último autocarro que a podia levar a casa. Ela não soube, mas apaixonei-me por ela nesse ano. Talvez ela se tenha apaixonado por mim na mesma altura e eu não saiba. Soube, pelo menos, que posso acreditar que sim.
O Amor tornou-se então, para mim, do tamanho dessa árvore. Entre as horas obrigatórias para almoçar e jantar em casa, as traseiras de um café onde ficava a ver os outros a jogar bilhar e um recreio de escola que sempre me pareceu território inóspito, foi ali que aprendi uma das melhores coisas que esta vida pode ter: um abraço.
Passei então a odiar os autocarros, cujo ruído singular dos travões passei a conhecer de cor. Os nossos braços desfaziam o laço em que se encontravam e ela saía a correr. Dizia sempre que a mãe a matava se ela perdesse o último transporte e eu ficava a vê-la ir, como se estivesse a caminhar para o fundo do mar.
O meu corpo ficava então órfão desse abraço de uma tarde.
Lembro-me duma árvore como me lembro de mim. Preso pela raiz ao vazio do fim dessas tardes onde aprendi que um Amor não vive sem o nó cego dum abraço.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

«Novo super herói» - Ruim

À minha frente no Fertagus vinha hoje novamente um adolescente gordão a lançar "charme" à amiga boa (para a idade). Táctica de sempre : ah ah ah toma lá duas piadas, deixa-me explicar duas coisas da matéria que estamos a dar para te impressionar, excesso de atenção e agora vai lá comer um gajo que jogue à bola que eu vou ficar aqui a tocar ao bicho a pensar em ti. A sério, há uma epidemia destes putos. Alguém devia fazer alguma coisa.
Mas este hoje tinha dois pormenores que lhe vão garantir a fantasia sexual de ir para a faculdade em modo virginius maximus: usava uma daquelas bolsas de cintura para telemóvel presa a dois atacadores fluorescentes que faziam de cinto. Podem ler outra vez.
Aquilo estava a mexer com o meu sistema nervoso porque pensei que este bola oito nalguma altura da vida foi a um chinês comprar atacadores e à saída ainda levou daquelas bolsas fajutas por 2€ atou tudo ao que ele chama de cintura , saiu à rua e disse:
"Chega-te para lá Lourenço Ortigão. Está um novo jogador na área!! "
E assim nasceu um novo super herói.
Um herói que o povo já clamava para ter.
O Não-Vou-Comer-Uma-Gaja-Nos-Próximos-20-Anos-Man!
Ir não pinar onde nenhum homem não pinou antes!

Ruim
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«Boatemática» - Shut up, Cláudia!





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10 dezembro 2015

O melhor porta bebida do mundo

Carta entre médicos, há quase 60 anos

Carta dirigida pelo Dr. Frederico de Moura, médico e historiador de Vagos, ao Dr. Nogueira de Lemos, médico cirurgião de Aveiro, em 27 de Março de 1958:

"Meu caro Lemos,
É coisa axiomática que o pénis não obedece a freio; e é coisa de esperar que, a natureza o tenha dado a animal que lhe não obedece. Mas como a esta estuporada profissão que exercemos só aparecem anormalidades, aberrações e coisas em desacordo com a natureza, surgiu-me hoje no consultório esse rapazinho que lhe envio, com um freio de tal dureza e de tal conformação que o insubmisso pénis, tradicionalmente indomável, não teve outro remédio senão ceder. Calcule os mistérios e os paradoxos desta ladina natureza! 
Esse moço, na casa dos 20 anos com uns corpos cavernosos que devem estar isentos de qualquer esclerose ou de qualquer obstrução, e concerteza dispondo de uma libido afinada capaz de lhe fazer sair, erecto, o próprio umbigo, resolve ir para o casamento com os seus (dele) três vinténs e confirma, então a suspeita que já tinha, de que no auge da metálica erecção, o pénis fica em crossa como o báculo de um bispo, por incapacidade de vencer a brevidade e a dureza do freio que lho verga para a terra. Calculará o meu prezado Lemos, as acrobacias de alcova que este desgraçado terá de realizar para conseguir a penetração de um membro viril, quase tão torto como uma ferradura, na vagina suplicante da consorte.
De modo que o rapazinho veio pedir-me socorro, e eu condoído peço-lhe a sua colaboração em favor da harmonia conjugal, com a certeza de que por isso ninguém nos irá acoimar de chegadores. Condoa-se a cirurgia de braço dado com a medicina que, por intermédio deste fraco servidor que eu sou, já se condoeu e endireitemos o pénis torto (e nada de confusões, que não é mole pelo que me afirma o proprietário). Lembremo-nos, sobretudo, ao praticarmos esta obra, que vem aí um tempo em que um pénis destes, mesmo em arco ou em forma de saca-rolhas, nos faria um jeitão, e ajudemos o pobre rapaz que se compromete comigo a fazer bom uso dele,
emprenhando a mulher da primeira vez que o usar, depois da operação ortomórfica que o meu amigo lhe vai fazer sem sombra de dúvida.
Desculpe mandar-lhe desta vez uma tarefa fálica! Ouvi uma mulher um dia dizer que um Phallus é um excelente amuleto e que dá sorte verdadeira. Se quiser tirar a prova não tem mais que endireitá-lo... e jogar a seguir na lotaria. Desculpe, pois, a remessa de bicho tão metediço que eu por mim prometo, logo que possa, e em compensação, mandar-lhe uma vulva virgem e nacarada como uma concha de madrepérola.
Um abraço do seu amigo certo
Frederico de Moura

P.S. – Como a minha letra é muito má segundo a sua opinião, e como o assunto desta carta é muito importante para duas pessoas, uma das quais do sexo fraco, entendi do meu dever dactilografá-la. Assim, não haverá nenhuma razão para que o meu amigo diga que não entendeu o que eu queria e, por partida, deixar o aparelho na mesma ou pior ao rapaz.
Quero ainda dizer-lhe que para sua compensação, tenciono depois do êxito que o seu ferro cirúrgico vai alcançar, comunicar o seu nome à mulher beneficiada que, por certo, lhe ficará eternamente grata, ficando sempre com a sua pessoa presente na memória nos momentos – e oxalá que sejam muitos! – em que se sentir penetrada por um pénis que só o meu Amigo conseguiu endireitar. E nem sei se o Estado virá louvar a sua acção, se lhe for dado conhecimento que os filhos que saírem daquele casal são devidos em grande parte (não ao seu pénis) mas, sem dúvida, à sua mão.
E filhos com a mão nem toda a gente se poderá gabar de os fazer!
Creia-me seu afeiçoado,
Frederico
27/3/1958"

«Poesia e prosa» - Judith Teixeira

Colectânea de textos de Judith Teixeira - organização e estudos introdutórios de Cláudia Pazos Alonso e Fábio Mário da Silva.
Como refere uma nota da editora, Publicações D. Quixote, "nascida tal como Pessoa em 1888, e contemporânea de Florbela Espanca, outra mulher a quem quiseram aplicar o rótulo de «poetisa», Judith Teixeira rompeu corajosamente com o padrão do silenciamento das mulheres no contexto do Portugal dos années folles, para se tornar um sujeito activo, que desvendou o corpo feminino sem pejo. Esta nova edição traz a lume cerca de vinte poemas desconhecidos e uma conferência inédita, além de reunir as cinco obras de poesia e prosa que Judith Teixeira publicou em vida".
Em 1926, Marcello Caetano, que se tornaria presidente do conselho de ministros em 1968, escreveu na revista Ordem Nova que o livro «Decadência» era da autoria "duma desavergonhada chamada Judith Teixeira".
Um miminho oferecido por A. Maia, para a minha colecção de arte erótica, com uma dedicatória. Obrigada, A. Maia!



Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

«Incompatibilidade» - Adão Iturrusgarai


09 dezembro 2015

Vinde a nós



HenriCartoon

Arte Erótica por Mary Basset


Erotic Art by Mary Bassett: NSFW from Esoterica Art Agency on Vimeo.

«monopólio» - bagaço amarelo

No Amor, joga-se como no Monopólio, até porque se há Amor, o que se pretende é o monopólio do outro. Não da pessoa, mas precisamente do seu Amor.
Andamos por aí de mãos dadas, felizes como dois anjinhos, mas depois da casa Partida podemo-nos afastar de forma cruel. Às tantas esticamos a mão na Avenida Todi, em Setúbal, e ela já vai na Rua Augusta, em Lisboa.
O que é que queremos receber e o que é que estamos dispostos a dar? Quase nunca é o mesmo. É por isso que vamos vivendo de acordo com a sorte dos dados, à espera que de vez em quando os dois parem na mesma casa e tornem a fazer Amor. Na rua Ferreira Borges, em Coimbra, por exemplo.
É claro que a vida tem a mania de ser um problema para o Amor. Todos gostamos de passear por aí, de vez em quando, livres como passarinhos. E ainda bem, para que às vezes nos apeteça ir juntos para a casa Prisão.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Postalinho do IC2

"Este modelo do Alfa Romeo Giulietta, se já tinha umas luzes traseiras muito... interessantes, com uma das luzes fundidas ainda ganha outro simbolismo."
Paulo M.


Lógica