Pauta musical da canção «Se uma boca vou beijar» (anos 40?) com ilustração na capa de mulheres nuas a abraçarem Paganini enquanto toca violino.
Música de Paganini e letra portuguesa do actor Sylvio Vieira - edição Centro Musical Júlio da Fonseca Lda (Porto).
Oferta de Lourenço M. para a minha colecção.
Ela - Já estive loucamente apaixonada por ti, mas nunca to disse.
Eu - Nunca o disseste, porquê?
Ela - Por causa da tua namorada... não era oportuno.
Eu - E estás a dizer agora, porquê?
Ela - Porque agora já não estou. É mais fácil...
Eu - Tem piada. Nunca me pareceu que estivesses apaixonada por mim, mesmo na altura em que estávamos juntos mais vezes...
Ela - Sou muito boa a disfarçar.
Eu - Durante quanto tempo é que isso foi?
Ela - Pelo menos uma semana.
Eu - Uma semana?! Isso não é nada!
Ela - O que é que tu querias?! Que eu andasse a sofrer por ti durante anos?!
Eu - Não, mas...
Ela - Estava a brincar, pá. Nunca estive nada apaixonada por ti. Estava só a ver como é que reagias...
Um dia fomos um acaso muito interessante, na verdade continuas a ser um
acaso, que por acaso, é interessante. Por acaso, ficaste, no meio de um
multidão, um dia pediste-me algo, que não daria a muitas pessoas, o
acaso, fez-se luminoso, conversa, companhia de anos, conversas poucas
porque não são necessárias. Essas linhas tão pouco concretas que lês e
eu escrevo e sabes tão bem o sabor que eu provei.
Cinzeiro em bronze com casal em que, visto por detrás, o senhor está a colocar a mão dele no rabo da senhora.
Peça da minha colecção semelhante a esta mas com a inscrição de publicidade a uma empresa de transportes: Transportes Estefânia, com dois números de telefone.
"Preparas uma cama para nós, e eu contorno paredes num silêncio felino até estarmos, frente a frente, num espaço secreto e longínquo, que se encheu de nós, que criaste com carinho para amar, e depressa nos despojamos das vestes, depressa nos colamos com a pele na pele, depressa estamos nessa cama que fizeste apenas para se desfazer em pouco tempo quando nos misturamos um no outro, quando dizes que sim, quando no caos dos nossos corpos dizes que me amas, que és minha, e nessa cama, nesse espaço escuro contrariado por uma luz nocturna citadina que detalha as sombras, somos um no outro, exaustos na nudez, juntos no calor que nunca se explica, e noites passadas quase em branco, com as tuas cores, os teus cheiros, a viagem solitária na estrada vazia a galgar alcatrão e traços interrompidos como contínuos da velocidade, a cidade a nascer e nós já mortos de saudade, de um amanhã tão tardio, de um hoje tão longo. Dás-me comida para o caminho, e um beijo. E eu faço-me à chuva. A evaporar o teu cheiro, embalado e preenchido. E dizemos que sim, que é isso." João Geografia das Curvas
Se eu dissesse que o teu corpo moreno
tem o ritmo da cobra preta deslizando
mentia.
Mentia se comparasse o teu rosto fruto
ao das estátuas adormecidas das velhas civilizações de África
de olhos rasgados em sonhos de luar
e boca em segredos de amor.
Como a minha Ilha é o teu corpo mulato
tronco forte que dá
amorosamente ramos, folhas, flores e frutos e há frutos
na geografia de teu corpo.
Teu rosto de fruto
olhos oblíquos de safú
boca fresca de framboesa silvestre
és tu.
És tu minha Ilha e minha Africa
forte e desdenhosa dos que te falam à volta.
Francisco José Tenreiro
Francisco José Tenreiro foi um geógrafo e poeta são-tomense. Foi docente no Instituto de Ciências Sociais e Política Ultramarina, atual Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. (Wikipédia).