«Nudas Veritas»
Cristi Toderascu, Roménia, 2002, óleo sobre tela
Colecção de arte erótica «a funda São»
Do regaço da Rainha
O suave milagre brotou
O teu túrgido colo
A criança alimentou
Oculto pela blusa se adivinha
Me embriaga, me desperta
O seu calor me incendeia
Como fogo em palha seca
Na volúpia do desejo
No mar do teu colo mergulho
Aos pináculos ascendo...
Exausto de lá me despenho
E em teu regaço soçobro
Mas é no meu colo e não no teu
Onde no fim te acolhes, saciada.
As mulheres, infelizmente, têm os homens em baixa consideração. Pensam que os homens só se apaixonam pela beleza ou, em casos de menor condescendência, pensam que é por aí que tudo começa. É por isso que a maior parte delas, apesar de não se apaixonar pela beleza, quer ser bonita.
Os homens não têm a mesma necessidade de parecerem bonitos porque têm as mulheres em melhor conta do que elas os têm a eles. Eles sabem que elas os vêm como um todo e, se não forem assim tão bonitos, não faz mal. Talvez elas descubram qualquer coisa neles de que gostem (eles nunca sabem o que é).
A grande vantagem dos homens é que passam menos tempo em frente ao espelho, a grande desvantagem é que são considerados umas bestas por quase todas as mulheres, antes de qualquer outra coisa.
Uma das mulheres por quem me apaixonei nesta vida disse-me, uns dias depois de darmos as mãos e o corpo pela primeira vez, que "nem sequer estava muito arranjada no dia em que nos conhecemos" (sic). E eu, que me tinha apaixonado loucamente por uma noite inteira de sorrisos e conversa, pensei por que raio me estaria ela a dizer aquilo. Nunca cheguei a perceber.
Eu apaixono-me por tudo. É por isso que não me apaixono por quase ninguém. O tudo existe tão pouco, mesmo quando a mulher é bonita, que eu espero sempre que ela não comece por aí...
Depois do Amor, a mulher é sempre bonita...
Carregou-te 9 meses, trouxe-te ao mundo, amamentou-te, carregou-te ao colo, limpou-te o rabo, deu-te banhocas, pôs-te pó de talco daquele que cheira bem, embalou-te, educou-te, ensinou-te a ler, a desenhar, a fazer colagens de massinhas, deu-te a mão para atravessar a estrada, confortou-te quando precisaste, tirou dela para te dar e de repente uma gaja passa-te uma camisa a ferro e diz "sou mais que tua mãe!"
Ok.
Sinopse:
"À medida que penetram na escuridão da floresta, um grupo de caçadores guiados por um lobo fica cada vez mais perto da fonte do pecado original. Um conto sobre nudez e censura, envolvido em tons fantásticos, num filme todo em câmara lenta."
Esta curta-metragem ilustra na perfeição o medo do sexo e da nudez. Eu que o diga... com a minha colecção.
Amanheço com o dia. O que me distingue dele é que ainda não dormi.
Na montra duma loja chinesa, dois manequins femininos olham para mim com ar desconfiado. Estão vestidos de cores garridas e com quilos a mais de bijutaria barata. Perguntam-se porque é que, a esta hora da manhã, percorro sozinho as ruas da cidade com uma cerveja numa mão e um pão com um rissol de camarão na outra. Porque sim.
"Porque sim" é a resposta a quase tudo na minha vida neste momento, a não ser quando tenho que responder "porque não". Tenho quarenta e quatro anos e, tecnicamente, a vida nunca me correu tão mal. No entanto, acho que nunca estive tão bem. Percebo o que se passa comigo, o que me está a acontecer e o que devo fazer. Preciso de tempo e de alguma força. Os manequins chineses não merecem resposta. Avanço.
Acho que foram manequins assim que tentei engatar uma ou duas vezes, numa noite qualquer em que bebi mas não comi rissóis. É a busca do primeiro sexo, o sexo que se tem como se se jogasse computador, em busca de pontos até chegar o "game over" e ficar a olhar para um tecto branco sem palavras no corpo que queiram sair pela boca húmida da saliva alheia.
Talvez eu prefira o décimo sexo, aquele que não existe sem o décimo primeiro e por aí adiante. Aquele que deixou de ser uma reunião de tupperwares e passou a ser um vício, porque um corpo e uma presença alheia podem ser um vício quando se Ama. Quando se chega ao décimo sexo talvez se chegue ao infinito. Nunca se sabe, a não ser que não se chegue. É como a utopia.
Nas reuniões de tupperwares demonstramos que o produto é bom, funciona e merece ser comprado. No décimo sexo não demonstramos nada. Injectamo-nos de Amor nas veias e temos uma trip em que o tecto deixa de ser branco. É por isso que é o melhor, o décimo e a partir daí. Pelo menos até deixar de o ser.
O meu rissol não tem camarão mas tem muito creme. A minha cerveja não tem engate mas tem espuma. Consumo esta manhã como se consome qualquer outra coisa numa sociedade que já se chamou de consumo imediato, mas que agora se consumiu a ela mesma e parece perto de um fim qualquer. Já me apaixonei tantas vezes, talvez me apaixone mais uma um dia destes. Ou isso, ou terei o primeiro sexo dez vezes e por aí adiante.
Porque sim. Ou porque não.