20 abril 2016

«respostas a perguntas inexistentes (334)» - bagaço amarelo

A maior barreira do Amor é nós Amarmos alguém. Quando Amamos alguém que nos Ama também, a nossa percepção é a de que somos Amados da mesma maneira que Amamos. Só que isso nunca é verdade, porque somos todos pessoas bem diferentes. O Amor tira-nos a capacidade de abstracção necessária para entendermos que Amamos uma pessoa que nos Ama duma forma forte, mas totalmente diferente. Nem mais nem menos, mas diferente.
Depois vêm os problemas todos, porque duas pessoas que se Amam muito de forma diferente geram incompreensão. Apesar de se amarem, sublinho. A minha utopia é todos percebermos que o Amor se faz da incompreensão mútua e não da obediência.
Somos todos tão diferentes, que o que somos é sempre um profundo segredo para o outro. Eu sei que é difícil conviver com a incerteza de um segredo, mas se o formos contando ao ouvido de quem Amamos durante uma vida inteira, talvez se dê um Amor qualquer.
É assim que os segredos são bons, contados ao ouvido de um Amor.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Mulher na Bruma

Uma mulher na bruma,
Na bruma de mundo que é o que tem, que poucas coisas acha justas, que poucas pessoas ama e que sente ódio/amor/raiva/pena... Sente tudo que o seu coração permite, ainda que os outros se julguem no direito de dizer que não deveria...
Não se deve odiar quando o alvo é merecedor?
Não se ama quando o coração chama?
Esta mulher, quer gostar e amar deuses, escritores, analisar até ao mais infímo pormenor tudo em todos, esquecendo de si grande parte do tempo.
Dramas
Gritos
O Sono da Tristeza
Na bruma da vida e do mundo, espera pelo seu cadeirão rosa no Monte Olimpo onde se decide se Vasco da Gama chega ou não via mar à Índia, ter à sua frente a perfeição de deuses, um mundo de filosofia, de pensares.
Os opostos existem e a linha que os separa é 1000 vezes mais frágil que a linha da teia de uma aranha

Do meu mundo

Especula, São!...




17 abril 2016

Luís Gaspar lê «Respira, não fales» de David Mourão-Ferreira

Entre as duas nádegas
o pávido sulco
tem aroma de áfricas
e de uvas de outubro

Dirias que fora
um silvo de morte
a penetrar toda
a nocturna flora
até hoje intacta
que ainda aí tinhas

Respira
Não fales
Murmura
Não grites

Que travo de amoras
Que túnel escuro
Que paz no que sofres
por mais uns minutos

o pescoço vergas submissa e frágil
tal o de uma égua que vai beber água
mas encontra a lua

E junto da cama
a rosa viúva
com lágrimas brancas
já pede a meus dedos
sacudido apoio
para a viuvez
em que a deixo hoje

Muito mais a norte
os queixumes calas
E nem gemes
Gozas enquanto te invade
o suco da vara vertido no sulco

Vê como foi fácil
Respira mais fundo

David Mourão-Ferreira
David de Jesus Mourão-Ferreira (24 de Fevereiro de 1927 — 16 de Junho de 1996) foi um escritor e poeta lisboeta licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1951, onde mais tarde, em 1957, foi professor, tendo-se destacado como um dos grandes poetas contemporâneos do Século XX.

Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

«conversa 2158» - bagaço amarelo

Ela - Fiz-te um pudim daqueles que eu sei que gostas...
Eu - De pão?
Ela - Sim... o que comeste na última vez que vieste jantar comigo...
Eu - Que fixe! Obrigado. Posso ir hoje aí a tua casa?
Ela - Sim... mas o pudim não está cá.
Eu - Onde é que está?
Ela - Bem... tive que o comer porque apareceram cá uns amigos...
Eu - Então porque é que é me disseste que me fizeste um pudim?
Ela - Porque fiz mesmo. Era para saberes que me lembro de ti.


bagaço amarelo
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