11 setembro 2016

Luís Gaspar lê «Nu» de Casimiro de Brito

Nu, na minha cama de hotel,
deixo-me invadir pela memória do mel.
E choro. Choro porque não posso beber
as tuas lágrimas. Choro
porque não podes lamber
o meu sal.

Casimiro de Brito
Casimiro Cavaco Correia de Brito (Loulé - Algarve, 14 de Fevereiro de 1938) é um poeta, ensaísta e ficcionista português.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

«a pele é uma estrada» - bagaço amarelo

E eu ali, de cerveja já quente na mão a olhar para o alcatrão, com algumas feridas que me lembravam rugas próprias da velhice. Foi a primeira vez que me veio à ideia comparar o piso duma estrada com a pele de alguém mas, de facto, ambas tinham uma coisa em comum: a idade.
E ela a perguntar-me em que é que eu estava a pensar. Nada, respondi. Só então reparei que não falávamos há pelo menos meia hora. Enquanto eu me perdia no labirinto dos meus pensamentos, ela não disse uma única palavra. Manteve-se em silêncio, ao meu lado, creio que com os olhos pousados em mim.
Em alguma coisa estavas pensar, disse. Depois sorriu sem eu ver, que ainda estava concentrado numa das feridas abertas no alcatrão, a maior de todas e de onde sangravam algumas ervas daninhas.
Os meus olhos voaram pelo espaço à procura de um caixote do lixo onde pudesse colocar a garrafa e ela adivinhou. Pegou-lhe, verteu o líquido amarelo para dentro da ferida como se a quisesse desinfectar e afastou-se.
As mulheres sabem sempre onde estão as coisas que os homens não conseguem ver. Um caixote do lixo, por exemplo, que estava ali a uns dez metros. Ouvi os passos dela, depois o som do vidro a bater no plástico e os passos de novo, a regressarem, tão certos que mais pareciam o ritmo de um piano. Ainda estás a olhar para o chão, concluiu assim que voltou. E estava, agora era a espuma da cerveja que me lembrava uma onda de mar.
Não lhe quis dizer que eu sabia que dali, seguindo por aquela estrada e depois por inúmeras outras, podia chegar ao meu país, à minha praia, ao meu lugar. Se ela entendesse que eu estava a propor fazer quase quatro mil quilómetros a pé, pareceria algo absurdo. Ainda assim, senti um certo conforto com esse pensamento final.
Levantei os olhos e ela ainda sorria. Dás-me a mão? Perguntei. E ela deu. Automaticamente começámos a caminhar. Nunca percebi porque é que duas pessoas que se estão a apaixonar começam a caminhar assim que dão as mãos, mas creio que é porque se pararem a tendência é abraçarem-se. E então parei e ela abraçou-me. Estava o chão, eu, ela e as nuvens. Não sei bem quanto durou esse abraço porque deixei de contar o tempo... talvez uns dez segundos ou uns quinze minutos. Só sei que foi o primeiro.
Depois a pele é uma estrada. Percorremo-la os dois, um no outro, até chegarmos a nós. Pelas nossas rugas, a alguns milhares de quilómetros de onde tínhamos começado. Emigra para mim, mandou-me. Mas eu não esqueço de onde vim.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

PI da saúde oral


Maitena - Condição feminina 44



10 setembro 2016

Eva portuguesa - «Talvez»

Talvez afinal não exista esse tal de amor. Talvez isso não passe de uma palavra, um conceito, um sonho ou uma esperança. Talvez o tal de amor seja apenas a personificação de necessidades e desejos que não conseguimos evitar. Não quero ser cínica, amarga ou ferida. Mas também não quero ser ingénua, iludida ou desfasada da realidade. Talvez esteja apenas magoada. Talvez seja apenas sonhadora. Talvez queira apenas acreditar. Talvez saiba de antemão que não o posso fazer. Porque o amor... ah, o amor... talvez seja apenas uma desculpa para justificar as nossas fraquezas!...

Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado

3 pontos 3 traços 3 pontos


A que pinei agora parecia uma morsa a gemer. A meia foda ainda falou mas não percebi nada. Possivelmente estaria a falar em código morsa.

Patife
@FF_Patife no Twitter

«Viagra» - por Rui Felício

Uma vez telefonei ao meu amigo Victor David só para saber como ele estava.
Atendeu-me mas foi logo avisando:
- Oh pá, estou bem, mas agora vou a guiar. Vou passar o telefone à São que vai aqui ao meu lado.
- Ok, passa lá então.
Quem conhece a São, dona da Farmácia Nazareth, na baixa de Coimbra, sabe que ela tem sempre uma anedota nova para contar, que nos deixa perdidos de riso.
Sabendo eu como ela é, logo que atendeu o telemóvel, resolvi antecipar-me e, falando de forma séria, disse-lhe:
- Olá São, ainda bem que que me atendes. Vem mesmo a calhar.
- Porquê?
- Sabes, tenho vergonha de ir ao médico pedir-lhe receita e sem receita não me arrisco a ir á farmácia. É que preciso de um medicamento e tu, como és farmacêutica, podias arranjar-me esse medicamento e mandavas-me pelo correio.
A São deve ter pensado que eu estava a falar a sério e imediatamente se aprestou para satisfazer o meu pedido.
- Claro, disse ela. Diz-me qual é o medicamento e, se eu puder, mando-te já amanhã.
- É Viagra, respondi eu.
Foi então que ela percebeu que eu estava a gozar, mas recompôs-se rapidamente:
- Olha, ainda bem que me pedes isso. Saiu há dias um novo Viagra, mesmo apropriado para ti. É o Viagra em Gotas. É óptimo.
- Em gotas?!
- Sim, para ti é o indicado. Precisas disso é para os olhos, não é?
Só pode...

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Esferográfica Viagra com mecanismo
Colecção de arte erótica «a funda São»

Um sábado qualquer... - «Por que me contou?»



Um sábado qualquer...

09 setembro 2016

Postalinho de sinalética rodoviária

"Quem é que Pinoca Nelas? Fica perto...
Quero dizer, Pinoca fica mais perto! Para chegar Nelas é que fica mais longe! Mas, mesmo assim, é uma Pinoca de 11 kms!"
Pedro F. L.


«Machos» - Rubros Versos


Tiago Silva

«A primeira experiência sexual da princesinha» - Ruim

Todo o pai (ou futuro pai!) de filha (ou filhas) pensa em como será a primeira experiência sexual da princesinha. Onde? Como? Com quem? Com quantos? Isto são receios normais de uma mente masculina que passa metade do tempo a arranjar maneiras de sexualizar tudo e mais alguma coisa à sua volta. Tanto medo e receio, fruto de uma adolescência passada a escavacar sonhos de promessas não cumpridas a tanta boa menina. Se fizerem um bom trabalho de antemão, a vossa filha será bem capaz de tomar a decisão certa na altura certa. Confiem nela e nas suas opções. Se for possível, quero que a MINHA filha tenha uma primeira experiência sexual igual à minha: com uma mulher!
F#da-se, mas ando a criar alguma p#ta? Leva logo na tromba! Pai? Vai chamar pai a outro, ó rameira de esquina!

Ruim
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«Almas gémeas» - Shut up, Cláudia!




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