12 dezembro 2016
«Lágrimas de Inverno» - João
"Viesse alguém dizer que era um amor de Verão, uma travessura de corpos despidos ao ar e ao Sol, e não poderia enganar-se mais, que o Sol era privilégio de outro hemisfério e os corpos despidos, só despidos no calor de um espaço fechado e na travessura, sim, na travessura de um segredo. Na verdade, chovia. Estava frio. Não havia praia, não havia namoros de calor nos salpicos do mar, não havia trapinhos leves e esvoaçantes, o tempo era de roupa quente, de botas, de salpicos do choro das nuvens a bater nos vidros embaciados das casas, dos carros, de tudo.
A gravidade, essa gravidade que nos prende os pés ao chão, puxava-a sobre ele. Naquele momento a sua cona estava encostada a um caralho duro, incrédulo, e ela decidiu ir na gravidade. Relaxou os músculos e caiu sobre ele, deixou-se penetrar, devagar, o caralho a entrar, a sentir aquela massa pulsante dentro dela, e ele o calor, a fornalha, o impossível. Olhou-o naquele instante. Viram-se nos olhos. Vieram-se nos olhos. Se não havia praia, se não havia senão um imenso frio, havia ali a confirmação, a certeza, a garantia do que se vira nos olhos, do que as caras e os corpos gritaram. E depois com os cabelos a saudar-lhe a face, de lábios encostados ao ouvido dele, a provocá-lo, a perguntar-lhe algo que ele nem sequer percebia naquele instante, de tão espantado, de achar tudo aquilo tão impossível, tão improvável, tão desejado, tão perdido dentro dela.
E depois? Que praias e neves viriam a seguir?"
João
Geografia das Curvas
A gravidade, essa gravidade que nos prende os pés ao chão, puxava-a sobre ele. Naquele momento a sua cona estava encostada a um caralho duro, incrédulo, e ela decidiu ir na gravidade. Relaxou os músculos e caiu sobre ele, deixou-se penetrar, devagar, o caralho a entrar, a sentir aquela massa pulsante dentro dela, e ele o calor, a fornalha, o impossível. Olhou-o naquele instante. Viram-se nos olhos. Vieram-se nos olhos. Se não havia praia, se não havia senão um imenso frio, havia ali a confirmação, a certeza, a garantia do que se vira nos olhos, do que as caras e os corpos gritaram. E depois com os cabelos a saudar-lhe a face, de lábios encostados ao ouvido dele, a provocá-lo, a perguntar-lhe algo que ele nem sequer percebia naquele instante, de tão espantado, de achar tudo aquilo tão impossível, tão improvável, tão desejado, tão perdido dentro dela.
E depois? Que praias e neves viriam a seguir?"
João
Geografia das Curvas
11 dezembro 2016
«conversa 2174» - bagaço amarelo
(ao telefone)
Ela - Abraça-me, por favor.
Eu - Como?!
Ela - Com palavras.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
10 dezembro 2016
Luís Gaspar lê «Cavalo de vento» de Fernando Reis Luís
É o instante latente do corpo
No espaço dos túneis do barro moldável
Cavalos de ventos difusos
Criando os silvos da distância
Levada no sopro do pó transparente
Em flor pendular do tempo incerto
Primaveras dormentes em canções
Renovando o sangue e a linfa
Para fazer as correntes dos rios Abrindo abrigos nas
margens Em gestos de gente em abordagem.
(Poema do livro “Ipsis Verbis”. Ed. “arandis”. Ilustrações de José Maria Oliveira)
Fernando Reis Luís
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
«Surrealismo» - por Rui Felício
«Passion #1, #2 and #3» Acrílico e carvão sobre tela 45x60, 40x50 e 40x50 Charles Guyer, EUA, 2002 Colecção de arte erótica «a funda São» |
Olhos semicerrados, cambaleou até à casa de banho...
Exausta mas satisfeita.
Mirou-se ao espelho, abriu e fechou os profundos olhos pretos amendoados.
Arrancou das entranhas um suspiro cavo e iniciou lentamente as suas abluções.
Agora já bem acordada, parecia não se reconhecer na imagem que o espelho reflectia.
Porém, era ela, sim, mas estilizada, convertida em traços rígidos, cubistas, de cores garridas e chocantes, os olhos sobrepostos, as linhas suaves transformadas em formas angulosas, firmes.
Só ele, esse espelho companheiro de todos os dias, possuía a qualidade de a desnudar, de reconverter as suas formas clássicas nas imagens que ela própria , afinal, tinha idealizado minutos antes, deitada na sua cama.
Ainda com os cabelos num sensual desalinho, voltou para o quarto. Atirou-se para cima da cama, instintivamente arregaçou a roupa acetinada, e deixou as mãos vaguearem pelo seu corpo em brasa.
Fixou ansiosa os olhos no tecto, onde só ela via, estampada no estuque, em mágicas pinceladas, o rosto sorridente e meigo do seu companheiro de tantas alvoradas.
Esperando um gesto, um som, uma voz que viesse completar o quadro ainda inacabado...
Imperceptível, saia dos seus lábios entreabertos, o sussurro quase rouco de uma prece, de uma ânsia, de um chamamento.
Ela queria mais uma vez o toque inolvidável daquele que lhe moldara a imagem. Daquele que a tomara e que a recriara...
A mesma imagem que o espelho, seu recatado confidente, lhe devolvera ainda há pouco...
Alguns minutos passados e o seu coração disparou. O telefone tocou. E ela pressurosa atendeu...
Era Picasso!
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
09 dezembro 2016
Subscrever:
Mensagens (Atom)