Esta noite estava ter dificuldade em adormecer. Então pus-me a pensar nas quecas que dei. Foram tantas pachachinhas para pinar que nem sei se me desate a rir, se me ate a chorar. Foi então que me lembrei que se o Patife e o Mário Cesariny fossem um só, haviam de ter escrito todo um poemário de inigualável singularidade sexurrealista. E se o Patife e o Cesariny fossem um só, teriam criado coisinhas poéticas lindas assim:
Entre nós e as pinadas há metal fundente
entre nós e as pinadas há corpos que dançam
e podem dar-nos sorte, confortar-nos, tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as pinadas há perfis ardentes
pinadas cheias de gente de costas
altos decotes venenosos, conas por abrir
e mamas e fellatios e esperanças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha onde fornicamos
há pinadas de vida, há pinadas de morte
há pinadas imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há pinadas acesas como faróis
e há pinadas intimamente imaginadas
pinadas que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as pinadas, surdamente,
as mãos e as paredes em tremor
E há pinadas nocturnas, pinadas gemidos
pinadas que nos sobem ilegíveis à boca
pinadas diamantes, pinadas nunca escritas
pinadas impossíveis de escrever
por não termos connosco conas de violinos
nem todo o desejo do mundo, nem todo o amplexo do ar
e os dedos dos amantes escrevem
no soerguer dos corpos semi-quentes na madrugada
como se tivessem dedos de palavras
ou palavras nas extremidades dos dedos
palavras sensuais, só sombra, só soluço
só espasmos, só ardor, só solidão desfeita
Entre nós e as pinadas, os empinados,
e entre nós e as pinadas, o nosso dever pinar.
Patife
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