Do seu corpo juvenil!
O sol encharca-o de luz,
E o mar, de rojo, tem rasgos
De luxúria provocante.
Avanço. Procuro olhá-lo
Mais de perto…
A luz é tanta
Que tudo em volta cintila
Num clarão largo e difuso…
Anda nu – saltando e rindo,
E sobre a areia da praia
Parece um astro fulgindo.
Procuro olhá-lo; – e os seus olhos,
Amedrontados, recusam
Fixar os meus… – Entristeço…
Mas nesse olhar fugidio –
Pude ver a eternidade
Do beijo que eu não mereço.
António Botto António Tomás Botto (Concavada, Abrantes, 17 de Agosto de 1897 — Rio de Janeiro, 16 de Março de 1959) foi um poeta português. A sua obra mais conhecida, e também a mais polémica, é o livro de poesia "Canções" que, pelo seu carácter abertamente homossexual, causou grande agitação nos meios religiosamente conservadores da época.