27 setembro 2016
XXXL procura-se
"Estação de serviço oferece combustível a quem aparecer em biquíni"
A ver se arranjo um que me sirva...
Sharkinho
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«Projeto Mulheres» - Carol Rossetti - 57
O livro «Mulheres - retratos de respeito, amor-próprio, direitos e dignidade», de Carol Rossetti, está em venda em Portugal, editado pela Saída de Emergência.
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«Le Rendez-Vous» (o encontro)
Grande placa metálica dourada (27x35cm), assinada por Beaudoin Pinyit (1771), com a imagem em relevo de uma mulher madura a abraçar e a apalpar um seio de uma mulher mais jovem.
Uma peça deliciosa, a juntar-se a tantas outras da minha colecção.
A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...
... procura parceiro [M/F]
Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
Uma peça deliciosa, a juntar-se a tantas outras da minha colecção.
A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
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26 setembro 2016
Postalinho de Budapeste (2 de 4)
"Quem vai do castelo de Buda para o templo de Matias, pela Rua Tárnok, passa por um pequeno largo com uma fonte..."
"... com uma senhora a segurar numa bandeja de onde cai água, por cima da sua cabeça..."
"... mas, com tanta gente a passar por ali, não há ninguém que lhe recoloque o pano à cintura ou, pelo menos, alerte a coitada da senhora?!"
Paulo M.
"... com uma senhora a segurar numa bandeja de onde cai água, por cima da sua cabeça..."
"... mas, com tanta gente a passar por ali, não há ninguém que lhe recoloque o pano à cintura ou, pelo menos, alerte a coitada da senhora?!"
Paulo M.
«E assim se fez» - João
"A noite começara a cair. Já havia caído muitas vezes antes, e sabia-se que cairia muitas mais vezes depois. Mas a brisa era agradável, ondulando cabelos, a excitação era grande, arrepiando a pele aqui e ali, e com a queda da noite, cairam também as roupas, e depois sobre elas, num atabalhoamento cego, os corpos. Havia laços nas tuas meias, foram lidos pelas minhas mãos, como se elas fossem scanners que marcavam na memória todo e qualquer pedacinho do teu corpo. A noite estava toda espalhada pelo chão, pelo ar, o céu negro, e a pergunta de outrora pairava fresca, como tantas vezes antes, como tantas vezes depois. Como vamos fazer isto, perguntava. Como vamos fazer isto, perguntaste, malandra, quase ao meu ouvido, para me lembrar, para me dizer como era. Vamos fazer isto assim, pensarias tu talvez. E assim se fez.
Não sabia explicá-lo. Era sinistro e apaixonante, e a pergunta perdia valor a cada momento, deixava de ser importante saber-se como se ia fazer, conquanto se fizesse, e fazia-se, como nunca, como sempre, como nunca mais se encontraria."
João
Geografia das Curvas
Não sabia explicá-lo. Era sinistro e apaixonante, e a pergunta perdia valor a cada momento, deixava de ser importante saber-se como se ia fazer, conquanto se fizesse, e fazia-se, como nunca, como sempre, como nunca mais se encontraria."
João
Geografia das Curvas
25 setembro 2016
Luís Gaspar lê «Beijemo-nos, apenas» de António Botto
Nesta agonia da tarde.
Guarda
Para um momento melhor
Teu viril corpo trigueiro.
O meu desejo não arde;
E a convivência contigo
Modificou-me – sou outro…
A névoa da noite cai.
Já mal distingo a cor fulva
Dosa teus cabelos – És lindo!
A morte,
devia ser
Uma vaga fantasia!
Dá-me o teu braço: – não ponhas
Esse desmaio na voz.
Sim, beijemo-nos apenas,
Que mais precisamos nós?
António Botto
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
«coisas que fascinam (212)» - bagaço amarelo
A temperatura média baixou. De vez em quando chove, ainda que raramente, e o vento passeia devagar pelas ruas da cidade. Não tem nome, porque não cabe em nenhuma outra, mas é esta a minha estação preferida. Uma mistura de Outono e de Primavera. É a minha preferida porque, apesar do Sol, as pessoas precisam de agasalho.
Um abraço também é isso: um agasalho. Se não o for, não chega a ser um abraço. E passeei-me com o vento que me parecia tão só. Fui para onde ele ia sem sequer lhe perguntar porquê. Desde o dia anterior que uma frase não me saía da cabeça. "Devias ter cuidado. Estás a ficar demasiado búlgaro!". Foi uma mulher que ma disse, já eu me tinha despedido. Tomámos café e eu informei-a que precisava ficar sozinho o resto do dia. Antes de me afastar, ela atirou-a como se fosse uma lança qualquer. Uma frase pode ser uma lança? Pode.
O recreio duma escola que eu me habituara a ver deserto estava agora cheio de vida. Algumas crianças corriam e gritavam numa brincadeira que me pareceu sem sentido, outras jogavam futebol com uma bola barata e duas raparigas analisavam as raízes duma árvore que deve estar ali há mais de cinquenta anos. Curvaram-se e depois gritaram. Era um bicho qualquer que as assustou. Vi-as abraçarem-se enquanto o grito se apagava lentamente. Agasalharam-se uma à outra, concluí.
Não sei quanto tempo fiquei ali, a olhar para o pátio da escola através das grades, prisioneiro das minhas memórias de há quarenta anos atrás noutra escola, mas com os mesmos gritos sem sentido e as mesmas bolas baratas. Sei que o vento ficou comigo e percebeu-me. Somos todos tão o mesmo.
Dentro de um carro vermelho escuro, um puto qualquer fitava-me curioso não sei há quanto tempo. Fechei a mão em punho e estiquei apenas o dedo polegar. Fixe! Ele respondeu-me com um gesto igual, riu-se e escondeu-se no banco de trás.
O Chucky's Coffee House é o melhor sítio da cidade para tomar café ou, no mínimo, aquele que é mais parecido com um café português. Descobri-o num abraço há uns meses atrás durante uma visita que tive. Foi lá que o vento me levou sem eu pedir. Costuma ser assim. Quando não tenho destino, agasalho-me na memória dum abraço.
A frase foi-se.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
24 setembro 2016
«Conceito de beleza» - por Rui Felício
Nas últimas décadas, tem vindo a ser recuperado o conceito de beleza helénica, de linhas equilibradas, simétricas, suaves, expurgadas de imperfeições.
As mulheres eram apresentadas de seios pequenos, erectos, nariz atilado, lábios cheios, cabelo tratado.
Os homens, de cabelo encaracolado, olhos profundos, peitorais firmes, musculados, ventre liso e pénis pequeno.
Pelo meio dos séculos, o conceito de beleza passou por variados padrões. Todos se lembram das matronas anafadas da Renascença ou das macilentas mulheres da época romântica.
Ou dos homens rudes, guerreiros, mal lavados dos tempos da Reconquista Cristã.
Ou mesmo dos efeminados cavalheiros do séc XVIII, de cabelos empoeirados e finas pernas envoltas em apertadas meias de seda.
O belo e o feio são conceitos, são modas.
Mas, transversal a todas as épocas é o conceito imutável de que a beleza resulta mais daquilo que se é, do que daquilo que se aparenta ser.
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
«Mulher, cupido e pombas» Óleo sobre tela de autor anónimo Colecção de arte erótica «a funda São» |
Os homens, de cabelo encaracolado, olhos profundos, peitorais firmes, musculados, ventre liso e pénis pequeno.
Pelo meio dos séculos, o conceito de beleza passou por variados padrões. Todos se lembram das matronas anafadas da Renascença ou das macilentas mulheres da época romântica.
Ou dos homens rudes, guerreiros, mal lavados dos tempos da Reconquista Cristã.
Ou mesmo dos efeminados cavalheiros do séc XVIII, de cabelos empoeirados e finas pernas envoltas em apertadas meias de seda.
O belo e o feio são conceitos, são modas.
Mas, transversal a todas as épocas é o conceito imutável de que a beleza resulta mais daquilo que se é, do que daquilo que se aparenta ser.
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
Sim, sim... oh... sim...
Eu sei que sexo não é a resposta. Aliás, sexo é a pergunta. “Sim” é que é a resposta.
Patife
@FF_Patife no Twitter
23 setembro 2016
«Gentlemen da Margem Sul» - Ruim
Passam a vida a gozar com um gajo só por ser da Margem Sul e que não sabemos nada da vida do campo, dos bichinhos e das árvores, mas nós fomos pioneiros na arte de recolher gado a um curral ao pregarmos um sinal nas portas a dizer "ladies night 3 bebidas de oferta"
Ruim
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22 setembro 2016
«Volteiiiiiiiiiiiiii, linda, levíssima e solta!» - Cláudia de Marchi
Volteiiii!
Acabei de atender um cliente extremamente bonito e gostoso! Fizemos de tudo um pouco, nossa! Coisa boa! Não poderei mais atender ninguém em casa hoje. Meu lençol está literalmente molhado.
Ele finalizou na minha boca! Daí eu estava aqui com meus botões pensando, até os meus 29 anos nenhum homem tinha gozado na minha boca. Meus namorados e marido, nenhum! Eu sempre gostei, mas quando a gente é novinha tem vergonha de pedir né!?
“Ele vai achar que eu sou puta...”. A gente é meio boba quando é nova né!? E ainda cruza com uns homens pudicos e sexualmente egoístas, daí dá um, no máximo dois orgasmos por transa e se masturba o resto do tempo. Acho que gozei no mínimo 25 vezes agora com meu colega advogado lindo e habilidoso que acabei de atender. “Colega” não né?! Não sou mais advogada.
E, sinceramente, estou tão realizada que acho que não volto mais nem depois de velha. Definitivamente quero fazer isso, estudar e, depois dos 50 eu vejo o que faço. Era depois dos 45 né?! Mas a coisa está tão animante e boa que estou aumentando a vida “útil” da Simone.
Com minha genética privilegiada eu vou longe e, por que não, uns retoques estéticos quando for necessário?! Agora fico só com meus creminhos e suplementos.
Eu sou boa na minha “triagem” de clientes como cortesã. Estou, pela primeira vez na vida, acreditando na sorte! E tendo muita, muita, muita mesmo, mas, confesso, sou bastante desconfiada e astuciosa, não caio em qualquer cilada não. Segurança, acima de tudo.
Hoje comentava com meu amigo e cliente que atendi de manha sobre algumas perguntas non sense que ouço. “Você não acredita mais no amor?”, por exemplo. Gente, eu acredito no amor! Eu sou amor por mim, pela vida, pelo mundo, pelas pessoas e dou amor a cada cliente que acolho. Vocês é que estão equivocados sobre o que é o amor.
Vocês confundem “ter a companhia de alguém” com amor! Eu não quero ter alguém pra me completar ou fazer-me companhia, porque, finalmente e no auge da minha maturidade, eu me basto! É uma escolha racional e emocional e não significa que eu não creia no amor. Eu não quero, isto sim, um homem ao meu lado.
Enfim, eu não descreio do amor eu só creio convictamente que eu não preciso de ninguém para dormir ao meu lado e para eu chamar de “meu”. Eu sou minha e eu me basto. Simples e objetivamente.
Bem gente, vou tomar banho e lavar os cabelos, pois estou completamente descabelada!
Beijinhos para os meninos e um abraço para as meninas!
Simone Steffani - acompanhante de alto luxo!
Acabei de atender um cliente extremamente bonito e gostoso! Fizemos de tudo um pouco, nossa! Coisa boa! Não poderei mais atender ninguém em casa hoje. Meu lençol está literalmente molhado.
Ele finalizou na minha boca! Daí eu estava aqui com meus botões pensando, até os meus 29 anos nenhum homem tinha gozado na minha boca. Meus namorados e marido, nenhum! Eu sempre gostei, mas quando a gente é novinha tem vergonha de pedir né!?
“Ele vai achar que eu sou puta...”. A gente é meio boba quando é nova né!? E ainda cruza com uns homens pudicos e sexualmente egoístas, daí dá um, no máximo dois orgasmos por transa e se masturba o resto do tempo. Acho que gozei no mínimo 25 vezes agora com meu colega advogado lindo e habilidoso que acabei de atender. “Colega” não né?! Não sou mais advogada.
E, sinceramente, estou tão realizada que acho que não volto mais nem depois de velha. Definitivamente quero fazer isso, estudar e, depois dos 50 eu vejo o que faço. Era depois dos 45 né?! Mas a coisa está tão animante e boa que estou aumentando a vida “útil” da Simone.
Com minha genética privilegiada eu vou longe e, por que não, uns retoques estéticos quando for necessário?! Agora fico só com meus creminhos e suplementos.
Eu sou boa na minha “triagem” de clientes como cortesã. Estou, pela primeira vez na vida, acreditando na sorte! E tendo muita, muita, muita mesmo, mas, confesso, sou bastante desconfiada e astuciosa, não caio em qualquer cilada não. Segurança, acima de tudo.
Hoje comentava com meu amigo e cliente que atendi de manha sobre algumas perguntas non sense que ouço. “Você não acredita mais no amor?”, por exemplo. Gente, eu acredito no amor! Eu sou amor por mim, pela vida, pelo mundo, pelas pessoas e dou amor a cada cliente que acolho. Vocês é que estão equivocados sobre o que é o amor.
Vocês confundem “ter a companhia de alguém” com amor! Eu não quero ter alguém pra me completar ou fazer-me companhia, porque, finalmente e no auge da minha maturidade, eu me basto! É uma escolha racional e emocional e não significa que eu não creia no amor. Eu não quero, isto sim, um homem ao meu lado.
Enfim, eu não descreio do amor eu só creio convictamente que eu não preciso de ninguém para dormir ao meu lado e para eu chamar de “meu”. Eu sou minha e eu me basto. Simples e objetivamente.
Bem gente, vou tomar banho e lavar os cabelos, pois estou completamente descabelada!
Beijinhos para os meninos e um abraço para as meninas!
«Body & Soul» - Nuno Saraiva
Livro com rascunhos de ilustrações de Nuno Saraiva. Edição de 2001 da Bedeteca (Lisboa).
Exemplar doado pelo autor ao coleccionador. Na dedicatória, tem um desenho original de uma mulher nua, a dizer "eu não sou um print".
A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
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Exemplar doado pelo autor ao coleccionador. Na dedicatória, tem um desenho original de uma mulher nua, a dizer "eu não sou um print".
A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
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21 setembro 2016
«as fracas luzes da cidade indicar-me-ão o caminho» - bagaço amarelo
Entre mim e a Lua há dois números vermelhos a desafiar a noite. Um nove e um doze. Faltam doze minutos para o autocarro da linha nove chegar. É isso. Não é a linha que me pode levar ao pequeno e velho rés do chão onde vivo, mas optei por passar na casa duma mulher que não está na cidade.
É claro que, se não está, não a vou poder ver. Ainda assim, conto que a viagem me traga uma certa normalidade. É um trajecto que já fiz várias vezes a esta hora para ir ter com ela, por isso optei por fazê-lo mais uma vez. Distraio-me sempre com as luzes enfraquecidas e pergunto-me o que é que estão ali a fazer. Às vezes lembro-me da cidade de Londres num tempo em que eu não vivi, e de funcionários municipais a acenderem todas as noites os candeeiros a petróleo que iluminaram, por exemplo, os crimes de Jack O Estripador. Talvez os tenha visto num filme qualquer e nunca mais me esqueci.
Uma das sombras da cidade senta-se ao meu lado. Também está só e, mesmo que não a possa ver, percebo que é duma mulher que aperta as golas do casaco numa vã tentativa de se aquecer. Sentou-se exageradamente perto de mim e posso ouvi-la respirar. Talvez tenha medo de estar sozinha e partiu do princípio que eu, por estar à espera de um autocarro, não seja alguém perigoso como foi Jack. Procura, também ela, alguma normalidade. Gostava de lhe perguntar se alguma vez viu um filme em que homens acendem candeeiros a petróleo nas ruas de Londres, mas seria tão bizarro que não o faço.
Para ela, também eu sou apenas uma sombra. Talvez por isso me pergunte agora qualquer coisa que eu não consigo entender. Não falo búlgaro, digo-lhe. Ela cala-se. Provavelmente só queria ouvir a minha voz. Eu, pelo menos, fiquei contente por ouvir a dela.
Tenho a certeza que é bonita. Imagino-a magra, com a pele exageradamente branca e o nariz de cerâmica a ameaçar partir-se. Os lábios marcados pelo frio e alguns sinais no queixo. Talvez tenha o cabelo pintado de ruivo e olhos pretos.
O som característico do autocarro ouve-se no fundo da noite. Os faróis aproximam-se devagar como se fossem de um animal qualquer que, de tão cansado que está, pára mesmo à nossa frente respirando de forma sôfrega. Vem vazio.
Olho uma última vez para a Lua. Tenho a certeza que esteve a ler os meus pensamentos. A mulher senta-se duas filas à minha frente e vira-se durante dois segundos para me ver. Não é nada do que eu imaginei. Muito provavelmente eu também não sou nada do que ela imaginou.
Encosto a cabeça ao vidro da janela como se quisesse ouvir algum segredo vindo lá de fora. Daqui a nada saio num bairro dos subúrbios, olho para as janelas fechadas de um apartamento que pertence a uma mulher que não está e depois faço cerca de três quilómetros a pé até minha casa. As fracas luzes da cidade indicar-me-ão o caminho. Não era preciso, mas é esta a minha normalidade.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Lá vais tu
Lá
vais tu para os teus trilhos feitos por ondas. Atrás, a sólida rocha
que te ampara e que tens segura. À frente, a liberdade, o carinho da
espuma das ondas, a liberdade da linha do horizonte que tão acessível
como o fim do arco-íris...
Tens as feições queimadas do sol, tens amor nos olhos e as retinas dilatadas.
Cada
passo, cada milímetro da tua prancha conta uma história, uma história
que tu quiseste viver, que viveste ou que um dia viverás... Tens
vontades, nota-se na garra com que te jogas para o oceano, tens momentos
em que amas a vida, amas tudo, amas. Amar é tão bom... És amado, és tu,
és ele, és aquele!
ou aqui
20 setembro 2016
Temos que ser uns para os outros
«Projeto Mulheres» - Carol Rossetti - 56
O livro «Mulheres - retratos de respeito, amor-próprio, direitos e dignidade», de Carol Rossetti, está em venda em Portugal, editado pela Saída de Emergência.
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