"Foi entre garfadas de arroz com maionese de wasabi que olhei para duas crianças que estavam sentadas não muito longe, acompanhadas pelos pais, levando-me a comentar o corte de cabelo delas – as crianças -, pente zero ou perto de zero de lado, e em cima cabelo comprido como que lambido por uma vaca. Comentei: já viste o cabelo daqueles rapazes? Aquilo está muito para lá de um corte de cabelo “à foda-se”.
Nessa altura desceu em mim uma revelação. Tive uma epifania. Estamos limitados pelo foda-se. Na verdade, o foda-se é como o limite do Universo. Para lá do foda-se só está o vazio, o nada, o “não ser”. Em suma, o foda-se marca o limite. Para lá dele, verbos como ser e estar não se aplicam. São as trevas.
A língua portuguesa é extremamente rica. Tanto, que é possível dar-lhe grandes pontapés e ainda assim parecer selecto na escrita, é possível usar as entrelinhas para lá esconder palavras preciosas que pouca gente consegue ler. Na língua portuguesa tudo se diz, tudo se faz, e com grande qualidade. Mas não se conhece palavra que substitua ou vá além de um foda-se quando toca a qualificar o limite de alguma coisa. Quando tudo está perdido, está tudo fodido. Mas, se nos precipitarmos e dissermos que está tudo fodido antes de a coisa piorar, como fazemos? Há mais alguma coisa para lá de fodido? Se vemos algo de inacreditável exclamamos um sonoro foda-se. Mas e se logo a seguir virmos algo ainda mais inacreditável? O foda-se está gasto. Há alguma coisa que possa dizer-se a seguir a um incrédulo foda-se que o ultrapasse? Que lhe adicione dimensão? Valor? Não. O foda-se é um limite intransponível. Não há como estar mais fodido do que fodido. Uma foda não é cumulativa. Nós não estamos pouco ou muito fodidos. Estamos fodidos e pronto! Ninguém diz “estou muito fodido”. Ninguém diz “foda-se esta foda”. Não. Há a normalidade, há o momento do foda-se, e há o silêncio.
O cabelo das pobres criancinhas, como que lambidas pela língua de uma vaca, não pode estar para lá de um cabelo “à foda-se”. Seja isso o que for – as explicações variam -, um cabelo “à foda-se” é o limite. Se o delas, ao meu olhar, me pareceu incrível, terá sido isso, ou até menos, mas nunca além de.
O ridículo não conhece limites. A estupidez não conhece limites. Há muitas coisas que, comprovadamente, não conhecem limites. A foda sim, a foda conhece limites. A foda é o limite."
João
Geografia das Curvas
31 agosto 2012
A posta da cabeça aos pés
Ela: Porque insistes em mimar-me tanto com palavras?
Ele: Foi a única solução que os meus lábios encontraram para beijar uma parte dos teus encantos que lhes está inacessível.
30 agosto 2012
Gata em telhado...
Gabriela, telenovela da Rede Globo, de 1975
(adaptação televisiva do romance Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado)
blog A Pérola
«A Giocona» - Patife
Patife
Blog «fode, fode, patife»
29 agosto 2012
pétreo
(...) Tesões estalam. Minhas bocas abertas. Resplandecente. Gritando. Desenfeixam-se membros erectos nos bravos delírios de um ventre. Acendem-se camas embrionárias e tornam-se geometricamente vermelhas, nos bosques do erotismo, onde crescem jardins leves e ardentes, em buracos fortes, pulsantes ao som firme, nas frutas redondas que descem em bocas maduras. Numa elegância violenta. Magnífica. Expelida nos coitos e nos anais do mundo.(...)
Luisa Demétrio Raposo
Luisa Demétrio Raposo
[Blog Vermelho Canalha]
«chuva» - bagaço amarelo
Encontrei este anúncio quando pesquisava, na internet, a história duma das marcas mais emblemáticas de sempre para quem gosta de equipamento de fotografia e cinema vintage: a Bell & Howell. Em 1959, ano da revolução cubana, a Sabrina apresentava assim o novo projector de slides desta marca americana. Sinceramente, a esta distância temporal, não estou a ver quem é a Sabrina, mas percebo imediatamente a sua escolha para esta publicidade muito pouco subtil. É que os projectores de diapositivos não devem apanhar chuva. Só pode ser por isso...
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
As coisas não são sempre o que parecem
Anúncio no Japão ao Toyota Auris (conhecido como Corolla, na Europa), com o/a modelo transsexual Stav Strashko, de 19 anos, da Ucrânia.
O slogan é «Não segue a tendência, não é informal, não é para todos»
O slogan é «Não segue a tendência, não é informal, não é para todos»
É preciso não meter água!
Náiades
2 páginas (cricar em "next page")
oglaf.com
"Náiades são ninfas aquáticas com o dom da cura e da profecia e com certos controles sobre a água. Assemelhavam-se às sereias e, com a voz igualmente bela, elas viviam em fontes e nascentes ou até cachoeiras; deixavam beber dessa água, mas não se banhar delas, e puniam os infratores com amnésia, doenças e até com a morte." [Wikipédia]
28 agosto 2012
Poesia medieval dita por Luis Gaspar - «Luzia Sanchez» de João Soares Coelho
O nosso amigo da voz d'ouro, Luís Gaspar, do Estúdio Raposa, preparou uma prendinha para quem gosta de poesia: o iBook «Coletânea de Poesia Portuguesa - I Volume- Poesia Medieval, disponível no iTunes Store - Livros - Luis Gaspar por um preço que é praticamente à borla.
Deixo-vos aqui um aperitivo, «Luzia Sanchez», uma cantiga trovadoresca de escárnio e maldizer, da autoria de João Soares Coelho:
Poesia Medieval III - Luzia Sanchez from Luis Gaspar on Vimeo.
João Soares Coelho (1200-1278) foi um Rico-homem e cavaleiro
medieval do Reino de Portugal e do conselho real do rei D. Afonso III.
Luzia Sánchez, estais em grande falta
comigo, que nom fodo mais nada senão
uma vez; e, pois fodo, se Deus me valer
fique disso afrontado bem por três dias.
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.
Vejo-vos deitar comigo muito defraudada,
Luzia Sánchez, porque não fodo nada;
mas se eu com isso vos satisfizesse,
pois eu foder não posso, peidar-vos-ia.
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.
Deu-me o Demo esta pissuça cativa,
que já nem pode cuspir saíva
e, de certo, parece mais morta que viva,
e se lh’ardess’a casa, não s’ergueria.
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.
Deitaram-vos comigo para mal dos meus pecados
pensais de mi coisas tão desconcertadas,
cuidais dos colhões, que tragu’inchados,
porque o são com foder e é com doenças
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.
Deixo-vos aqui um aperitivo, «Luzia Sanchez», uma cantiga trovadoresca de escárnio e maldizer, da autoria de João Soares Coelho:
Poesia Medieval III - Luzia Sanchez from Luis Gaspar on Vimeo.
João Soares Coelho (1200-1278) foi um Rico-homem e cavaleiro
medieval do Reino de Portugal e do conselho real do rei D. Afonso III.
Luzia Sánchez, estais em grande falta
comigo, que nom fodo mais nada senão
uma vez; e, pois fodo, se Deus me valer
fique disso afrontado bem por três dias.
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.
Vejo-vos deitar comigo muito defraudada,
Luzia Sánchez, porque não fodo nada;
mas se eu com isso vos satisfizesse,
pois eu foder não posso, peidar-vos-ia.
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.
Deu-me o Demo esta pissuça cativa,
que já nem pode cuspir saíva
e, de certo, parece mais morta que viva,
e se lh’ardess’a casa, não s’ergueria.
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.
Deitaram-vos comigo para mal dos meus pecados
pensais de mi coisas tão desconcertadas,
cuidais dos colhões, que tragu’inchados,
porque o são com foder e é com doenças
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.
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