14 outubro 2013

«respostas a perguntas inexistentes (257)» - bagaço amarelo

Dizem que é preciso algum tempo para perceber se se gosta de alguém. Eu concordo que às vezes sim. Outras vezes não.
Com a Irina, por exemplo, foi uma questão de espaço e não de tempo. Por isso é que decidi em dez minutos que não gostava dela. Não gostar dela não significa detestá-la ou ter algum sentimento negativo por ela. Significa apenas que a obrigatoriedade de gostar, para poder sair com ela uma segunda vez, não se cumpriu.
A porta da pastelaria Bissau, mesmo em frente à estação de comboios de Aveiro, é pequena. Por ela passa apenas uma pessoa de cada vez. Há mais cafés ali, mas eu teimo em ir à Bissau sempre que estou naquela zona. Ela perguntou-me porquê, ao telefone, quando combinámos um encontro para eu lhe entregar um saco que uma amiga comum me pedira. Eu expliquei-lhe, sem pensar muito no assunto, que é a pastelaria mais antiga por ali.

- És um tipo estranho! - disse ela.

Fiquei a saber que era estranho eu escolher sempre os cafés e pastelarias mais antigos quando existe a possibilidade de optar. Sempre o fiz e ainda hoje o faço, pelo que me limitei a confirmar que, se por ela não houvesse inconveniente, era na Bissau que eu queria tomar café e fazer a entrega.
Quando, no dia seguinte lá cheguei, ela já lá estava. Reconheci-a pela camisola amarela que ela tinha prometido levar como sinal e, por isso, depois de me apresentar, sentei-me na cadeira em frente. Dei-lhe imediatamente o saco e iniciámos uma conversa de circunstância.
Por norma gosto muito de ter conversas de circunstância ou, como se diz por aí, conversas de treta , arrotar postas de bacalhau (nunca percebi esta), etc. Aquela também não correu mal. No que diz respeito a trivialidades, tanto eu como a Irina mostrámos alguma capacidade de comunicação. Isto para não dizer mais.
O meu problema com ela, se é que se pode chamar problema ao facto de perdermos a vontade de estar com alguém pela segunda vez, foi perceber que ela manteve sempre as pernas esticadas, de tal forma que quem queria ir à casa de banho tinha que pedir por favor para as encolher, o que aconteceu três ou quatro vezes enquanto conversámos, tanto a entrar como a sair. Eu não lhe disse nada, mas comecei a sentir-me incomodado com aquilo. Não percebia por que motivo ela não se virava um pouco e esticava as pernas para outro lado, de forma a não incomodar os clientes que queriam ir aos lavabos.
A conversa acabou e ela levantou-se primeiro do que eu para, por amabilidade, pagar a despesa toda (dois cafés e uma água com gás). Eu, depois de ter apertado bem os atacadores dos sapatos, reparei que ela tinha parado exactamente na pequena porta da pastelaria para se assoar duas ou três vezes, fazendo esperar uma mãe com duas crianças que queriam entrar.
Foi já cá fora que lhe expliquei, mais em jeito de explicação do que zangado, que gosto de pessoas com noção de espaço público. Detesto ver automóveis estacionados em segunda fila, por exemplo, da mesma forma que não suporto ver pessoal deitado em dois lugares num comboio repleto de pessoas em pé. Fico incomodado e, por norma, reajo.

- És um tipo estranho! - disse ela.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Luís Gaspar lê «Nem sequer podia…» de António Botto

Nem sequer podia
Ouvir falar no teu nome.
E se fixava o teu vulto,
Irritava-me, sofria
Por não poder insultar-te…
Até que um dia,
- Foi no inverno, anoitecia.
Chuviscava; – uma chuvinha
Impertinente e gelada
Como sorriso de ironia
Numa boca desejada.

Já não sei o que disseste;
Nem me lembro do que disse…

A chuva continuava.
Atravessámos um jardim. E à
luz fosca Dum candeeiro,
Segredaste ao meu ouvido:
Quero entregar-te o meu corpo.
E eu acrescentei: – Pois sim.

A chuva tornou-se densa. Eu ia
todo encharcado. Por fim,
chegámos; entrei…

Um marinheiro descia
Ajeitando a camisola
E compondo os caracóis.
Era uma casa vulgar,
Aonde o amor
- Oculto a todos os sóis,
Se vendia a troco da “real mola”.

Arrependi-me. Blasfemei…
Mas quando abandonei os teus braços
Senti que tinha mais alma!

E nunca mais te encontrei.

António Botto
(Concavada, Abrantes, 17 de Agosto de 1897 — Rio de Janeiro, 16 de Março de 1959) foi um poeta português. A sua obra mais conhecida, e também a mais polémica, é o livro de poesia "Canções" que, pelo seu carácter abertamente homossexual, causou grande agitação nos meios religiosamente conservadores da época.

Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

Questione

Coisas que não fazem sentido e que não farão são criadas por quê?



Quanto barulho, essa porra não faz nada? OHOHOHO

Capinaremos.com

13 outubro 2013

Missy Jubilee -«Primeiro orgasmo»


Missy Jubilee. 1st Orgasm from Missy Jubilee Films on Vimeo.

O Eleito


Aquele caramelo fez-me crer que me amava, seja lá isso o que for, ou mais coisa menos coisa é aquela sensação de uma atenção especial a que nos sentimos votados e na qual também embarquei, para tudo somado me sentir refrão do tema dos Heróis do Mar, dos longínquos anos oitenta, que apregoava que "com o amor não me mataste o desejo".

Razão tem um amigo meu que defende que as relações deviam ter prazos definidos, tal qual como as limitações de mandatos para cargos políticos dependentes de eleições. É que isto está tudo ligado porque quando esta gaja, perante a campanha empenhada do candidato o elegeu como mais que tudo do seu coração, cabeça e membros, esperava que ele não se afastasse gradualmente desta sua eleitora, que não se esquecesse de regularmente confirmar a sua atenção com aquelas coisas insignificantes como o pequeno nada de um sorriso em cada manhã e quiçá, a articulação de uma palavrinha, ou até com as ofertas triviais de canetas, isqueiritos ou qualquer plasticozinho que reforçassem a manifestação de interesse pelo conteúdo desta que nele votou .

Bem pode aquele marmanjo discursar que está aqui, como na canção do Abrunhosa, porque não me aquece nem me arrefece que os móveis também estão aqui e não me passa pela cabeça que eles me amem. Bem pode depositar o seu voto na minha urna, regularmente à mesma hora e na mesma cama que engolido assim à laia de prescrição médica, apenas me concede uma frigidez temporária.

É por isto que doravante vou passar a exigir um presta-contas semanal ou está impugnada a eleição e num estalar de dedos mudo o sentido de voto.



De arrepio

Adoro peles. Há magia nos momentos em que sentimos a de outrem como ainda mais nossa do que a propriamente dita.

Soutien «Sereia» da SRETSIS


12 outubro 2013

Homens, aprendam... a fazer pizza

«Fode-me João» - João

"Estávamos naquele quarto generoso, entre espelhos, madeira e alcatifa escura, com uma enorme cama ao centro, e tu acabada de sair de um duche, enrolada numa toalha, enquanto eu te observava encostado a uma divisória, à direita.
- E então, João? Conta-me lá o que me vais fazer.
- Hmm, vou atirar-te para cima da cama.
- Só isso? Assim? Atiras-me para cima da cama?
- Não. Vou deitar-me ao teu lado, enquanto te beijo os mamilos, e as minhas mãos passeiam por ti, sem limite de velocidade nem sentidos proibidos.
Começaste a morder o lábio, e eu prossegui.
- E depois vou virar-te de costas para mim, vou agarrar-te com firmeza, e puxar-te ora os braços, ora o cabelo, enquanto entro em ti. Umas vezes mais devagar, outras à bruta, até gemeres.
- Continua João, por favor…
- Vais apanhar umas palmadas nessas nádegas, e quando te apertar a cintura com força, puxando-te contra mim, vir-me-ei dentro de ti sem medo, porque te quero ver pingar de mim, quero ver-te escorrer entre as pernas, quero ver-te exausta, como eu.
- Vais fazer-me tudo isso João? És capaz? – e mordias de novo os lábios – não será só garganta? Marketing?
- Anda cá ver.
A tua toalha caiu, e o teu corpo foi atirado para cima da cama, e pouco depois sentias os teus pequenos lábios abrir-se, dando-me passagem, e ouvia-se baixinho «João, João, fode-me João…»."

João
Geografia das Curvas

Saleiro e recipiente que fazem um belo par

«Casal» em barro pintado que veio do Luxemburgo para a minha colecção, trazido pelo Carlos Martins.


Um sábado qualquer... - «Insónia»



Um sábado qualquer...