28 abril 2024

«Solstício» - António F. de Pina

Surgiste envolta em bruma e brisas abertas
Quando a clara manhã já estava anunciada
Mas não rasgava o ventre do amanhecer.
Trazias os olhos raiados de sol e demoras
A notar pelo brilho lento que irradiavam.
Nos teus delicados dedos trazias a urgência
Porque o dia ainda começara
E já dos teus cabelos pendiam certezas
Douradas e longas que me envolveram
Num bailado suave e belo como um beijo
Como um pássaro pequeno em doce canto.
E porque intensos eram todos os abraços
Corremos os reposteiros da manhã
Alheados da tarde e de tudo o que é finito.
Repousámos submissos de imensidão
Nos tecidos paralelos e desalinhados
Do tempo. O tempo nem sempre é grave
Porque as flores que em ti plantei floresceram
E deram frutos que amaduraram no Verão
Pois o Sol aí é infinito e quente
E as sombras verticais nunca esmorecem.

Não fosse o solstício e o dia se manteria igual.
Mas foi assim que de repente tudo entardeceu. 

«Na tarde liquefeita dos teus olhos», 2023
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