Ama-me, diz ela, crucifica-me
de amor. No chão da cama a crucifico.
Deito-a de costas, abro-lhe os braços
e prego-a até eu próprio desfalecer. Na boca
a prego, nas mãos a prego e ela agita-se
e ela sorri e ela chora e as suas lágrimas
confundem-se com a sua saliva. E ela começa
a mastigar-me. E depois
viro o seu corpo e prego-a ao centro
e então é ela que, pregada,
me devora e concilia com a Via Láctea
que a ambos submerge. E depois
deita-se de bruços e pede-me
que a sacrifique um pouco mais, na sua flor
sombria, mas eu já não tenho forças e então
sou eu quem, humildemente, se deixa
crucificar.
Casimiro de Brito
Casimiro Cavaco Correia de Brito (Loulé - Algarve, 14 de Fevereiro de 1938) é um poeta, ensaísta e ficcionista português.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
Invejo os poetas!
ResponderEliminarInvejo a sua capacidade de ver para além daquilo que vemos.
Invejo a forma como nos falam, da vida, da paixão, do amor, do sexo!
às vezes até invejo a forma como nos falam da morte...
Invejo os poetas...
Um beijo
Não invejo os poetas. Tento sê-lo.
Eliminar