27 agosto 2022

Luís Gaspar lê «Alentejano» de Florbela Espanca


Deu agora meio-dia; o sol é quente
Beijando a urze triste dos outeiros.
Nas ravinas do monte andam ceifeiros,
Na faina, alegres, desde o sol nascente.

Cantam as raparigas meigamente.
Brilham os olhos negros, feiticeiros. 
E há perfis delicados e trigueiros
Entre as altas espigas d’oiro ardente.

A terra prende aos dedos sensuais 
A cabeleira loira dos trigais
Sob a bênção dulcíssima dos céus.

Há gritos arrastados de cantigas…
E eu sou uma daquelas raparigas…
E tu passas e dizes: «Salve-os Deus!»

Florbela Espanca
Florbela Espanca (Vila Viçosa, 8 de Dezembro de 1894 — Matosinhos, 8 de Dezembro de 1930), batizada como Flor Bela de Alma da Conceição Espanca, é uma conhecida e popular poetisa portuguesa. A sua vida, de apenas trinta e seis anos, foi tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotismo, feminilidade e panteísmo.

Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

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