Estava aqui a ler-vos e lembrei-me da vez que fui fazer recolha de esperma para teste de fertilidade.
É das coisas mais constrangedoras de sempre.
Bem, para começar, não é nada do que se espera. Ia a contar com uma cave escura, cheia de veludos, álcool, recantos e espelhos, e afinal parecia um dentista.
Depois, é só casais e eles com ar de culpa. Eu como já tinha dois filhos estava todo confiançudo. Admito que olhava para eles com alguma sobranceria. E para algumas delas com espírito de missão.
Quando me chamaram, despedi-me da patroa, como se fosse para a guerra, e lá fui conduzido por uma enfermeira a uma salinha.
TV com leitor de DVDs, umas revistas, uma poltrona, uma caixa de toalhitas e, numa bandejinha dourada, um frasquinho. Daqueles do xixi.
"Quando acabar, deixe o frasco na bandeja e pode sair. Tem ali uma casa de banho", disse a enfermeira, antes de sair.
Não estava à espera de ficar sozinho.
Tinha pago 80€.
Lá fiquei, abandonado. Nem toquei nas revistas. Ainda olhei para os DVDs. Os clássicos de sempre. Também não lhes toquei.
Um tipo vai criando os seus gostos e preferências, e então saquei do telemóvel, e optei pelos que estão marcados como favoritos. Não queria estar ali muito tempo.
Bem, aquilo deu-se, um gajo tem de acertar tudo no frasquinho, parece que está a espremer o restinho da pasta de dentes.
Coloquei o frasquinho no centro da bandeja dourada e fiquei a olhar desalentado. Mal cobria o fundo. Quem faz frascos daquele tamanho? Achei que ia chumbar.
Antes de sair, parei. E se demorei pouco tempo? Qual será a média? E se chegar lá e me disserem: "JÁ?! Ai, coitada da mulher. Lucky Luke da pólvora seca..."
Optei por ficar um bocadinho mais à espera.
Quando achei que já era tempo adequado a um macho, saí do quartinho. Problema: voltar à sala de espera, onde estava toda a gente, sem me rir feito parvo.
Fiquei ali a concentrar -me e lá avancei,
mais ou menos assim.
E foi isto. Mais ou menos o equivalente aos sonhos onde estamos nus no meio da rua.
(publicado originalmente no Twitter)