P.U.T.A
Ontem desci no ponto ao meio dia
Contramão me parecia
Na cabeça a mesma reza
Deus que não seja hoje o meu dia
Faço a prece e o passo aperta
Meu corpo é minha pressa
Ouviu-se um grito agudo engolido no centro da cidade
E na periferia? Quantas? Quem?
O sangue derramado e o corpo no chão
Guria…
Por ser só mais uma guria
Quando a noite virar dia
Nem vai dar manchete (nem vai dar manchete)
Amanhã a covardia vai ser só mais uma que mede, mete, e insulta
Vai filho da puta
Painho quis de janta eu
Tirou meus trapos, e ali mesmo me comeu
De novo a pátria puta me traiu
Eu sirvo de cadela no cio
E eu corro
Pra onde eu não sei
Socorro
Sou eu dessa vez
Hoje me peguei fugindo
E era breu, o sol tinindo
Lá vai a marionete
nada que hoje dê manchete
(e ainda se escuta)
A roupa era curta
Ela merecia
O batom vermelho
Porte de vadia
Provoca o decote
Fere fundo o corte
Morte lenta ao ventre forte
Eu às vezes mudo o meu caminho
quando vejo que um homem vem em minha direção
Não sei se vem de rosa ou espinho
Se é um tapa ou é carinho
O bendito ou agressão
E se mudasse esse ponto de vista
E o falo fosse a vítima
O que o povo ia falar?
Trocando, assim, o foco da história
Tirando do homem a glória
De mandar nesse lugar
Socorro tô num mato sem cachorro
Ou eu mato ou eu morro
E ninguém vai me julgar
E foda-se se me rasgar a roupa
Te arranco o pau com a boca
E ainda dou pra tu chupar
Pra ver como é severo o teu veneno
Eu faço do mundo pequeno
E Deus permita me vingar
E Deus permita me vingar
E Deus permita me vingar
E eu corro
Pra onde eu não sei
Socorro
Sou eu dessa vez
(Citação Chico Buarque)
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
(Pra onde eu não sei)
Agonizou no meio do passeio público
(Sou eu dessa vez)
Morreu na contramão como se fosse máquina
(Pra onde eu não sei)
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
(Sou eu dessa vez)
Amou daquela vez como se fosse a última.
#niunamenos
#somostodasputas
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