18 novembro 2025

«A curva do rio» - Ana Paula Tavares

Desces a curva do meu corpo, amado
com o sabor da curva de outros rios
contas as veias e deixas as mãos pousarem
como asas
como vento
sobre o sopro cansado
sobre o seio desperto
Parte a canoa e rasga a rede
tens sede de outros rios
olhos de peixe que não conheço
e dedos que sentem em mim a pele arrepiada
d’outro tempo
Sou a esperança cansada da vida
que bebes devagar
no corpo que era meu
e já perdeste
andas em círculos de fogo
à volta do meu cercado
Não entres, por favor não entres
sem os óleos puros do começo
e as laranjas.

Vencedora do Prémio Camões 2025.
Do livro «Dizes-me coisas amargas como os frutos»

Sem comentários:

Enviar um comentário

Uma por dia tira a azia