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21 agosto 2008

Física


Fisica

Já o sabiam há muito. Era pelas leis da Física que as suas contas batiam sempre certo. Não havia equação que ficasse por resolver quando o desejo lhes falava. E era certo que estranhos fenómenos aconteciam com a proximidade dos corpos. Mãos, beijos, pele e saliva. Faziam descobrir poderosos campos electro-magnéticos que lhes controlavam movimentos, sons e vontades. Como se não houvesse sequer outra hipótese. Nada se perdia e tudo se transformava. Desafiavam teorias. Revolucionavam descobertas. Partes dele que orgulhosamente contrariavam a força da gravidade. E sistemas hidráulicos que magicamente se accionavam nela.
Depois era só juntar as variáveis e deixar fluir a termo-dinâmica do momento. Testavam-se todas as fórmulas e inventavam-se mais umas quantas.

Perverso...? Isso é relativo.

(Crimes Perfeitos)

16 agosto 2008

Yin Yang


Pic23

Ela achava intrigante e fascinante. Ele provocava-lhe aquela alternância drástica, mas tão natural, entre os dois extremos de si.
Primeiro, a tempestade. A vontade de lhe cravar as garras até magoar. As ordens urgentes... "Fode-me!". E os pedidos suplicantes... "Não pares!" As palavras ditas num misto de grito e sussurro. As pernas cruzadas em torno da cintura dele. A empurrá-lo mais e mais para dentro. Até ao limite do impossível. A necessidade de lhe sentir a força. Olhar nos olhos. Naquele momento ser apenas fêmea e macho. Com o objectivo primordial do prazer.
E depois... segundos depois, a serenidade plena. A vontade de se enroscar no colo dele. Como um gatinho. E ali descansar. E ali ficar protegida.
Inexplicável...

(Crimes Perfeitos)

11 agosto 2008

M.


M

Saíram do carro e subiram as escadas, enquanto gracejavam sobre o kitsch da decoração. Como era a primeira vez dela num sítio daqueles, quis vasculhar cada cantinho. As riscas da sua camisola brilhavam de forma estranha sob a negra luz que intoxicava o ambiente de tentação. Quando deu por terminada a busca deitou-se, esperando-o convidativamente. Brincaram e conversaram. Depois conversaram e brincaram mais ainda. A cama, aquele círculo com a medida perfeita do desejo, encheu-se de sons e de fluídos. As unhas dela cravaram-se nas costas dele. Os dentes dele marcaram-lhe o pescoço. Sem parar, o tecto espelhado replicava os dois corpos dançantes, mostrando uma imagem cruamente bela e perturbadora. Ela serviu-se de champagne no peito dele. Ele estremeceu os recantos dela com o gelo do frappé. Apeteceram-se, abusaram-se e cansaram-se. Tanto. Tudo. E no fim descansaram, ainda ligados um no outro.

04 agosto 2008

Pensamentos Aleatórios



Há um inexplicável conforto retirado do bailado tilintante dos cubos de gelo dentro do copo. Martini Bianco. Um favorito seu. É possível que a música esteja demasiado alto para as regras de boa vizinhança. Ora, que se fodam os vizinhos. Espera assim conseguir abafar os pensamentos gritantes. Debruçada na varanda, procura o que lhe diz a noite escura. Sente-a perversamente acolhedora. Mas ela preferia que estivesse frio. O frio nocturno saberia entendê-la melhor. Lá dentro, a atmosfera é adocicada pelo aroma quente do incenso. De sândalo. Também um favorito. Envolve-a o cheiro e a música. Envolve-a o fumo, eroticamente serpenteando em torno de si e do branco da camisa de dormir. Envolve-a o álcool. "Gosto de te ver bêbeda" - dissera ele uma vez por entre risos maliciosos. Mas ele não está ali. Não está. Não está. Não está. Se estivesse, já teria sido empurrado contra aquela parede. Se estivesse, já teria as calças pelos tornozelos. Se estivesse, já... Mas não está. Nunca está. E ela continua a odiar as coisas que ele faz às vezes. E as coisas que ela faz outras vezes. Porque raio teria o Destino juntado aqueles dois seres improváveis era um mistério. O Destino, esse cabrãozinho cheio de sentido de humor. E agora ela não sabe o que fazer. Quer que ele esteja ali, mais do que outra coisa qualquer, mas não sabe o que fazer. Talvez isso não fosse assim tão importante se ele ali estivesse, afinal de contas. Mas não está. E ela não sabe. Que merda. Esgota o Martini, apaga o incenso, cala a música.

Senta-se e começa a escrever... "Há um inexplicável conforto retirado do bailado tilintante dos cubos de gelo dentro do copo..."