O sol ia já alto quando ela acordou.
Pelas frinchas da janela, farpas muito finas de luz intensa diziam-lhe o quanto havia perdido do dia. Olhou para o relógio e expirou uma expressão de desagrado.
Deitou a mão à cabeça.
- Que dor!...
Embora tivesse dormido o suficiente, tinha a consciência que bebera demais e ainda sentia o cansaço no corpo.
Tudo fora em espiral.
A reunião na capital na sede da empresa.
O jantar com os colegas, a ida à discoteca. Os uísques bebidos, primeiro um devagar e depois uns atrás dos outros, sem gelo e puros.
O colega que finalmente a abraçara.
Tantos meses de corte disfarçada e ontem à noite, nos meio dos copos, lá se tinha decidido.
Dançaram juntos numa música que pedia o corpo aos pulos.
Mas entregaram-se um ao outro a um canto da discoteca, longe dos olhares conhecidos.
- Sabes o que gosto de ti - dissera ele.
Eu mantive-me calada e quase sem querer apertei-o mais contra mim. Senti-o homem debaixo da roupa enquanto seguíamos vagamente os sons que enchiam o espaço.
Encostou a boca ao meu ouvido e disse baixinho:
- Posso dizer que te amo?
Não lhe respondi. Toda eu fervia por dentro. Há muito que também o desejava, mas temos de manter posturas e além do mais...
Mas agora, longe da nossa cidade, com quartos de hotel pegados, era tudo diferente.
Beijámo-nos e marcámos o encontro para daí a meia hora no quarto dele. Mesmo ali ao fundo do corredor onde eu tinha o meu. Primeiro sairia ele, e depois de um quarto de hora sairia eu.
Nem esperei tanto tempo.
Apanhei o táxi a seguir ao dele e, quase ao mesmo tempo, entrámos no quarto.
Os nossos corpos em efusões etílicas desinibidoras. Eros a puxar-me as roupas nas pontas dos dedos dele e Afrodite pendurado nos meus lábios, preenchendo-lhe os desejos.
Ele desceu em mim. Passou toda a boca pelo meu corpo, fazendo-me estremecer de prazer. Mordeu-me os mamilos, o pescoço. Puxou o cabelo, fazendo rodar a cabeça e afundou os lábios na zona da nuca, passando depois para os lóbulos das orelhas, enquanto a sua mão continuava navegando nos meus infinitos.
Nave espacial rainha das galáxias do meu corpo em viagens rumo ao Éden...
Jamais me lembrara de sentir-me tão bem com um homem.
Falava-me ao ouvido murmurando palavras soltas.
Curtas frases que me enlouqueciam e faziam arrepiar todo o meu ser.
Parou um pouco e olhou-me nos olhos semicerrados. Riu-se e entregou os lábios nos meus. Encostou-me o seu corpo e senti-lhe todo o calor e cheiros de macho.
Pôs os braços debaixo dos meus, pegando-me na cabeça na concha das suas mãos, imobilizando-me em chave de combate, peito com peito, e os corações a baterem acelerados em uníssono e lábios em sinfonia livre...
Penetrou-me com todo o saber, como se tivesse sido sempre o meu mestre e como se o meu corpo não tivesse segredos.
Foi a melhor noite de sexo da minha vida. Queria repetir aquele momento para sempre.
Nunca pudera supor algo tão maravilhoso. Queria aquele homem para mim eternamente.
Levantei-me e ainda antes do duche teria de resolver algo.
Peguei no telemóvel.
- Sim?... Olá, filha. Então como passaste o dia de ontem?... Ai que bom... Escuta, amor... - Fez-se notar o peso duma pausa.
Durante um instante tudo ficou pendurado.
Depois continuou:
- Podes ir chamar o pai?
CharlieO
Mano 69 propõe um final feliz (?!):
"- Podes ir chamar o pai?
Enquanto esperei que o corno-sempre-eterno se fizesse ouvir no altifalante do meu telemóvel semicerrei os olhos e um flash-back da noite passada imergiu nos meus pensamentos. Senti novamente a volúpia do amor à solta na discoteca e o sexo surpreso na cama desalinhada.
A voz pastosa do pai da minha filha ressoou no meu ouvido direito levando-me a voltar à normalidade, tendo aproveitado para tirar o brinco da orelha e abrir a boca de tédio.
- Sim?
- Estou a ligar-te para dizer que a partir de hoje é oficial, pois vou entrar com os papéis do divórcio.
- Mas... querida - balbuciou o marmanjo - agora... já... eu... até estava a fazer um vol-au-vent de lagosta para o almoço.
- Lagosta?! Mais não, obrigado. Ainda ontem a comi... suada.
To be conatinued"