Que eu Zeca marinheiro
Fui passear ao Bairro Alto
Pelas ruas todas estreitas
Não há nenhuma direita,
Avistei um lindo salto.
No meu deambular tosco
Confesso-me convosco
Não esperava encontrar
E o pé que a trazia
De perna em maravilha
Quase me deixou sem ar.
Fui-me eu logo a ela
Parecia um barco à vela
A vencer o alto mar.
Acendeu-se o Sol lampeiro.
Neste peito de marinheiro
Todo o corpo a navegar.
Mas mal eu me cheguei
Hesitei e gaguejei
Não me saiu o piropo
Ela era um só brilho
Seria Mãe dos meus filhos
O assobio morreu num sopro.
Ela olhou para mim
Riu-se de eu estar assim
E lá seguiu o seu rumo.
E eu cara de parvo
Acendi um cigarro.
Enevoei-me todo em fumo.
Mas logo recuperei
Da nuvem densa saltei
Fui fugindo atrás dela.
Corri ruas e calçadas
Dei as voltas sem ver nada
Sumiu-se névoa nas vielas.
E então eu Ser perdido
De coração todo ferido
Procurei uma distracção
Andei mais duas vielas
Aquela porta amarela
Era o bordel da dona São
Entrei escuro e ela dona
Sabedora e matrona
Leu logo a minha alma
Disse-me "lindo menino
São as coisas do destino
Tens de pensar com calma"
E então eu desejoso
Corpo em raiva e fogoso
Perguntei-lhe novidades.
"Tenho ali coisa nova
É linda já a provas
É moça em tenra idade
De momento ocupada
Fica livre daqui a nada
Espera só um bocadinho"
Soou perto uma risada
Uma voz meio abafada
Mesmo atrás do paninho.
Afastei a atenção
Da atenta dona São
E desviei o cortinado
E o que vi deixou-me assim
Completamente fora de mim.
O tesão caiu p'ró lado.
Lá estava deitada em cu
Em cima dela um gabiru.
O meu sol a minha lua
Seria a mãe dos meus filhos
Arranjei um tal sarilho
Fui corrido p'ró olho da rua.
Decidi vingança ali
E sem mais resolvi
Engatar à força bruta
Naquele bairro estou a ver
não é preciso escolher:
Cada gaja é uma puta
Passou uma e eu logo
Deitei-lhe a mão em fogo
E levei uma estalada.
Passei a noite na pildra
De algemas triste vida
Era mulher-polícia na esquadra
Contei isto a um velhote
Ele disse: "Rapazote.
Ouve o conselho deste Poeta
Quando estiveres aflito
Nota bem o que fica dito
Bate antes uma punheta..."
Charlie