03 janeiro 2006

Fado triplicado do marinheiro desgraçado - por Charlie

Foi no primeiro de Janeiro
Que eu Zeca marinheiro
Fui passear ao Bairro Alto
Pelas ruas todas estreitas
Não há nenhuma direita,
Avistei um lindo salto.

No meu deambular tosco
Confesso-me convosco
Não esperava encontrar
E o pé que a trazia
De perna em maravilha
Quase me deixou sem ar.

Fui-me eu logo a ela
Parecia um barco à vela
A vencer o alto mar.
Acendeu-se o Sol lampeiro.
Neste peito de marinheiro
Todo o corpo a navegar.

Mas mal eu me cheguei
Hesitei e gaguejei
Não me saiu o piropo
Ela era um só brilho
Seria Mãe dos meus filhos
O assobio morreu num sopro.

Ela olhou para mim
Riu-se de eu estar assim
E lá seguiu o seu rumo.
E eu cara de parvo
Acendi um cigarro.
Enevoei-me todo em fumo.

Mas logo recuperei
Da nuvem densa saltei
Fui fugindo atrás dela.
Corri ruas e calçadas
Dei as voltas sem ver nada
Sumiu-se névoa nas vielas.

E então eu Ser perdido
De coração todo ferido
Procurei uma distracção
Andei mais duas vielas
Aquela porta amarela
Era o bordel da dona São

Entrei escuro e ela dona
Sabedora e matrona
Leu logo a minha alma
Disse-me "lindo menino
São as coisas do destino
Tens de pensar com calma"

E então eu desejoso
Corpo em raiva e fogoso
Perguntei-lhe novidades.
"Tenho ali coisa nova
É linda já a provas
É moça em tenra idade

De momento ocupada
Fica livre daqui a nada
Espera só um bocadinho"

Soou perto uma risada
Uma voz meio abafada
Mesmo atrás do paninho.

Afastei a atenção
Da atenta dona São
E desviei o cortinado
E o que vi deixou-me assim
Completamente fora de mim.
O tesão caiu p'ró lado.

Lá estava deitada em cu
Em cima dela um gabiru.
O meu sol a minha lua
Seria a mãe dos meus filhos
Arranjei um tal sarilho
Fui corrido p'ró olho da rua.

Decidi vingança ali
E sem mais resolvi
Engatar à força bruta
Naquele bairro estou a ver
não é preciso escolher:
Cada gaja é uma puta

Passou uma e eu logo
Deitei-lhe a mão em fogo
E levei uma estalada.
Passei a noite na pildra
De algemas triste vida
Era mulher-polícia na esquadra

Contei isto a um velhote
Ele disse: "Rapazote.
Ouve o conselho deste Poeta
Quando estiveres aflito
Nota bem o que fica dito
Bate antes uma punheta..."


Charlie

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