(A Gotinha tudo descobre)
"Dois homens-comboio, com mulher-maquinista" - Charlie
"A tracção fatal" ou "o engate" - São Rosas
"Smirnoff a trois" - Macaco Adriano
"Se foder não beba..." - Seven
...adoço-te a boca,
aguço-te o desejo...
A sua presença impunha-se pelo corte de cabelo, o pólo Sacoor ou Giovanni Galli, o vinco das calças e um perfume da Boss, com o ar triunfante de quem vai pelo menos três vezes por semana ao ginásio e faz as comprinhas todas na centralidade do Corte Inglês.
Era fácil notá-lo assim alto e espadaúdo naquela vernissage de um artista plástico em ascensão, de alguma forma acentuado pela voz de cama com que pronunciava com licença e obrigado ao pegar nos mini-croquetes ou tostinhas com patê, antes de os deglutir.
Entre um sumo de laranja e um moscatel de Setúbal geladinho, consegui averiguar que aquele segmento percebia tanto de pintura quanto eu entendo de costura ou bordados, embora a amizade mantida desde a infância com o autor o obrigassem a comparecer ali e, além do mais, a sua voz continuava macia como pêlo de gato e assustadoramente quente como chocolate derretido.
Deixei-o debitar um rol de frases feitas sobre o sol, a praia, melhores sítios de férias até que alguns erros de pronúncia me perfuraram os tímpanos. Não estava no meu plano levar o corrector ortográfico para a cama mas sou obrigada a reconhecer que mesmo na pressa de apalpar a carninha toda a um gajo, colar a pele dele à minha e absorvê-lo como água de um cantil, não sujeito os meus ouviditos a fífias.
Fugi a pretexto de um amigo acabadinho de chegar porque, definitivamente Sãozinha, ele não era o meu target.