13 janeiro 2006

Dores de cabeça de todas as cores

– Outra? – perguntou ele, beijando-lhe o pescoço.
– Ainda te aguentas? – atirou ela, com um sorriso trocista.
– Porra... – sentiu-se ele, franzindo o cenho. – Se aguento?
E, de um salto, pôs-se de joelhos em cima da cama, segurando no órgão viril, que estava um pouco ensimesmado.
– Ó rapaz, isso já está como há-de ir! – Ela riu-se. – Outra? Só se for com os olhos!
– Já levanta – disse ele, esperançoso, afagando o órgão que não lhe respondia. – Já levanta...
– Ensimesmado é uma boa definição – afirmou ela – estranha, mas correcta. Isso está mesmo meditabundo, recolhido.
– Qual recolhido, qual carapuça – aborreceu-se ele, que até era circuncidado. – Espera aí... Espera aí um momento que já te dou outra!
– Um momento? – Perguntou ela, irónica, olhando o aspecto encolhido e caduco do recalcitrante membro.
– Estás a gozar, Patrícia? – perguntou ele.
– Não... – ela não conseguiu conter um risinho, que lhe doeu como a broca de um dentista: uma dor aguda, forte, insuportável.
– Estás a gozar!? Vais ver! Vais... – Afogueado, ele não conseguiu acabar a frase e parou para controlar a respiração.
– Estava a brincar, chefe – esclareceu ela.
Ele só abanou a cabeça, enquanto respirava fundo.
– Estás bem? – Inquiriu ela, dando-lhe a mão; ele acenou com a cabeça que estava. Ela largou-lhe a mão, deu-lhe um chocho e informou:
– Vou-me lavar.
O chefe deixou-se cair para a frente, descorçoado.
– Achas que compre Viagra? – perguntou ele, com um suspiro.
Ela pensou na quantidade de desculpas que teria de inventar para o manter à distância se ele comprasse os comprimidos azuis, "tinha de ter dores de cabeça de todas as cores", estacou a caminho da casa de banho, virou-se, olhou-o nos olhos, fez o seu sorriso mais idiota, que o derretia imediatamente e declarou açucarando a voz:
Neque semper arcum tendit Apollo.
E ele, sem perceber nada para além do sorriso idiota que tomava por lúbrico e da voz melosa que lhe soava como uma melodia, sorriu e descansou: Ainda era homem para ela.

(Para todos vós que possuís a cultura de um servidor da coisa pública no topo da carreira, sempre direi que a locução latina acima utilizada é de Horácio (Odes, II, 10,19) e pode-se traduzir como "nem sempre mantém Apolo retesado o seu arco")

de Garfiar, só me apetece

Sem comentários:

Enviar um comentário

Uma por dia tira a azia