Tinha nesse tempo um apessoado namorado, razoavelmente mais velho que eu, dono de um automóvel espaçoso. Estranhamente ele mandara substituir o volante de origem, que dizia ser demasiado grande, por outro de reduzidas dimensões, sob pretexto de ter um ar mais desportivo. Limitava-me a observar sem nada entender, ingenuamente supondo que ele pretendia um maior espaço para a sua estimada barriguinha de trintão.
- Experimentamos aqui?!
- Anda, a esta hora não vem ninguém…
Confesso que o desafio também me fez um brilhozinho nos olhos. Sem necessitar repetir o convite, com acelerados preparativos, saltei para cima dele. Estávamos super entusiasmados com a experiência maluca, que para mim era estreia. Devido ao meu posicionamento sobranceiro, competia-me acelerar os movimentos. Porém, no auge do nosso entusiasmo, soltei um apavorado e valente berro acompanhado de ensurdecedora buzinadela... Assustados, refugiámo-nos em apertado e ofegante abraço… É que sem querer, o meu rabinho acertara em cheio no reduzido volante, accionando a buzina por alguns segundos…
Momentos volvidos, refeitos do susto e entre tresloucadas gargalhadas, apressámo-nos a desembaciar o pára-brisas e a abandonar o local, não fosse algum vizinho com insónia, ser despertado na sua curiosidade de voyeur.
A experiência acabou por não correr mal de todo, mas, só após este episódio é que eu realmente entendi, o verdadeiro e secreto motivo da troca de volantes…
Papoila_Rubra / Março de 2006