por Charlie...Se soubesses como sinto a tua ausência… Como me custa mais este dia sem fazer amor contigo...Olhou para o relógio só mais uma vez detendo o olhar vagamente no saltar regular do indicador dos segundos. Os outros ponteiros acusavam já o acerto das duas da manhã e embora tivesse olhado por várias vezes instintivamente para o mostrador não se havia compenetrado da hora.
Tinha passado toda uma noite em completa solidão.
À sua volta, todos se riam e conversavam.
Papéis de prendas espalhados pelas mesas e pelo chão.
Toda a gente feliz. De copos erguidos em brindes e chalaças, e os corpos rendidos ao toque mais chegado do momento mais doce em que as línguas misturam o borbulhar do espumante com a lascívia duma lampreia escorregando no seu ser de fios de ovos.
Levantou-se e, reparando que ninguém reparava, pegou no seu copo, encostou-o ao gargalo inclinado da garrafa e saiu, depois de tê-la deixado em cima da mesa numa posição mais consentânea com o seu estado livre da rolha.
Lá fora estava um desses frios... Arrepiou-se, enterrou-se no sobretudo e bebeu um trago da bebida fresca que de repente lhe transmitia uma estranha mas confortável sensação de calor.
Levantou o copo e, apontando vagamente para um dos pontos cardeais, fez um brinde a essa a quem tanto amava.
- Ai, minha linda! Como queria agora estar contigo, minha querida... meu amor. Se soubesses como sinto a tua ausência... Como me custa mais este dia sem fazer amor contigo, sem o prazer dos teus lábios nos meus e todo o sabor do teu corpo, esse poema divino. Ai como me custa todo este sofrer. Todo este querer e não ter… -
Abriu o telemóvel e leu mais uma vez a sua última mensagem, viu todas as fotos, companhia de todas as horas do dia e beijou-as docemente. Ergueu o braço e voltou a olhar para o conteúdo do copo. - A ti, meu amor, minha querida... -
Depois, de um só sorvo bebeu o resto. Sabia-lhe amargamente bem sentir a angústia dissipar-se no céu do seu estado etílico, perdido algures entre o olhar mortiço e as duas estrelas que tinham escapado à neblina intensa dessa noite de Natal.
Acordou de repente com o ruído que lá de dentro invadiu a quietude da noite.
A porta da sala que dava para o jardim estava agora entre aberta e uma silhueta feminina aproximou-se dizendo: - Ah! Estás ai. Anda para dentro... Está muito frio. Andavam à tua procura e ninguém sabia de ti...
Por onde andavas?...
O teu marido já estava preocupado contigo, Mariana...-