14 janeiro 2007

"multidão de voyeur, babando por deusas impossíveis"

Desconhecia este texto de 1999 publicado no Jornal de Araraquara e não resisto a publicá-lo na íntegra. O que Arnaldo Jabor diz da mulher brasileira (e dos homens) aplica-se totalmente à mulher portuguesa (e aos homens):

Opinião
A política está tão repulsiva que hoje vou falar sobre sexo
Arnaldo Jabor

Outro dia, a Adriane Galisteu deu uma entrevista dizendo que os homens não querem namorar as mulheres que são símbolos sexuais. É isto mesmo. Quem ousa namorar a Feiticeira ou a Tiazinha? As mulheres não são mais para amar; nem para casar. São apenas para "ver". Que nos prometem elas, com suas formas perfeitas por anabolizantes e silicones? Prometem-nos um prazer impossível, um orgasmo metafísico, para o qual os homens não estão preparados. As mulheres dançam frenéticas na TV, com bundas cada vez mais malhadas, com seios imensos, girando em cima de garrafas, enquanto os pênis-espectadores se sentem apavorados e murchos diante de tanta gostosura. Os machos estão com medo das "mulheres-liquidificador".
O modelo da mulher de hoje, que nossas filhas ou irmãs almejam ser (meu Deus!) é a prostituta transcendental, a mulher-robô, a "Valentina", a "Barbarela", a máquina-de-prazer sem alma, turbina de amor com um hiperatômico tesão.
Que parceiros estão sendo criados para estas pós-mulheres? Não os há. Os "malhados", os "turbinados" geralmente são bofes-gay, filhos do mesmo narcisismo de mercado que as criou. Ou, então, reprodutores como o Zafir para o Robô-Xuxa.
A atual "revolução da vulgaridade" regada a pagode, parece "libertar" as mulheres. Ilusão à toa. A "libertação da mulher" numa sociedade escravista como a nossa deu nisso: super-objetos. Se achando livres, mas aprisionadas numa exterioridade corporal que apenas esconde pobres meninas famintas de amor, carinho e dinheiro. São escravas aparentemente alforriadas numa grande senzala sem grades. Mas, diante delas, o homem normal tem medo. Elas são "areia demais para qualquer caminhãozinho".
Por outro lado, o sistema que as criou enfraquece os homens. Eles vivem nervosos e fragilizados com seus pintinhos trêmulos, decadentes, a meia-bomba, ejaculando precocemente, puxando sacos, lambendo botas, engolindo sapos, sem o antigo charme "jamesbondiano" dos anos 60. Não há mais o grande "conquistador". Temos apenas os "fazendeiros de bundas" como o Huck, enquanto a maioria virou uma multidão de voyeur, babando por deusas impossíveis.
Ah, que saudades dos tempos das "bundinhas e peitinhos" "normais" e "disponíveis"... Pois bem, com certeza a televisão tem criado "sonhos de consumo" descritos tão bem pela língua ferrenha do Jabor (eu). Mas ainda existem mulheres de verdade. Mulheres que sabem se valorizar e valorizar o que tem "dentro de casa" , o seu trabalho. E, acima de tudo, mulheres com quem se possa discutir um gosto pela música, pela cultura, pela família, sem medo! De parecer um "chato" ou um "cara metido a intelectual".
Mulheres que sabem valorizar uma simples atitude, rara nos homens de hoje, como abrir a porta do carro para elas. Mulheres que adoram receber cartas, bilhetinhos (ou e-mails) românticos. Escutar no som do carro, aquela fitinha velha dos Bee Gees ou um CD do Kenny G (parece meio breguinha)... mas é tão bom! Namorar escutando estas musiquinhas tranqüilas.
Penso que hoje, num encontro de um "turbinado" com uma "saradona" o papo deve ser do tipo: - "Meu... o professor falou que eu posso disputar o Iron Man que eu vou ganhar fácil." "- Ah, meu... o meu personal trainer disse que estou com os glúteos bem em forma e que nunca vou precisar de plástica." E a música? Só se for o último sucesso(???) dos Travessos ou Chama-chuva... e o "vai Serginho"?
Mulheres do meu Brasil Varonil! Não deixem que criem estereótipos! Não comprem o cinto de modelar da Feiticeira. A mulher brasileira é linda por natureza! Curta seu corpo de acordo com sua idade, silicone é coisa de americana que não possui a felicidade de ter um corpo esculpido por Deus e bonito por natureza. E se os seus namorados e maridos pedirem para vocês "malharem" e ficarem iguais à Feiticeira, fiquem... Igual a Feiticeira dos seriados de TV. FAÇAM-NOS SUMIREM DA SUA VIDA!

Equívoco entre compadres


ois alentejanos machos deitados na mesma cama:
- Ó Compadre, você tá batendo uma pívia?!
- Pois tou!
- Mas a picha é minha!
- Ó porra, por isso é que não me vinha!

(enviado por Bruno B.)

13 janeiro 2007

E do céu caiu uma estrela...


Olha.... afinal não foi do céu!!...



Frank

Cinco Sentidos*

Foto de Adrian

Viajávamos na auto-estrada e já havia algum tempo que não nos tocávamos como gostamos. O desejo crescia em mim e levei-te a mão fria para a perna. Resolvi colocá-la mesmo debaixo, aparentemente apenas para a aquecer.
E ali me deixei ficar com a mão serenamente.
Em seguida, sinto-me a passear por recordações de nós e carros... Aquela vez em que saltei para cima de ti depois de um almoço na Costa, no parque de estacionamento, tendo cavalgado até me vir... ou quando desviámos para o descampado no Meco, em que fizemos algo de parecido... E as vezes todas em que passeámos pelas ruas da cidade enquanto eu te fazia um broche e tu me apalpavas a ratinha e me enfiavas um dedo no... rabo... Huumm...
Não sei porquê, mas tocar-te faz-me despertar todos os sentidos...
Claro que a minha mão ficou com "bicho carpinteiro"... e deslocou-se para entre as tuas pernas. Eu tinha que sentir o teu pénis, o meu brinquedo preferido.
"Huummm, está tão bom! Deixas-me dar-lhe um beijinho, deixas?"
Olhaste para trás, decerto para veres se vinha alguém. E consentiste. Abri-te as calças, deitei para fora o objecto do meu desejo naquele momento e baixei-me para o cheirar e lamber. Estavas molhado e duro, mesmo como eu gosto. Lambuzei ainda mais a ponta e enfiei-o todo na minha boca. Simultaneamente, agarrei e acariciei os tomates e fiz com que me fodesses a boca, através de movimentos de entrada e de saída do pau, fazendo com que tocasse no céu da boca e a língua na base. Sussurraste que levantasse a cabeça porque querias ir à estação de serviço.
"Precisas de pôr gasolina?"
Não respondeste, mas passaste a zona das bombas e desviaste para onde havia outros carros com os vidros embaciados, posicionando-nos onde não poderiam ver-nos, onde apenas imaginariam o que estávamos a fazer. E aí respondeste à minha pergunta:
"Quero mexer um bocadinho".
Levantaste-me a saia, enfiaste a mão pelos collants e voltei a inclinar-me para te abocanhar. Sentiste-me molhada e lambeste os dedos ao som das minhas chupadelas deliciadas.
Fiz-te vir em pouco tempo: era com sofreguidão que a minha garganta e língua pediam o teu esperma, inspiradas pelo teu cheiro, os meus ouvidos os teus gemidos de êxtase, a minha visão os teus espasmos, o meu tacto a sensação de molhado com que se fica depois de actuações magistrais de tão sublime mimo...

* já tinha sido publicado, ainda que tenha tido algumas correcções, na 1ª versão, entretanto desactivada, daqui.

crica para visitares a página John & John de d!o

Fonte leiteirosa


Outras Coisas

12 janeiro 2007

Bom fim de semana!

Clica para veres a seringa com mais minúcia

fotografia - Igor Amelkovich

O começo - por Leonor de Saint Maurice

"Ficámo-nos pelas 3.15 de uma noite já chuva. As noites de gatos selvagens, das flores de pele, nas virtudes sentidas das veredas da vida. Não era tempo de partir. Difícil largar as mãos que me aqueciam as luas, roubavam beijos famintos em duas bocas esquecidas no mapa de tábuas escritas, que partilhavam já os segredos, os murmúrios e as falas pequenas.
Partíamos sim para encruzilhadas vadias, temendo o escuro mas acolhendo as madrugadas, debaixo das terras frias de uma parte qualquer do nosso universo. Calámos o amanhã em goles de vodka, riscámos calendários dos dias de nortes vários, abrigámos os silêncios em céus de estrelas. Era a nossa noite. A noite que dividia o passado do sabor dos dias, na manteiga mole das tuas febres, dos meus desvarios.
Passeámos na praia de todos os amores, agarrados à cintura das estrelas, dos caminhos simples de todos os amantes e mergulhámos nas histórias lindas de luzes explodidas à beira do rio. Eram músicas que nos acompanhavam no respirar das coisas, areias que invadiam os nossos lugares, laranjas que suavam odores de inverno, em paisagens carregadas de monotonia.
Era a vida que preenchia os nosso lugares vazios, preenchia as vontades de todas as mãos do corpo e devolvia o sabor das uvas ao passo dos pés cansados de quem o bebia.
Certo era, que todas as gaivotas que dormiam sobre as ondas daquele mar que nos guardava, calado e sapiente, eram testemunha das palavras escritas em ventos do lado de lá da margem, que nos separavam daqueles que apenas remam destinos rotulados e sempre mesmos.
Lá longe, um farol que lembrava as almas esquecidas de um temporal que resistia às veleidades terrenas e apontava a luz que nos entontecia, rosto no ventre, aquecido e apaziguado na calma da alma. Eram 8 da madrugada, e o que restava de uma noite vivida ao segundo, esvanecia-se na luz que nascia.
Permaneci sempre acordada, sentindo o pulsar da tua vida no meu peito, até ao sol nascer e acordar a cidade. E as gaivotas da nossa praia encontrada anunciavam uma nova alvorada. Uma vida levantava-se ao raiar de um ano que prometia sonhos e ilusões, mesmo ali, na ponta dos pés, despontava."

Leonor de Saint Maurice (a nossa Fresquinha)
Blog A Mulher do Próximo

CISTERNA da Gotinha

Esta Elizabeth Hurley continua em forma. Grr... que inveja!

Apanhados com um
fio dental.

Que não seja pela falta
de exemplos...

Galeria fotográfica da cubana
Eva Mendes.

A Jazmine Lyn enganou-se no tamanho da camisolita...

Dar à Luz



Outras Coisas

11 janeiro 2007

Paisagens Reconfortantes









Barbara

Sexualidade das pessoas com deficiência

logotipo da luta A Matahary deixou-nos há dias nos comentários esta notícia do Correio da Manhã sobre a experiência e as preocupações do pai de uma rapariga de 32 anos, autista e doente bipolar que, como qualquer mulher, tem desejos e anseios sexuais. Mas, como ela tem uma doença severa e é incapaz de manter uma conversa, nunca teve relações sexuais. Mesmo tendo uma forte capacidade afectiva, como constatam os pais: "Percebíamos que ela gostava deste ou daquele rapaz e encarávamos com naturalidade. Ela é uma rapariga extremamente afectuosa e é muito fácil as pessoas gostarem ou aproximarem-se dela."
O problema, segundo estes pais, é não haver grupos de auto-ajuda entre as famílias dos deficientes.
E, como refere a Matahary, "os deficientes são apenas mais um dos ramos dos esquecidos... depois há os velhos, os feios, os que «são mais bolos» e por aí fora..."
Não sei o que fazer concretamente em casos destes, mas concordo com o que diz a Matahary: "Se começássemos por consciencializarmo-nos que as pessoas deficientes também são compostas pela vertente sexual, à semelhança dos restantes homens e mulheres, já seria bom..."
É certamente uma causa pela qual vale a pena lutar!

Alguns links interessantes:
> «Autismo e sexualidade» por Demetrious Haracopos e Lennart Pedersen
> APPDA - Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo
> «Sexualidade e o adolescente com deficiência mental: uma revisão bibliográfica» de Olga Maria Bastos e Suely Ferreira Deslandes
e, também a propósito (digo eu):
> Beleza da mulher deficiente em concurso

Charlie: "A sexualidade, como expressão máxima do afecto... ou sexo só pelo sexo, como necessidade biológica e psicológica? É um assunto com um peso tremendo. Basta que nos imaginemos na pele dum deficiente e termos de passar por toda a sorte de limitações que o nosso viver quotidiano despreocupado de certos «pormenores» faz esquecer. Decerto que a frustração sexual não é a parte menor de quem se vê preso às limitações da sua deficiência. «Somos um todo, e só é possível sermos plenos se não nos compartimentarmos uns aos outros em várias categorias»"
: "O que eu quero mais que tudo é não ser mal interpretado, dado que o Mundo não é um espaço aberto mas antes um círculo fechado. Alguém tem conhecimento de relacionamentos (casamento, união de facto) entre dois seres com deficiência mental? Conhecem o que diz a Lei sobre isso? Paremos um pouco para pensar: autismo - todos teremos uma noção do que representa, sobretudo para a família, pais, irmãos... e para o próprio? O desejo sexual ou a líbido assenta em determinadas zonas do cérebro afectas a esse sentir, mas nem os Damásios foram tão longe. Parece que seria o abrir de uma incomensurável Caixa de Pandora. Eu vivo muito perto de uma APPACDM que, segundo dizem, é das que melhor funcionam no país. Conheço quem a dirige e muitas outras pessoas a trabalhar lá ou a colaborar. As dificuldades são imensas (muitas vezes trabalha-se no escuro ou sobre o arame) e «os que lá estão» não merecem outra atitude que não seja carinho e compreensão... e muito, muito cuidado".
matahary: " (...)A verdade é uma: todo e qualquer deficiente, seja a que nível for, vê a sua sexualidade anulada; como se eles não tivessem direito a ela. Sim, como qualquer outro ser humano, «merecem carinho e compreensão... e muito, muito cuidado»... e respeito! Respeito pelas suas necessidades! As Instituições (incluindo a Familiar) preocupam-se com o comer, dormir, lavar e vestir. E então, o resto? Não falo apenas no desempenho a nível sexual; mas por exemplo, temo-nos preocupado em ensinar a serem assertivos no que respeita a essa temática? Não, por isso, por vezes ficamos tão chocados com o que vemos; nunca ninguém lhes ensinou o que é socialmente aceite, ou não, relativamente ao sexo. Sexo, é um assunto tabu; não se fala, não se ensina, para ver se eles se esquecem... Ora, não é isso que tentam fazer há séculos com a restante população?! Agora, podem imaginar o que não fazem, ou tentam fazer, com os deficientes".
: "Já agora, diga-me lá (...) quantos casais casados ou a viverem em união de facto conhece ou ouviu falar que existem, com o pormenor de serem autistas? E diga-nos (...) como seria para si uma relação sexual entre dois seres autistas - mesmo admitindo que, entre eles, o amor existe e eles sabem, compreendem-se - pois, como sabe, é difícil a um autista fazer perceber estas coisas a nós, seres aparentemente normais? Já leu, por acaso, (...) o que é que uns portugueses radicados nos EUA há muitos anos e absolutamente respeitados pela comunidade internacional, que se dão pelos nomes de Hanna e António Damásio, escreveram sobre isto? O autismo afecta ou não e de que formas a parte do cérebro que (nas pessoas normais) está afecto à erogenia? Será que é mesmo possível dois seres autistas terem um relacionamento sexual explícito? Porque é que não faz a pergunta àqueles portugueses que nos enchem de orgulho e que são campeões mundiais de boccia, como é a vida sexual deles e por culpa de quem? E não estamos a falar de autistas, mas de paralisia cerebral em vários e diferentes graus. Sem querer ser professor e sem armar em mestre, o sexo não é tudo, nunca será tudo, será sempre uma parte excepcionalmente importante, para quem o compreenda, quem o entenda e quem o partilhe.Para isso, Deus deu-nos aptidões físicas e mentais:poderá dizer-nos se dois autistas têem condições físicas (não falo da parte mental) para ter sexo? Será que também sofrem de ejaculação precoce ou (no caso dos homens) têm poluções nocturnas?"
Pedro: "Jorge de Sena dizia que, sendo contra a prostituição, era a favor dela para estes casos. Estes e os outros, dos feios/feias e horríveis que (podendo...) teriam que pagar para ter direito a uma vida sexual. E relembro-vos uma série de artigos publicados pelo Diário de Notícias, em que se leu de tudo acerca deste caso. Desde pais que contratam regularmente prostitutas para estarem com o filho deficiente, até uma mãe que revelou que masturbava o filho amarrado a uma cama. E um dos artigos revelava que em certos centros, os/as próprios/as enfermeiros/as, não se assumindo como prostitutos/as (vade retro satanás!) admitiam certas práticas com os/as utentes. Até acho que se pode ver algum mérito em TODAS essas atitudes reveladas debaixo do anonimato..."
papoila_rubra: "A sexualidade das pessoas deficientes é sem sombra de dúvidas um tema muito vasto, por muitas e variadas razões. Mas perante um tema tão importante de modo algum posso ficar em silêncio. A minha opinião é ditada pela voz do coração. Tenho um filho deficiente motor, quase há 21 anos. Permanecemos ainda ligados pelo cordão umbilical. Frequentemente sou as suas mãos ou as suas pernas. Quando era adolescente, sempre fui sua cúmplice para colocar as cartinhas amorosas junto das suas «namoradas».Quando me apercebo que está em «intimidades» ao telefone ou computador, dou-lhe toda a privacidade. A sexualidade das pessoas deficientes tem de ser encarada tão natural como a de qualquer outra pessoa. Cada vez mais se defende uma sociedade inclusiva. Por acaso os asmáticos apenas se relacionam com os asmáticos? Porque haveria um deficiente de apenas se relacionar com outro deficiente? Todos somos seres sexuados. Dessa verdade ninguém escapa".
onanistélico: "Bem hajam, sábias opiniões sobre o ser-se diferente. Indiferente? Só à indiferença! Estas nossas sociedades (e todas) são, por muito que digam o contrário, eugenistas... a recusa da diferença assenta essencialmente no encobrimento de outrém. Enclausura-o e assim, esquecendo-se da sua existência, finge (e pior do que isso, age de acordo) ser normal. E o que é ser-se normal?"
OrCa: "Sobre o tema ocorreu-me um filme americano visto aqui há muitos anos - «Fim De Semana Alucinante» - que denunciava, nas entrelinhas do enredo, uma realidade ignorada: zonas recônditas da América reservadas a deficientes de vário tipo. Assim a modos que um enorme guetto em local desabitado onde se «soltavam» esses «incómodos sociais». O drama foi que a coisa deu para o torto já que os deficientes, especialmente prolíficos e soltos, reproduziram-se de forma, essa sim, alucinada e sem qualquer espécie de controle, transformando todo o projecto num caso sério e muito difícil de abafar ou, sequer, resolver sem recorrer a medidas drásticas. Na verdade, o assunto é de delicadeza extrema. E a humanidade da atitude - porque é disso que se fala - passa por os mais aptos auxiliarem os menos aptos, sem mais. Depois, tecnicamente, serão encontradas as formas de promover as soluções personalizadas. Porque, convenhamos, um dos grandes problemas consiste em que tanto avanço tecnológico não se repercute de forma equivalente em avanço de mentalidades. Exactamente porque apenas uma ínfima parte pode aceder a eles. E os «tabus» sociais, de que todos estamos mais ou menos imbuídos, dificultam sobremaneira a busca de soluções dignas e humanas - humanas, claro - para problemas deste tipo. Mas o mundo pula e avança..."
papoila_rubra: "Uma pessoa deficiente não é um marginal nem um fora de lei para merecer segragação social. Há quem já nasça deficiente, e há quem adquira deficiência numa fase da sua vida, quer por doença quer por acidente. Há um facto que geralmente não valorizamos e que é tão simples como isto: todos os rotulados de «não deficientes» são potentes candidatos à deficiência. Agora estou bem, mas o que me espera no momento ou dia seguintes, nós nunca sabemos. Já visitei um lar de raparigas deficientes mentais profundas. Raparigas com corpo de mulher e mente de quase bebé. Eu era rapariguinha ainda, mas tenho as imagens bem gravadas. Meninas rejeitadas pela famílias. Pessoas extremamente carentes de afecto. Tive empatia com uma delas. Não falava. Dizia apenas um sons imperceptíveis. Estava sentada no chão. Quando os nossos olhares se encontraram, prenderam-se. Estendeu-me os braços. Segurei-lhe as mãos. Não nos largámos mais. Ajoelhei à sua frente. Ela pousou a cabeça nas minhas pernas e fiquei todo o tempo da visita a acariciar-lhe o cabelo. Claro que sobre a sexualidade de uma pessoa com estas características, haveria muito que reflectir e descobrir. Penso que cada caso será mesmo um caso com direito a solução individual. Apesar de estar apta, eu não concordaria que esta rapariga procriasse. Penso no entanto que se ela convivesse com outras pessoas, traria as suas carências afectivas resolvidas e como é evidente, nada tem a ver com casamentos, namoros ou abusos sexuais. A expressão da sua sexualidade, poderia até não ir para além das carícias e beijos. Mas se fosse, entraria então a actuação da prevenção anticoncepcional. Mas nesta instituição que visitei, apenas funcionavam os cuidados básicos de saúde e higiene, feitos à porta fechada, isto é, à margem da sociedade. Os anos passaram. O que se passa actualmente em instituições semelhantes, eu desconheço".

Corta-charutos



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