31 março 2007

A natureza do sexo

Foto de Mircea Bezergheanu

O sexo é natural, o que não quer dizer mais do que: faz parte da natureza. Não significa que é inato nem significa que é desprovido de uma carga social que teima em torná-lo algo... problemático, polémico, controverso...
Para podermos usufruir de tudo o que fazemos com o nosso sexo e o do parceiro ou da parceira, é preciso aprendermos, ultrapassarmos os preconceitos — por exemplo, e escolho um mesmo estapafúrdio, de que a masturbação torna o clitóris defeituoso e prejudica os orgasmos em adulta (algo que cheguei a ler em adolescente!) — e descontruirmos algumas das bases da educação social e da moral vigente.
Comer também é natural, no sentido de que faz parte da vida e precisamos desse acto para sobrevivermos. Tiveram os nossos pais, normalmente, de educar e preparar todo o nosso aparelho digestivo, desde bebés, para comermos os alimentos que vão sendo introduzidos progressivamente desde que não temos dentes, até os termos, numa sequência também lógica da maior para a menor tolerância (acompanhando o desenvolvimento do dito aparelho).
As necessidades fisiológicas, como por exemplo fazer xixi, são absolutamente naturais e necessárias, nascemos com capacidade inata para as realizarmos, mas ensinam-nos a controlar os músculos responsáveis pela vontade de as resolver... e assim passamos das fraldas ao bacio... e por aí diante.
O mesmo é com o sexo, mas aqui parece que tudo é feito ao contrário, o que se me afigura digno de reflexão e questionamento...
Vamos sendo educados para considerar que o sexo só faz sentido numa relação a dois, onde haja amor e onde deve existir só de forma exclusiva. E que os homens, diferentemente das mulheres, terão "necessidades diferentes", normalmente acrescentando um "pronto", sem qualquer acrescento de argumentação (ideia com a qual não concordo e que dará origem a um texto autónomo). Esse tipo de socialização/educação anda de mãos dadas com os tabús e origina a que eu tenha de me esconder por detrás deste nick, porque ainda que exista gente interessante, a maioria das pessoas é profundamente conservadora (e, por profundamente, entendo isso mesmo, que o conservadorismo poderá não se notar logo à superfície e estar lá...)
E, por vezes, pergunto-me porque é que é assim. Pergunto-o a mim e aos outros. Porque é que qualquer pessoa é a encarnação (literal) de o que originariamente começou por ser um acto sexual, com ou sem amor, fruto de uma relação ou de um caso, de um encontro esporádico ou de um entre muitos, e ainda há tanto pudor acerca do que não é mais simples porque não se quer, do que é uma brincadeira entre adultos?
Eu valorizo MUITO o sexo; por isso considero-o uma brincadeira séria. Não o faço por dá cá aquela palha nem com qualquer um que me apareça à frente. Até porque não preciso só do corpo para ter relações satisfatórias, preciso de estar bem comigo e com a minha cabeça, preciso do cérebro — o que de mais erógeno tenho no corpo — e de me entregar a quem considero que me merece. Talvez por isso o encare como uma espécie de arte... Gosto de investir numa pessoa e, assim como em miúda tinha "melhores amigas", em adulta sigo o mesmo princípio de ter "o melhor amante", ou a pessoa a quem me dedico em exclusivo — ou quase, se não se der o caso de ter uma relação amorosa e exclusiva e de amor, etc. Mas tenho de aceitar que, desde que as pessoas se protejam de doenças, quer homens, quer mulheres, devem fazer aquilo que bem lhes apeteça e lhes dê na real gana. Porque, bolas, sexo e reprodução estão separados desde o momento em que é comum comprarem-se preservativos, pílulas, espermicidas, DIU, anéis hormonais e o rol de métodos contraceptivos que actualmente — e há muito — existem.
Sexo deve ser igual a prazer e nem sempre é igual a amor. A partir daí, porque é que a mulher que brinca com um homem hoje e daqui a dois ou três dias com outro, há-de ser uma "puta" (sentido pejorativo) e ao homem ninguém liga puto se ele hoje andar com fulana e amanhã com sicrana? E, inclusivamente, fazem-se anúncios publicitários em que se vangloria que um homem esteja com duas mulheres na mesma cama... e tal é visto de forma divertida...
E eu ainda ia falar da hipocrisia do dia da mulher... mas já fica demais neste texto...

Sirvo-te?!




Ruslan Maksimov

Kama Surftra

Daqui

























Outras Coisas

30 março 2007

Inveja ou Ciúme?

Sophia Loren vs. Jayne Mansfield (Joe Shere, 1958)


A inveja é uma paixão torpe precedida do sentimento penoso que sofre o invejoso pelo bem alheio. Ciúme é o zelo de que o objecto amado se incline para outrem, ou de que ele receba algum dano.
A inveja é o tormento das almas vis, (…) O ciúme tem mais nobre origem, pois nasce do amor-próprio, e da ideia vantajosa que cada um tem da superioridade de seu merecimento; (…).
A inveja concentra-se, roí o coração do invejoso, e não ousa aparecer à cara descoberta. O ciúme não se esconde, não se envergonha de manifestar-se, antes rompe muitas vezes com ímpeto, e com tanta maior violência quanto é maior sua elevação, (…).

ROQUETE, J.I., O.F.M. 1885: 398

Um grande, grande amor

Uma esplanada. Um homem e uma mulher. Ela bebe um chá verde e come meia torrada com doce de ameixa. Ele um café e meia torrada com manteiga. Falam do tempo, frio. Dos respectivos trabalhos, monótonos. Das suas vidas passadas, poucas, ainda são jovens, mas não do presente, nem do futuro. Encontram-se em terra de ninguém, num momento fora dos seus mundos, fora das suas vidas.
– Posso dizer-te uma coisa?
Ele olhou-a, ergueu ligeiramente as sobrancelhas, cerrou os lábios e acenou que sim com a cabeça.
– Podes – reforçou, curioso, mas procurando não dar expressão à curiosidade.
Ela manteve o seu olhar fixo no dele, hesitou à procura das palavras certas e declarou, sem qualquer inflexão irónica:
– Pensava que gostavas de mim.
Ele arregalou os olhos por um momento breve, controlou a surpresa e a expressão facial e retorquiu, com um ligeiro sorriso:
– Pensavas?
– Pensava – ela reforçava as palavras acenando a cabeça na vertical. – Pensava mesmo, mas agora já não sei.
Ele levou um palito da torrada à boca enquanto ela falava, mordeu metade e mastigou e engoliu em silêncio. Ela piscava os olhos duas vezes de cada vez, num tique nervoso que não conseguia disfarçar e bebeu um gole de chá.
– Não me achas atraente? – perguntou ela de chofre, sem se conseguir conter, ainda com a chávena na mão, arrependendo-se logo que se ouviu falar.
Ele manteve o ar impassível, o que a irritou, e respondeu sorrindo só com a boca.
Vendo-lhe os lábios arrepanhados para cima, mostrando apenas uma nesga dos dentes e os olhos sem brilho, sem expressão, a irritação cresceu e tornou-se em mágoa, numa vergonha difusa, sem objecto, sem sentido, e num súbito desejo de sair dali, de desaparecer, de voltar atrás no tempo. Pousou a chávena, segurando-a entre as duas mãos. Sentia-se atropelada pelos sentimentos e sensações que tomavam forma e substância e se alojavam na garganta, lhe comprimiam o peito e a faziam tremer. Não era isso que queria. Não era isso que queria que ele visse.
– Acho-te muito atraente – declarou ele, por fim e arrancou para um discurso quase de fazer chorar as pedras da calçada.
Ela ouvia-o e via-o agora com distinta clareza, “Tu és um estranho e triste homenzinho” sorriu ao lembrar-se da frase de Buzz Lightyear e, interrompendo-o, perguntou-lhe ainda sorrindo:
– Sabes do que me lembrei?
Ele ouviu-lhe a interrupção em tom sensual, quase lascivo, e vendo-a a sorrir, afastar a chávena quase vazia e o prato onde ainda restava um palito da torrada e agarrar na carteira para pagar, apostou no seu melhor olhar de carneiro mal morto, sorriu de viés, como o caçador que sabe que a presa não tem hipóteses de fuga, sussurrou que já estava tudo pago e dobrando-se sobre a mesa para se aproximar dela murmurou insinuante:
– De quê, querida, lembraste-te de quê?
Ela levantou-se, pousou as mãos na mesa, aproximou o seu rosto do dele, beijou-o na face, com suavidade e ficou frente a frente, nariz com nariz:
– Que tenho mais que fazer, Diogo – deu-lhe um beijo na outra bochecha e despediu-se: – Adeus.
Ele deixou-se cair na cadeira, que permaneceu vazia, e ela, agarrando a mala, seguiu sem olhar para trás, dizendo baixinho: addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye.

CISTERNA da Gotinha



Vamos começar a pensar na praia?

A
São Rosas é uma musa inspiradora para todos os artistas de bom gosto.

Eu cá prefiro sumo de laranja.
E vocês?!

Ilustrações erótico-divertidas.

Origami

Mais aqui





















Outras Coisas

29 março 2007

Leque Vermelho-Sangue



PIERRE SAGE
Fotógrafo francês

via
Freshnudes

Carta secreta de Soror Mariana ao cavaleiro de Chamilly - IV



Escreveu Soror Mariana na sua cela:
Por vós, meu amado cavaleiro, pecadora me tornei.
Quebrei votos e juramentos.
E são tão libidinosos e pecaminosos meus pensamentos...
Que juro-vos, meu amor, minha alma não tem salvação.
Mesmo quando rezar eu tento,
É a vós que eu vejo.
E logo meus lábios se juntam num beijo
Meus dentes se cerram de desejo
De vossas coxas morder,
E minha boca, num gemido, diz vosso nome,
Não uma oração.
Se me pudésseis ver agora, meu cavaleiro, meu amor,
Verias como palpita o meu peito
Como se arqueiam minhas ancas
Como pronta estou para vos receber.
Ah… Como eu anseio a vossos pés poder ajoelhar
Correr meus dedos, não pelo terço, mas por vossa lança
E morrer trespassada pela vossa espada nestas lajes frias.
Onde por vós eu clamo, na hora em que soam as Avé-Marias.

Resposta do cavaleiro de Chamilly:

Ah Mariana… Se soubésseis o efeito que em mim causou
Ler vossas palavras tão cheias de desejos e fantasias…
E não podia, Mariana, não podia…
Ao lê-las, logo tocando vossos seios me imaginei
E a vós de joelhos senti, tocando minhas virilhas.
E mesmo preso, por vós, meu sexo se agigantou
Fiquei em fogo, ruboresci, todo eu tremia.
E não podia, Mariana, não podia…
Não podeis imaginar a confusão que se gerou.
A capa nada cobria, era curta, pois estamos no Verão,
E mesmo cruzando as pernas o vulto enorme se via.
Duas damas desmaiaram ao notarem o que eu tentava ocultar,
E tive de sair correndo, apontado a dedo, o sexo teso,
Da recepção a que assistia no Solar da Viscondessa,
Minha tia.
E não devia, Mariana, não devia…

Foto: Rafal Bednarz

Encandescente
Blog Erotismo na Cidade
Três livros de poesia publicados («Encandescente», «Erotismo na Cidade» e «Palavras Mutantes») pelas edições Polvo (para já...).
Crica aqui para leres a carta anterior. Ou aqui para relembrares as cartas I e II, bem como a nossa ida memorável a Beja, ouvir a leitura da carta III pela Gisela Cañamero em frente à janela do convento.

Viajar é preciso...


ilustração: daqui


Tenho na pele
Umas gotas leves.
De sal e de mar
Das quais eu sou feita.
Deste querer foder
Que a todo momento espreita,
Espuma, que a rebentar,
na tua maré-cheia se ajeita…
Escorre a seiva
pelas minhas coxas nuas
Umas gotas - navio
Da tua língua madura,
Em assaltos de pressa
No acostar que eu não quero.
Sabes do meu rio,
Abrigo e enseada.
Desejo profundo,
Descanso e chegada…
Mas sabes das velas
Que se enchem de aragem
Não é o porto o desejo delas
Mas o durar da viagem...

Margarida.

Projecto Y

Colecção de fotografias


















Outras Coisas

28 março 2007

À cause des mouches


Quando é apenas para dar uma quecas qualquer gajo com um rolo de fita adesiva na boca para evitar que diga banalidades e um saco enfiado na porção que nos custar mais a encarar serve, porque a bem dizer, desde que aquela parte que lembra o elefante que toca a sineta no Jardim Zoológico funcione, que se dane o resto.

Embuída nesta sabedoria popular lá seleccionei uns candidatos naqueles clubes de amizade netianos que não escarrapacham na página de entrada "112 de fodas rápidas" apenas para arrebanhar como peixe tudo o que venha à rede. Mas o meu mau feitio foi mais forte e comecei por eliminar todos os que não alinhavavam duas frases seguidas e os que usavam o cê cedilhado em palavras como você. Ficaram pouquinhos e aí o critério foi o ananim ananão ficas tu e eu não.

Redigi ao sorteado uma mensagem a marcar um encontro, para um cafezinho como vem nas regras da etiqueta e foi fácil localizá-lo à porta do estabelecimento naquela posição característica de gajo que faz das suas mãos protecção de boladas. Lá fomos tomar algo para o estômago e para ganhar o espaço para desenrolar aquelas perguntas da praxe sobre a actividade profissional, os passatempos, os gostos gastronómicos e essas coisadas todas porque os gajos são muito sensíveis nisso e temos de lhes fazer crer que eles são especiais para nós pelas suas características próprias e nunca atirar-lhes de chofre com um gostava de te foder, vamos a isso? que é daquelas expressões que eles julgam ser um exclusivo masculino.

E como o gajo até tinha boa figura à vista desarmada, falara sem erros de pronúncia e tinha acesso à net, não me pareceu mal encaixado falar-lhe de blogues e da boa aceitação que tinha tido a imagem do pescoço de galinha o que o levou a recordar-se da casa da sua avó na província onde havia muitas galinhas e "piruns". Ao ouvir isto, o tímpano começou a dar-me vertigens e o estômago começou a revolver-se como se não conseguisse desmanchar os galináceos que se encaminhavam vertiginosamente para pressionar o meu esófago numa enxurrada prestes a sair pela boca e tive de deixar o mouro na costa murmurando que me devia ter parado a digestão.