02 abril 2007

Fábio


Eu sei que os anos vão passando e que as oportunidades vão fugindo. Miúdas há-as por aí de toda a espécie e o apelo é forte – tivesse eu vinte anos e já tinha mandado gravar uma tirinha de línguas de fogo em tons de azul ali mesmo acima das nádegas para poder usar calcinhas de cintura descida. Assim, tenho de esperar que a dieta da seiva de pinheiro faça efeito para vencer os cinco quilos que se acumularam nas coxas. Resistência heróica a dos quilos, diria mesmo; já ando a ficar sem paciência para resistir às coisitas doces que me apoquentam o serão.
É por isso que, mesmo valorizando a literatura, a poesia, a escultura contemporânea e os blogs, que uma mulher deve ser culta, tenho uma feroz preocupação com a minha imagem. Gabinete de estética, massagens, mesoterapias, dietas férreas e caminhadas pelos circuitos de manutenção de todos os parques da cidade, roubam horas à minha vida e cobertura ao meu cartão; mas esta parte não é para desenvolver que o tempo vai mau para histórias deprimentes.
É por tudo isto que não perdoo ao Fábio ter atirado com aquela frase no final da noite, depois de o ter levado a jantar e de termos dançado, em ambiente ameno, até de madrugada.
É claro que os seus vinte e seis anos lhe permitem uma resistência que eu já não tenho, mas de aparência, disse ele, nada a apontar.
Então se não havia nada a apontar por que me faz ainda eco a frasezinha com que se despediu pela manhã, enquanto apertava o botão das jeans junto ao corpinho escultural que deus lhe deu e se preparava para voltar a casa dos pais? “Deve ser da idade” – disse ele.
Meu amigo, o blusão de couro vem já recambiado para a origem. E o resto vamos ver.
Ó se vamos!

CISTERNA da Gotinha


Atenção aos bonecos que saem da pardaloca.

A São Rosas comprou um
aspersor novo para o jardim do Blog.

Palavras cruzadas
de sexo baseadas na vida de Bill Clinton.

Cadeira erótico-confortável.

Noiva
sortuda!

Os homens até vão bater de propósito!


Novos airbags

01 abril 2007

Além mar


O mar vivo na ponta de Sagres não dava para andar ali à vela mas que lhe importava isso, agora que conhecera aquele pescador de Lagos, com o rosto tisnado pelo sol mas senhor de uma pele jovem e macia pela qual a sua língua aguava?

Aqueles glúteos eram o império que atraía e que era forçoso agarrar com ambas as mãos, espalmando-as para puxar à sua face o padrão das descobertas e dar azo ao prazer do céu da boca. E quando lhe sentia o corpo a ajoelhá-lo no chão e a empurrar-lhe as nádegas com as coxas em vagas altaneiras, toda a linha do horizonte se tornava uma praia paradisíaca.

Mais a mais que desde que contratara a bom preço escudeiros e homens de várias nações para irem rentinhos à costa à cata do Preste João das Índias, que bem lhe tinham ficado de emenda os balanços e os vómitos da vez que foi a Ceuta e depois a Tânger, tinha todo o tempo do mundo para conviver com os rapazes algarvios que eram todos bem apessoados e seguros e despachados no manejo dos mastros, como se fossem espadas como na tropa.

Não fosse estarem sempre a chamá-lo à corte para o retrato de família e seria senhor absoluto da sua vida como num castelo onde todos se prestavam a servi-lo com delícias. Embora tivesse de convir que aquele chapeirão de abas largas com aquela enorme e voluptuosa fita pendurada lhe dava um ar de verdadeiro conquistador, habituado ao exotismo e calores medievais das praças marroquinas.

(esta é uma história ficcionada e qualquer semelhança com a realidade pode ser pura coincidência ou talvez não)

Maria Árvore
blog Chez Maria
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O OrCa nem deixa a tinta do post secar, que ode logo.
"Esta árvore traz sempre a língua-mãe bem enraizada... Até a mim me deu para navegar:

para que Preste João
tem de haver nele um senão
que não seja assim tão bom
ou seja bom porque não

presta João por ser bom
e por ter ao pendurão
tripeça de ocasião
que dá ao mar outro tom

mas falta nessa tripeça
a terça parte preversa
pois se fosse outra a conversa
divisaria a cabeça

talvez este João preste
muito mais do que nele viste
por fulgor que o vento empreste
singra-lhe a cabeça em riste..."

A nova varanda da Mad


Foto: Fran Garcia

crica para visitares a página John & John de d!o

31 março 2007

A natureza do sexo

Foto de Mircea Bezergheanu

O sexo é natural, o que não quer dizer mais do que: faz parte da natureza. Não significa que é inato nem significa que é desprovido de uma carga social que teima em torná-lo algo... problemático, polémico, controverso...
Para podermos usufruir de tudo o que fazemos com o nosso sexo e o do parceiro ou da parceira, é preciso aprendermos, ultrapassarmos os preconceitos — por exemplo, e escolho um mesmo estapafúrdio, de que a masturbação torna o clitóris defeituoso e prejudica os orgasmos em adulta (algo que cheguei a ler em adolescente!) — e descontruirmos algumas das bases da educação social e da moral vigente.
Comer também é natural, no sentido de que faz parte da vida e precisamos desse acto para sobrevivermos. Tiveram os nossos pais, normalmente, de educar e preparar todo o nosso aparelho digestivo, desde bebés, para comermos os alimentos que vão sendo introduzidos progressivamente desde que não temos dentes, até os termos, numa sequência também lógica da maior para a menor tolerância (acompanhando o desenvolvimento do dito aparelho).
As necessidades fisiológicas, como por exemplo fazer xixi, são absolutamente naturais e necessárias, nascemos com capacidade inata para as realizarmos, mas ensinam-nos a controlar os músculos responsáveis pela vontade de as resolver... e assim passamos das fraldas ao bacio... e por aí diante.
O mesmo é com o sexo, mas aqui parece que tudo é feito ao contrário, o que se me afigura digno de reflexão e questionamento...
Vamos sendo educados para considerar que o sexo só faz sentido numa relação a dois, onde haja amor e onde deve existir só de forma exclusiva. E que os homens, diferentemente das mulheres, terão "necessidades diferentes", normalmente acrescentando um "pronto", sem qualquer acrescento de argumentação (ideia com a qual não concordo e que dará origem a um texto autónomo). Esse tipo de socialização/educação anda de mãos dadas com os tabús e origina a que eu tenha de me esconder por detrás deste nick, porque ainda que exista gente interessante, a maioria das pessoas é profundamente conservadora (e, por profundamente, entendo isso mesmo, que o conservadorismo poderá não se notar logo à superfície e estar lá...)
E, por vezes, pergunto-me porque é que é assim. Pergunto-o a mim e aos outros. Porque é que qualquer pessoa é a encarnação (literal) de o que originariamente começou por ser um acto sexual, com ou sem amor, fruto de uma relação ou de um caso, de um encontro esporádico ou de um entre muitos, e ainda há tanto pudor acerca do que não é mais simples porque não se quer, do que é uma brincadeira entre adultos?
Eu valorizo MUITO o sexo; por isso considero-o uma brincadeira séria. Não o faço por dá cá aquela palha nem com qualquer um que me apareça à frente. Até porque não preciso só do corpo para ter relações satisfatórias, preciso de estar bem comigo e com a minha cabeça, preciso do cérebro — o que de mais erógeno tenho no corpo — e de me entregar a quem considero que me merece. Talvez por isso o encare como uma espécie de arte... Gosto de investir numa pessoa e, assim como em miúda tinha "melhores amigas", em adulta sigo o mesmo princípio de ter "o melhor amante", ou a pessoa a quem me dedico em exclusivo — ou quase, se não se der o caso de ter uma relação amorosa e exclusiva e de amor, etc. Mas tenho de aceitar que, desde que as pessoas se protejam de doenças, quer homens, quer mulheres, devem fazer aquilo que bem lhes apeteça e lhes dê na real gana. Porque, bolas, sexo e reprodução estão separados desde o momento em que é comum comprarem-se preservativos, pílulas, espermicidas, DIU, anéis hormonais e o rol de métodos contraceptivos que actualmente — e há muito — existem.
Sexo deve ser igual a prazer e nem sempre é igual a amor. A partir daí, porque é que a mulher que brinca com um homem hoje e daqui a dois ou três dias com outro, há-de ser uma "puta" (sentido pejorativo) e ao homem ninguém liga puto se ele hoje andar com fulana e amanhã com sicrana? E, inclusivamente, fazem-se anúncios publicitários em que se vangloria que um homem esteja com duas mulheres na mesma cama... e tal é visto de forma divertida...
E eu ainda ia falar da hipocrisia do dia da mulher... mas já fica demais neste texto...

Sirvo-te?!




Ruslan Maksimov

Kama Surftra

Daqui

























Outras Coisas

30 março 2007

Inveja ou Ciúme?

Sophia Loren vs. Jayne Mansfield (Joe Shere, 1958)


A inveja é uma paixão torpe precedida do sentimento penoso que sofre o invejoso pelo bem alheio. Ciúme é o zelo de que o objecto amado se incline para outrem, ou de que ele receba algum dano.
A inveja é o tormento das almas vis, (…) O ciúme tem mais nobre origem, pois nasce do amor-próprio, e da ideia vantajosa que cada um tem da superioridade de seu merecimento; (…).
A inveja concentra-se, roí o coração do invejoso, e não ousa aparecer à cara descoberta. O ciúme não se esconde, não se envergonha de manifestar-se, antes rompe muitas vezes com ímpeto, e com tanta maior violência quanto é maior sua elevação, (…).

ROQUETE, J.I., O.F.M. 1885: 398

Um grande, grande amor

Uma esplanada. Um homem e uma mulher. Ela bebe um chá verde e come meia torrada com doce de ameixa. Ele um café e meia torrada com manteiga. Falam do tempo, frio. Dos respectivos trabalhos, monótonos. Das suas vidas passadas, poucas, ainda são jovens, mas não do presente, nem do futuro. Encontram-se em terra de ninguém, num momento fora dos seus mundos, fora das suas vidas.
– Posso dizer-te uma coisa?
Ele olhou-a, ergueu ligeiramente as sobrancelhas, cerrou os lábios e acenou que sim com a cabeça.
– Podes – reforçou, curioso, mas procurando não dar expressão à curiosidade.
Ela manteve o seu olhar fixo no dele, hesitou à procura das palavras certas e declarou, sem qualquer inflexão irónica:
– Pensava que gostavas de mim.
Ele arregalou os olhos por um momento breve, controlou a surpresa e a expressão facial e retorquiu, com um ligeiro sorriso:
– Pensavas?
– Pensava – ela reforçava as palavras acenando a cabeça na vertical. – Pensava mesmo, mas agora já não sei.
Ele levou um palito da torrada à boca enquanto ela falava, mordeu metade e mastigou e engoliu em silêncio. Ela piscava os olhos duas vezes de cada vez, num tique nervoso que não conseguia disfarçar e bebeu um gole de chá.
– Não me achas atraente? – perguntou ela de chofre, sem se conseguir conter, ainda com a chávena na mão, arrependendo-se logo que se ouviu falar.
Ele manteve o ar impassível, o que a irritou, e respondeu sorrindo só com a boca.
Vendo-lhe os lábios arrepanhados para cima, mostrando apenas uma nesga dos dentes e os olhos sem brilho, sem expressão, a irritação cresceu e tornou-se em mágoa, numa vergonha difusa, sem objecto, sem sentido, e num súbito desejo de sair dali, de desaparecer, de voltar atrás no tempo. Pousou a chávena, segurando-a entre as duas mãos. Sentia-se atropelada pelos sentimentos e sensações que tomavam forma e substância e se alojavam na garganta, lhe comprimiam o peito e a faziam tremer. Não era isso que queria. Não era isso que queria que ele visse.
– Acho-te muito atraente – declarou ele, por fim e arrancou para um discurso quase de fazer chorar as pedras da calçada.
Ela ouvia-o e via-o agora com distinta clareza, “Tu és um estranho e triste homenzinho” sorriu ao lembrar-se da frase de Buzz Lightyear e, interrompendo-o, perguntou-lhe ainda sorrindo:
– Sabes do que me lembrei?
Ele ouviu-lhe a interrupção em tom sensual, quase lascivo, e vendo-a a sorrir, afastar a chávena quase vazia e o prato onde ainda restava um palito da torrada e agarrar na carteira para pagar, apostou no seu melhor olhar de carneiro mal morto, sorriu de viés, como o caçador que sabe que a presa não tem hipóteses de fuga, sussurrou que já estava tudo pago e dobrando-se sobre a mesa para se aproximar dela murmurou insinuante:
– De quê, querida, lembraste-te de quê?
Ela levantou-se, pousou as mãos na mesa, aproximou o seu rosto do dele, beijou-o na face, com suavidade e ficou frente a frente, nariz com nariz:
– Que tenho mais que fazer, Diogo – deu-lhe um beijo na outra bochecha e despediu-se: – Adeus.
Ele deixou-se cair na cadeira, que permaneceu vazia, e ela, agarrando a mala, seguiu sem olhar para trás, dizendo baixinho: addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye.

CISTERNA da Gotinha



Vamos começar a pensar na praia?

A
São Rosas é uma musa inspiradora para todos os artistas de bom gosto.

Eu cá prefiro sumo de laranja.
E vocês?!

Ilustrações erótico-divertidas.

Origami

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Outras Coisas