01 abril 2007

Além mar


O mar vivo na ponta de Sagres não dava para andar ali à vela mas que lhe importava isso, agora que conhecera aquele pescador de Lagos, com o rosto tisnado pelo sol mas senhor de uma pele jovem e macia pela qual a sua língua aguava?

Aqueles glúteos eram o império que atraía e que era forçoso agarrar com ambas as mãos, espalmando-as para puxar à sua face o padrão das descobertas e dar azo ao prazer do céu da boca. E quando lhe sentia o corpo a ajoelhá-lo no chão e a empurrar-lhe as nádegas com as coxas em vagas altaneiras, toda a linha do horizonte se tornava uma praia paradisíaca.

Mais a mais que desde que contratara a bom preço escudeiros e homens de várias nações para irem rentinhos à costa à cata do Preste João das Índias, que bem lhe tinham ficado de emenda os balanços e os vómitos da vez que foi a Ceuta e depois a Tânger, tinha todo o tempo do mundo para conviver com os rapazes algarvios que eram todos bem apessoados e seguros e despachados no manejo dos mastros, como se fossem espadas como na tropa.

Não fosse estarem sempre a chamá-lo à corte para o retrato de família e seria senhor absoluto da sua vida como num castelo onde todos se prestavam a servi-lo com delícias. Embora tivesse de convir que aquele chapeirão de abas largas com aquela enorme e voluptuosa fita pendurada lhe dava um ar de verdadeiro conquistador, habituado ao exotismo e calores medievais das praças marroquinas.

(esta é uma história ficcionada e qualquer semelhança com a realidade pode ser pura coincidência ou talvez não)

Maria Árvore
blog Chez Maria
_______________________________________
O OrCa nem deixa a tinta do post secar, que ode logo.
"Esta árvore traz sempre a língua-mãe bem enraizada... Até a mim me deu para navegar:

para que Preste João
tem de haver nele um senão
que não seja assim tão bom
ou seja bom porque não

presta João por ser bom
e por ter ao pendurão
tripeça de ocasião
que dá ao mar outro tom

mas falta nessa tripeça
a terça parte preversa
pois se fosse outra a conversa
divisaria a cabeça

talvez este João preste
muito mais do que nele viste
por fulgor que o vento empreste
singra-lhe a cabeça em riste..."

Sem comentários:

Enviar um comentário

Uma por dia tira a azia