Já me havia falado de tal fantasia. Um dia, estávamos sozinhos e começámos a entrelaçar-nos. Estava calor, despimo-nos e ele perguntou-me:
"Posso fazer o que eu quiser?"
"Sabes que sim, não precisas de perguntar"
Afastou a mesa redonda e antiga de onde estava, encostada à parede. Foi buscar corda e um espelho móvel, que encostou à parede de onde antes tinha retirado aquela peça de mobiliário. Pediu-me que me inclinasse e prendeu-me, pelos tornozelos, aos pés da mesa junto ao chão e, pelos pulsos, à parte superior da mesa, no lado oposto, perto do tampo.
Perguntou-me se eu me via bem ao espelho e ajustou-mo. Eu disse-lhe que era a ele que eu queria ver. Gostei de ver a posição das minhas pernas e todos aqueles procedimentos me estavam a excitar de sobremaneira. É bom receber sem pensar.
Quando estava presa, deitou-se sobre mim e beijou-me o pescoço. Lambeu-mo, marcou território. Olhei pelo espelho e eram dois corpos nus e aparentemente encaixados que podiam ser observados. Afastou-me as nádegas, observou o que via por detrás...
"Humm, que visão! E a das pernas, cheias e juntas... Queres que entre de uma só vez, ou que vá entrando devagar?"
"Entra de uma só vez, quero sentir-te bem teso".
Acompanhou a estocada com um gemido de conquistador.
E foi entrando e saindo. Nunca o tinha sentido tanto, e tão duro. Podia ver como um corpo se transforma tanto a fazer esforço: as veias do braço, das mãos, tornam-se salientes, as feições correctas da cara tornam-se duras, transmitem força, o ventre e os quadris impulsionam e aceleram os movimentos... Eu mexia-me e fazia os movimentos necessários para o sentir.
Estávamos numa sala de uma casa, mas eu sentia-me na natureza, no meio do mato. Queria fechar os olhos, mas também queria ver... As sensações eram demasiado diferentes para eu as conseguir reconhecer... Via nele um animal forte, e ao mesmo tempo sensível. E eram sons animais aqueles que se ouviam. Puro tesão. Não falámos, só gememos e nos deixámos levar por sensações físicas. Escorria água pelos nossos corpos e o cansaço não era impedimento de nada. Tenho a certeza que perdi a noção do tempo.
Foi com a dor nos quadris, por roçarem na mesa, que regressei àquele espaço, e que retornei ao meu corpo humano. Como que por magia, foi também nesse momento que o corpo dele parou bem junto ao meu e ele emitiu o último som daquela dança animal. Deixou-se cair sobre mim e senti o coração dele a bater por detrás do meu.
Guardo, até hoje, a imagem dele no espelho. Nunca mais senti aquele prazer tão específico e... animal?
A mesa perdeu a solidez de outrora.