by Yuri Bonder
17 abril 2007
Primeira noite de um casal recém-casado.
Quando vão para a cama, diz ela:
- Amor, ainda não te disse mas... eu sou muito inexperiente, não sei fazer nada de nada!
- Não te preocupes, querida, eu explico-te; tiras a roupa, deitas-te na cama com as pernas abertas, e eu trato do resto.
E ela, muito meiguinha:
- Não, amorzinho... foder eu sei...! O que eu não sei é lavar, passar a ferro, cozinhar...
16 abril 2007
horta-lícias
(a propósito de um encontro deficitário lá mais para baixo relatado pela maria-árvore...)
um nabo chega-se a um grelo
e diz-lhe em tom suspirado
"- Ah, grelo, por ti me pelo,
não queres sentir-te enabado?"
mas grelo que se apresente
que não se faz penca loura
do nabo cedo pressente
a escassez da cenoura
e diz "- ó filho, tem tento
de teus dislates me poupa
que sou mulher de alimento
e não vou co'a tua sopa!"
um nabo chega-se a um grelo
e diz-lhe em tom suspirado
"- Ah, grelo, por ti me pelo,
não queres sentir-te enabado?"
mas grelo que se apresente
que não se faz penca loura
do nabo cedo pressente
a escassez da cenoura
e diz "- ó filho, tem tento
de teus dislates me poupa
que sou mulher de alimento
e não vou co'a tua sopa!"
In fraudem legis
Primeiro quis vendar-me os olhos. E eu, no uso da capacidade de gozo dos meus direitos, achei que o patrocínio das partes, tinha todas as possibilidades para dar origem a uma ratificação no mínimo à altura do órgão competente. Era tudo uma questão de pró rata. A definição das coordenadas fundamentais da posição de cada um deixava-me a braços com os fundamentos do direito. Tinha-se constituído, pois, a situação ideal para verificar a constitucionalidade da matéria formal, adiada vezes sem conta por falta de comparência da minha parte.
Incisivo – dizia ele – podes crer!, nunca menos do que isso!Para mim incisivo era assim tipo curto e grosso; mas… in dubio pró réu, sempre, pois os meus preconceitos são facilmente contornáveis quando se trata da análise detalhada do corpus. Parto daí, como manda a metodologia de qualquer recherche.Mas eu conto: a insistência aguçou-me a curiosidade, embora o nosso conhecimento tivesse ocorrido numa situação chata: foi na altura do meu primeiro divórcio e ele teve aquela atitude paternalista do homem que, viciado na tutela dos mais fracos, achou que devia bater-se pelo habeas corpus, dando um murro na secretária quando lhe disse que a outra parte ansiava pelo contencioso. Desde então ficou sempre pendente entre nós uma promessa de deveres recíprocos, mas ele tinha-se queixado de uma disfunção intestinal e eu, na altura a braços com merda suficiente para me atolar, ad cautelam, não dei azo ao trato proposto, até porque me fartei daquela conversa do direito potestativo. Não sou de ficar à espera que os braços de um homem me protejam das agruras da vida. Coitados, nem o direito patrimonial lhes confere a autonomia que uma mulher traz à nascença, quanto mais uns braços deontologicamente estatuídos.Mas a minha curiosidade mata-me. Aquilo da concepção contratualista da sociedade fez eco durante uns tempos, até porque não sendo eu mulher de coacções, quando me ponho sobre a matéria não descanso enquanto não vou até ao fundo. Aceitei, pois, ficar de olhos vendados. Mal sabia ele que estava a alimentar um dos meus fetiches. Oh deuses… até me senti desfalecer ante a perspectiva da aplicação do direito, assim em animus jocandi.
O que depois me meteu raiva for a pega que ele me pôs na mão, associada a um tilintar de ferros. Sujeitei-me à contra-ordenação e, ex abrupto, tirei a venda, não fosse o doutor estar à espera de uma violentação com base na matraca.Uma balança? Para que queria ele que eu segurasse a balança? Teria dúvidas sobre o peso da sua matéria orgânica? Seria alguma regra de conduta sancionada e promulgada pela Ordem? Um modus operandi que eu desconhecia? É que há gente que, de tão normativa, consegue perder o sentido do gozo dos seus direitos! Que natureza social seria a daquele indivíduo, ali de joelhos no chão, a pedir-me sigilo ainda antes de iniciar a sessão. Meto-me em cada uma!
De olhos esbugalhados encarei a caducidade da coisa como uma afronta e, sem apelo nem agravo, disse-lhe que não havia acórdão que resistisse a tamanha humilhação. A dele, porque para mim foi apenas mais um fracasso para a minha colecção...
E saiu-me, assim de rompante, ipsis verbis, esta chave de ouro: “olhe, querido, ponha a sua capacidade jurídica num dos pratos da balança que eu ponho a minha capacidade de gozo no outro. Vai ver qual de nós terá de ir à procura de um órgão mais competente!”
E saiu-me, assim de rompante, ipsis verbis, esta chave de ouro: “olhe, querido, ponha a sua capacidade jurídica num dos pratos da balança que eu ponho a minha capacidade de gozo no outro. Vai ver qual de nós terá de ir à procura de um órgão mais competente!”
CISTERNA da Gotinha
Luke Stephenson dedica-se às erecções matinais.
Reconhecem esta actriz?
Depilação rápida!
Publicidade: Filter Aids.
Quando formos velhinhos ficaremos
assim?!
15 abril 2007
Direitos dos Homossexuais
"Francisco Pinto Balsemão, presidente da SIC, vai ficar para a história como o primeiro patrão de uma empresa de media portuguesa a permitir uma licença de casamento a um trabalhador homossexual.
O patrão da SIC intercedeu junto dos Recursos Humanos da estação para que Nuno D., pivô da SIC Notícias, gozasse de licença de casamento, apesar de a lei portuguesa não o permitir, já que se trata de uma união entre pessoas do mesmo sexo."
CM
CM
Qual é o patrão que se segue?!
O número mágico
Como se não bastasse trabalhar num banco e constantemente discorrer com prosápia sobre os empréstimos com um spread de 0%, ainda era adepto dos produtos alimentares com 0% de açúcar e das bebidas com 0% de álcool para se manter saudável e em forma, que um homem prevenido vale por dois.
Só que naquela noite eu devia estar 100% alcoolizada e vá de me embrulhar com aquele zero à esquerda, um trintão almofadado na responsabilidade zero que a casinha dos pais lhe proporcionava. O calor do Jack Daniels no lusco-fusco de um bar depois das zero horas baixa consideravelmente as minhas exigências e os dedos relaxantes do fulano na região cervical, enquanto me sussurrava nem sei bem o quê, massajaram-me o ego para dar o aval para a fase seguinte.
Começou por se despir num ápice que não me aqueceu nem arrefeceu e desatou numa palpação trapalhona de nula eficácia até tombar sobre mim, para nuns escassos minutos ganhar a partida por uma bola a zero. Depois, num sorriso angélico quase como se as suas pestanas batessem intermitentemente, jorrou aquela pergunta de circunstância do se tinha sido bom para mim e como os graus negativos me congelam, sugeri que aquele fosse o minuto zero e nada antes existisse, enquanto me soerguia da cama para vestir.
Só que naquela noite eu devia estar 100% alcoolizada e vá de me embrulhar com aquele zero à esquerda, um trintão almofadado na responsabilidade zero que a casinha dos pais lhe proporcionava. O calor do Jack Daniels no lusco-fusco de um bar depois das zero horas baixa consideravelmente as minhas exigências e os dedos relaxantes do fulano na região cervical, enquanto me sussurrava nem sei bem o quê, massajaram-me o ego para dar o aval para a fase seguinte.
Começou por se despir num ápice que não me aqueceu nem arrefeceu e desatou numa palpação trapalhona de nula eficácia até tombar sobre mim, para nuns escassos minutos ganhar a partida por uma bola a zero. Depois, num sorriso angélico quase como se as suas pestanas batessem intermitentemente, jorrou aquela pergunta de circunstância do se tinha sido bom para mim e como os graus negativos me congelam, sugeri que aquele fosse o minuto zero e nada antes existisse, enquanto me soerguia da cama para vestir.
14 abril 2007
Message received loud and clear
Ouve-se Jorge Palma, “O meu amor existe”, num som roufenho de fundo de poço. O piano parece que está a desintegrar-se e ele parece que está dormente, quase a dormir.
A mulher bate no ombro do homem e pergunta:
– Há quanto tempo não fazemos amor?
Em silêncio, ele tira a mão direita do teclado, coça as sobrancelhas com a ponta dos dedos, num movimento centrífugo, primeiro a direita e depois a esquerda, e pousando o cotovelo na secretária, apoia a cabeça na mão, que coloca debaixo do queixo. Com o polegar e o indicador da mão esquerda, conclui os Alt F4 que começara logo que ela se aproximara, fica com este texto e a musica que, entretanto, mudou aleatoriamente. Lloyd Cole, “Jennifer, she said”.
– Estou a escrever – justifica-se, sem olhar para ela.
– Estás a escrever, agora – diz ela, sentando-se no braço do sofá. Deixa-se cair para trás. – E ontem? E anteontem? E na semana passada? E na outra?
O homem ouve em silêncio e, deixando de a sentir atrás de si, vira a cabeça para um lado e para o outro, procurando-a. Vê-lhe as pernas nuas a caírem do braço do sofá, adivinha-lhe a posição e sorri. Fecha definitivamente o Messenger e o Firefox. Hesita quanto a este texto e ao Media Player, que mantém aberto. Altered Images, “Don’t talk to me about love”.
– Não sei – recomeça ele, mais seguro de si, depois de fechados os programas que o embaraçavam. – Há quanto tempo não fazemos amor?
Ela não responde. Ele não insiste.
Radiohead, “No surprises”.
Ele fecha o Word, sem gravar as alterações ao texto que não estava a escrever. Fica com a música e pergunta:
– Desligo?
– Acho que já desligaste há muito tempo – declara ela num fio de voz.
Ele sente, mas ignora a provocação e levantando-se, repete:
– Desligo? – Em pé, vira-se para o sofá, vê-a deitada, nua, e ouve-se insistir, como se não fosse ele tivesse falado: – Desligo a música?
Até a ele, enquanto se olhavam os dois nos olhos, ela nua, com um sorriso triste, prostrada, ele fingindo um desinteresse que não sentia, mas com um brilho nos olhos que não escondia, a frase soara como uma sentença, mas não a conseguiu remediar e permaneceu calado, olhando-a, arrependido, num olhar que ela entendeu de desafio.
– Deixa estar – respondeu ela, com um nó na garganta.
– Vou-me deitar – informou. Calou o convite “Vens?” e perguntou, definitivo: – Apago a luz?
The Smiths, “Unloveable”.
– Apaga!
A mulher bate no ombro do homem e pergunta:
– Há quanto tempo não fazemos amor?
Em silêncio, ele tira a mão direita do teclado, coça as sobrancelhas com a ponta dos dedos, num movimento centrífugo, primeiro a direita e depois a esquerda, e pousando o cotovelo na secretária, apoia a cabeça na mão, que coloca debaixo do queixo. Com o polegar e o indicador da mão esquerda, conclui os Alt F4 que começara logo que ela se aproximara, fica com este texto e a musica que, entretanto, mudou aleatoriamente. Lloyd Cole, “Jennifer, she said”.
– Estou a escrever – justifica-se, sem olhar para ela.
– Estás a escrever, agora – diz ela, sentando-se no braço do sofá. Deixa-se cair para trás. – E ontem? E anteontem? E na semana passada? E na outra?
O homem ouve em silêncio e, deixando de a sentir atrás de si, vira a cabeça para um lado e para o outro, procurando-a. Vê-lhe as pernas nuas a caírem do braço do sofá, adivinha-lhe a posição e sorri. Fecha definitivamente o Messenger e o Firefox. Hesita quanto a este texto e ao Media Player, que mantém aberto. Altered Images, “Don’t talk to me about love”.
– Não sei – recomeça ele, mais seguro de si, depois de fechados os programas que o embaraçavam. – Há quanto tempo não fazemos amor?
Ela não responde. Ele não insiste.
Radiohead, “No surprises”.
Ele fecha o Word, sem gravar as alterações ao texto que não estava a escrever. Fica com a música e pergunta:
– Desligo?
– Acho que já desligaste há muito tempo – declara ela num fio de voz.
Ele sente, mas ignora a provocação e levantando-se, repete:
– Desligo? – Em pé, vira-se para o sofá, vê-a deitada, nua, e ouve-se insistir, como se não fosse ele tivesse falado: – Desligo a música?
Até a ele, enquanto se olhavam os dois nos olhos, ela nua, com um sorriso triste, prostrada, ele fingindo um desinteresse que não sentia, mas com um brilho nos olhos que não escondia, a frase soara como uma sentença, mas não a conseguiu remediar e permaneceu calado, olhando-a, arrependido, num olhar que ela entendeu de desafio.
– Deixa estar – respondeu ela, com um nó na garganta.
– Vou-me deitar – informou. Calou o convite “Vens?” e perguntou, definitivo: – Apago a luz?
The Smiths, “Unloveable”.
– Apaga!
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