03 junho 2007

Cartão cliente


Aquela relação de cartão cliente, com os papéis preenchidos na Conservatória Civil, funcionava para ambas as partes. Quanto mais uso, maiores eram os descontos. Um exemplo disso é que por vezes as duas meias pernas viam a sua depilação remetida para segundo plano por outros afazeres e ele enganchava as deles nas minhas, como se não estivéssemos a rechear um peru sem previamente o ter chamuscado. Noutras alturas, ele chegava a casa à beira de um ataque de exaustão e por manifesta carência de forças que quase só lhe mexiam os olhinhos, atirava-se derrotado para o sofá e eu acercava-me de mansinho, corria-lhe o fecho das calças e fazia saltar para as minhas mãos o pardalito atordoado alisando-lhe as penas em bicadinhas e lambidelas molhadas para o arrebitar.

É claro que estes cartões de fidelização nos iludem com os descontos e acabamos por insistir nas compras como uma obrigação ou carregamos com embrulhos que de outra forma não compraríamos como o tio chato como a potassa, a sogra intrometida como o bico de um aspirador ou um daqueles animais de estimação que desenham com rasgos de génio nos sofás e cortinados ou que nos obrigam a ir à rua três vezes ao dia faça sol ou faça chuva. Fora aqueles dias em que cada um ocupa todo o espaço dos expositores e o outro fica a mais em qualquer canto que seja.

Nada disto acontece no mundo perfeito das compras extraordinárias sem cartão, nos dias marcados em que os produtos se apresentam a 100% da atractividade como numa expo-qualquer-coisa, tanto mais que estes frescos têm um prazo de validade limitado. O único azarito é que se nesse dia falhar a temperatura ambiente não há desconto para ninguém.

Nó de marinheiro...

... ou método anticoncepcional?!

31 maio 2007

Abster-se, privar-se.



Abster-se exprime a acção sem referi-la ao sentimento que pode acompanhá-la; privar-se supõe apego á coisa e pena de não poder gozar dela. – Fácil é abstermo-nos do que não conhecemos, nem amamos, nem desejamos ou nos é indiferente; porém com dificuldade nos privamos das coisas que conhecemos, nos agradam, de que gozamos ou queremos gozar.
Vemos que a abstinência supõe que podemos gozar duma coisa, mas que por certas razões dela nos abstemos, e assim se entende ser voluntária. A privação é de ordinário forçada, pois temos desgosto e ainda pena de nos vermos privados daquilo que muito desejamos lograr. – Para o que prefere a sua saúde aos prazeres, a abstinência não é na realidade privação; mas para o que prefere os prazeres à sua saúde, a abstinência é também privação.

ROQUETE, J.I., O.F.M. 1885: 5

São Rosas para Junho








Mircea Bezergheanu : Portrait & Nudes

Cena da vida real

- Mamã, o que quer dizer tesão?
Pergunta o meu filho de 7 anos com cara de malandro.
- Onde é que tu ouviste isso? Com essa cara sabes que isso é malcriado e estás armado em sacana. Já te disse que não quero que sejas assim e blá blá blá...há coisas que não se podem dizer junto dos adultos...e blá blá blá e não volta a repetir isso ouviste?
- Mamã está escrito na tua blusa.
GLUP!



Foto: João Espinho aka Nikonman