Andas a seguir-me há dias. Sinto a tua presença por todo o lado. Nunca consegui ver-te o rosto. De dia, sinto o teu olhar preso ao meu corpo quando ando na rua, mas não te consigo ver. À noite, sim, o teu vulto recorta-se em contra-luz. No início, assustavas-me. Pensei que podias ser algum tarado, um violador que me vigiava, que estudava os meus hábitos para me encurralar mais tarde. Hoje, sei que não é assim. Se me quisesses fazer mal, serias uma sombra invisível para me poder surpreender melhor. Tu queres que eu saiba que existes. És como um admirador que, passo a passo, quer conquistar a minha confiança e o meu desejo.
Encontro todos os dias, à minha porta, uma rosa vermelha embrulhada em papel de seda, sem cartão. Na caixa do correio, papelinhos rabiscados com palavras insinuantes. Sei que deveria ter cuidado mas não consigo parar de pensar em ti. Levanto-me com outro ânimo, todas as manhãs. Sinto a essência da rosa à minha porta.
À noite, deito-me na cama a desejar que os teus dedos batam na porta. Espreguiço-me, nua, nos lençóis e quase sinto as tuas mãos a acariciarem-me a pele. Fecho os olhos. Vejo o teu vulto a aproximar-se. Sinto o teu fôlego quente no meu pescoço. A ideia de ti arrepia-me. As tuas mãos nos meus seios. O ar que expiras sobre o meu ventre. Ouço os nossos gemidos, diluídos nas gotas de suor dos nossos corpos entrelaçados. Excita-me o teu cheiro intenso de homem. Os teus lábios beijam a orquídea palpitante do meu sexo. És o fósforo que me incendeia. Acordas a lava adormecida no meu vulcão. Não sentes como o meu desejo por ti se tornou obsessivo? Porque demoras tanto a possuir-me? Uma vaga de prazer submerge-me…
Acordei de novo na minha cama vazia, ainda quente dos meus devaneios de ti. À porta, uma rosa. Será esta noite, finalmente?
Quironn (13.06.2007)
Rêverie inspirada no videoclip Self Control, da Laura Branigan