Quando estendias a mão começava a viagem e eu, perdida a razão, esquecia pensamentos
Tão intenso o sentir, tão violento o desejo, tão nítida a consciência do corpo.
Tu puxavas-me para seres centro do meu centro
Eu ancorava-me em ti algemada às tuas pernas.
E tu crescias, e tu erguias-me,
E eu ganhava asas e subia e voava
E tocava estrelas e via o paraíso,
E era do paraíso que te diziam os meus olhos
E era no paraíso que o meu corpo queria entrar…
Mas tu seguravas-me querendo-me terra, querendo-me sólida
E prendias as minhas asas e refreavas o meu ímpeto e adiavas-me no teu centro…
Parando…
Prendendo-me…
Subjugando a minha vontade,
Retendo-me...
E eu sem ar procurando a tua boca
Respirando-te,
O corpo tremendo, o peito batendo, não querendo pausas,
Não querendo parado,
O teu centro no meu centro.
Tu oscilavas embalando-me nos braços tentando marcar o compasso e recomeçar devagar.
Mas já o meu corpo bramia
A razão perdida
A cadência lenta que eu não queria
A partida veloz que eu te exigia e tu me davas…
E o mundo invertia-se e a terra era céu e o céu era terra,
E eu rodava porque tu rodavas,
E o paraíso estava na cama
E as estrelas estavam no corpo feitas gotas de suor,
E o tempo nos meus braços,
E o teu centro no meu centro...
E era eu que te puxava e era eu que te exortava e era eu que te exigia
E tu subindo e tu seguindo-me e eu erguendo-te
Eu as tuas asas,
Para ser uma a jornada
Para ser um o caminho
Para juntos chegarmos ao destino
E ser corpo e paraíso
E ser centro do teu centro.
EncandescenteFoto: Howard Schatz