O Prazer do Encontro
Debaixo da chuva que molha o alcatrão de uma cidade vazia, acordava a ânsia do encontro. Um olhar furtivo na janela da rua mais feliz da cidade esperava um sinal. O cheiro da castanha assada afogava as narinas, o bater compassado das asas dos pombos ensurdecia. Eram quase dez para as nove mas o tempo não passava. O relógio parado no pulso dos meus afectos, a manhã que se abria lenta e azul, e a memória dos outros dias ..., as mãos que procuravam calar os meus silêncios, e a terra abandonada nos sapatos. Esperava-te. Era tarde.
Era tarde na vida. Eram os restos que sossobravam de vidas já moldadas por martelos e bigornas acesas, cravados no peito da alma de quem apenas viveu, entregue a destinos impostos, outros feitos, outros desfeitos. E restava a esperança de quem se bate nas frentes de muitas guerras, e a vontade de tudo refazer como se esse fosse o primeiro dia das páginas limpas.
Às vezes, sentimos falta de nós. Procuramos em vão nas vielas do encontro e partimos com a mesma falta que nos trouxe ali.
Sentamo-nos em frente a uma alma tão só, como se de nós se tratásse. E reconhecemos, ou não, aquela imagem de nada, que apenas nos traz a pausa dessa busca incessante do que perdemos de nós.
Sorrimos com a timidez de quem não se reconhece, cruzamos sentidos, trocamos os sonhos na espera de um final que não se toca, que não destrói quem participa, mas que também não edifica. Bebemos o café da conversa, procuramos a cumplicidade no que partilhamos, e sentimo-nos tão perto de sermos aquele que procuramos.
E na rua molhada e no alcatrão de duas sobras de coisas, nasce a cidade cheia, mas tão vazia como dantes.
fresquinha
Debaixo da chuva que molha o alcatrão de uma cidade vazia, acordava a ânsia do encontro. Um olhar furtivo na janela da rua mais feliz da cidade esperava um sinal. O cheiro da castanha assada afogava as narinas, o bater compassado das asas dos pombos ensurdecia. Eram quase dez para as nove mas o tempo não passava. O relógio parado no pulso dos meus afectos, a manhã que se abria lenta e azul, e a memória dos outros dias ..., as mãos que procuravam calar os meus silêncios, e a terra abandonada nos sapatos. Esperava-te. Era tarde.
Era tarde na vida. Eram os restos que sossobravam de vidas já moldadas por martelos e bigornas acesas, cravados no peito da alma de quem apenas viveu, entregue a destinos impostos, outros feitos, outros desfeitos. E restava a esperança de quem se bate nas frentes de muitas guerras, e a vontade de tudo refazer como se esse fosse o primeiro dia das páginas limpas.
Às vezes, sentimos falta de nós. Procuramos em vão nas vielas do encontro e partimos com a mesma falta que nos trouxe ali.
Sentamo-nos em frente a uma alma tão só, como se de nós se tratásse. E reconhecemos, ou não, aquela imagem de nada, que apenas nos traz a pausa dessa busca incessante do que perdemos de nós.
Sorrimos com a timidez de quem não se reconhece, cruzamos sentidos, trocamos os sonhos na espera de um final que não se toca, que não destrói quem participa, mas que também não edifica. Bebemos o café da conversa, procuramos a cumplicidade no que partilhamos, e sentimo-nos tão perto de sermos aquele que procuramos.
E na rua molhada e no alcatrão de duas sobras de coisas, nasce a cidade cheia, mas tão vazia como dantes.
fresquinha