29 agosto 2007

Vaca fria


Meses sem o ver fizeram da barba novidade e tive de me esforçar para não me desequilibrar que estava chapadinho o Brad Pitt no filme do basco e agarrei-me à mala que nestas alturas é uma muleta misericordiosa.

Ele falava sem parar no relato das coisas significativas que lhe aconteceram com a graça que sempre me disparou sorrisos enquanto bravamente cortava o bife em sangue em memória dos tempos em que os homens pegavam os animais pelos cornos e eram a fonte abastecedora de proteínas da tribo, garantindo-me longos minutos de silêncio para namorar aquelas safiras cintilantes que possuía sob as pálpebras e manter a minha vontade de o esfolar em estado de latência como os guardanapos de pano daquele restaurante recomendavam.

Vontade, vontadinha tinha de fazer pender dos dentes um pedaço de bife e dar-lho boca a boca, com ganas de mordiscar-lhe os lábios, sacudir-lhe o cabelito, afagar-lhe a barba como o pêlo de um gatinho e ser o guardanapo aberto do seu colo, agitando as nádegas entre as suas pernas e arrojando contra o seu ventre como o mar a bater na rocha. Chamando as coisas pelos nomes, queria embuti-lo todo como está escrito no ADN.

A vaca fria é que ele era um escritor, sensível demais para ser assim selvaticamente atacado e se era o culpado dos seus escritos me provocarem fluídos súbitos e ainda ter o descaramento de exibir um aspecto físico capaz de induzir contracções involuntárias até ao útero, não seria injusto usá-lo como um objecto de prazer imediato relegando para segundo plano as suas capacidades intelectuais?...

E tamanhas interrogações só me conduziram a que até esquecesse o cigarro no fim.

Fetish



mais fica


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28 agosto 2007

Sede.



Tenho nas pernas uma sede
De te ter todo em língua.
De sentir nas tuas mãos
a secura e esse anseio
de pensares que morres à míngua.
De sentir-te a boca em sorvos,
nas nascentes, berços do sonho.
E descobrir sem acordar
estares em mim a navegar
e fazeres de ti meu dono...

Margarida Beijaflor.
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O Alcaide só ode o que vale a pena... e é o caso:
"Jogar com palavras... cor de rosa... qual Benfica em crise. E viva a vida!

Das pernas sai um fogo e agulheta,
da boca sai serpente e labareda,
das mãos sai o calor que te põe queda,
de poema digo ditos de poeta...

E o mastro desta barca enfuna a greta,
pensamento e tua pele são mais seda,
e vamos nesse mar ou tua vereda,
sonhar, como essa nau, a Catrineta.

E a barca já balança com teus ais
no abraço ainda mais forte que uma teia.
Deus e diabo dão tudo e muito mais!

E o balanço o prazer, sangue sem veia,
brota da força a dois, com beijos tais,
que a barca ruma ao cais com maré cheia."


E o OrCa - já se sabe - não pode ver ninguém a oder que ode também:

"... a maresia dá-me sempre ganas de navegar...

e a gruta que em si grita muda e queda
como greta que se gaste nua e crua
assim fica de ficar tão triste e leda
se não sente uma outra boca junto à sua

seja a boca de beijar ou ser beijada
seja aquela do sorriso ou maré vaga
qualquer boca que se abra de enseada
e acolha o barco-abraço em que se alaga"


O Alcaide reode... e muito bem:

"... a frota

serão barcas os lábios que me levam
na leve ondulação do teu beijar
maré de marinheiro é preia-mar
e as ondas nessa barcas se encapelam

as barcas como corpos que se ondulam
sorvem sal na água doce do teu olhar
e os lábios brilham fogo a velejar
corsários são as barcas que te abordam

é a frota que navega docemente
por vezes com balanços de calor
e ruma à enxurrada doce e quente

maré baixa sorri ao esplendor
as barcas ancoraram ternamente
repousam nesse cais e nesse amor"