29 agosto 2007

Vaca fria


Meses sem o ver fizeram da barba novidade e tive de me esforçar para não me desequilibrar que estava chapadinho o Brad Pitt no filme do basco e agarrei-me à mala que nestas alturas é uma muleta misericordiosa.

Ele falava sem parar no relato das coisas significativas que lhe aconteceram com a graça que sempre me disparou sorrisos enquanto bravamente cortava o bife em sangue em memória dos tempos em que os homens pegavam os animais pelos cornos e eram a fonte abastecedora de proteínas da tribo, garantindo-me longos minutos de silêncio para namorar aquelas safiras cintilantes que possuía sob as pálpebras e manter a minha vontade de o esfolar em estado de latência como os guardanapos de pano daquele restaurante recomendavam.

Vontade, vontadinha tinha de fazer pender dos dentes um pedaço de bife e dar-lho boca a boca, com ganas de mordiscar-lhe os lábios, sacudir-lhe o cabelito, afagar-lhe a barba como o pêlo de um gatinho e ser o guardanapo aberto do seu colo, agitando as nádegas entre as suas pernas e arrojando contra o seu ventre como o mar a bater na rocha. Chamando as coisas pelos nomes, queria embuti-lo todo como está escrito no ADN.

A vaca fria é que ele era um escritor, sensível demais para ser assim selvaticamente atacado e se era o culpado dos seus escritos me provocarem fluídos súbitos e ainda ter o descaramento de exibir um aspecto físico capaz de induzir contracções involuntárias até ao útero, não seria injusto usá-lo como um objecto de prazer imediato relegando para segundo plano as suas capacidades intelectuais?...

E tamanhas interrogações só me conduziram a que até esquecesse o cigarro no fim.

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