16 setembro 2007
15 setembro 2007
"Lembro-me de Mil Fontes..."
A propósito de Vila Real de Santo António e de outros nomes de terras ideais para tatuar no caralho:
"Mil fontes e mil trancas como um braço,
acenam... se mil vezes não te vejo,
mais mil que não aceno mas desejo,
das mil que tanto sonho como abraço.
Espadas, mais de mil, voam no espaço,
como andorinhas mil... E se as revejo,
de espada à cinta vou, ter o ensejo,
doutras mil flores rasgarem teu regaço.
E serão sempre mil as tuas dores,
e as noites, mil e uma, e tantas quais,
se vaselina mil, não tira ardores...
E muitos... quantos mil como pardais,
teus beijos nesta tranca com ardores...
mas nunca serão mil... são sempre mais!
Alcaide"
________________________________
Pergunta da EdiSão - Ó Alcaide, que tal se começasses a publicar aqui o que pões nos comentários? Engoliste o convite que te mandei com um verdasco tinto, foi?...
________________________________
Como Sobral de Monte Agraço também não está nada mal para o efeito pretendido - mais ainda se for "Sobral de Monte Agraço já tem parque infantil!" - o Bartolomeu ode em sua homenagem:"De Sobral de Montagraço e suas bandas
Me chegam aos grupinhos putas mil
Todas elas são presentes que me mandas
porque sabes que só penso no seu gomil
E vêm todas em alegres risalhadas
Qual bando d'aves feliz e brincalhão
Todas elas, d'olho nas caralhadas
Com que lhes vou encher bem o conão
Trazem o cabelo de flores ornamentado
as mamas semelhantes ao bom marmelo
E eu, já de caralho teso e bem armado
Saberei daqueles cus e conas tirar farelo
Duas mil roliças trancas as sustentam
quais pilares de templos romanos
Mil conaças aos brados por mim chamam
Rogando-me linguados bem profanos
E eu não lhos nego, pois está claro
E as fuças enterro logo entre-bordas
Até me dizem que melhora o faro
Para encontrar melhor a febra gorda
De Sobral de Montagraço e suas bandas
Me chegam aos grupinhos putas mil
Eu sei, São, és tu que mas mandas
Para alegrar minha existência e o meu covil"
E o Nelo não pode ouvir falar em caralhos e enterras (escreve-se "em terras" mas ele não lê, prefere ouvir):
"Ai Alcagoita e Bartolodeli
Que puetas vos revelais
Falam em putas e covas mil
E us caralhos? Estarão a mais?
Ele éi çempre o mejmo fado,
Vila Nova, eça das fontes
Já não é de hoje nem de ónte
Que nós, Nelos, o sabemos achado
Vêim agora o Tal que é Dele
Mais o que rima cum ervilhana
Descubrir coizas que eles
Çó conhessem de garganta
Venhóm lá paçar cumigo
Uma çemana deças tais
Numa tenda em areais,
Costas minhas em vóço umbigo
E verão cumo éi castigo
por faltar há verdade
Saber que neça sidade
não á çó covas, eu vos digo!
Éi pra lá onde çôam as furnas
Mais o forte rugir do mar
que os homes no meiu das brumas
Louvam o mastru de pau Real.
E çe iço açim fizereim
puderão mais tarde neste broshe
Puetar coizas que conhessem
e não dum çaber que lhes foge
Façóm iço, eu vus convido
Venhóm todos em procissóm
Tenho tenda, um cu amigo
Mãos e beiços, que ção um dom!"
Mais vale oder tarde que nunca, OrCa:
"Simpática esta ideia de homenagear as terrinhas do coração através de tatuagens semi-escondidas
tão gentil a ideia de tatuar
terra-mãe na epiderme peniana
coisa assim que de murcha nos engana
mas crescendo tudo volta ao seu lugar
ver nascido em Vila Pouca da Aguiar
começar só por guiar uma magana
mas chegado à hora de cantar hosana
ter a Vila Pouca muita p'ra lhe dar
coisa assim é tremenda e mete dó
como aquele tão pequeno qu'inda cora
que coitado se engelha triste e só
esperando que lhe chegue a luz da aurora
quando enfim tal sucede é em solidó
que ele põe Vila Praia de Âncora cá de fora!
E tantas outras...
Não vás ao mar Tónio
ela gemia agarrada ao nome vil
que apertado era já de cor anil
do nascido em Vila Real de Santo António
e a gulosa que se lh'agarrava ao orto
ansiosa por quanto lhe tinha ouvido
esperando um São Martinho do Porto
sai-lhe apenas um só no Porto nascido...
outro engano porfiou outra donzela
que ao ver no pénis escrito o termo boa
ao cuidar estar ali cobra daquela
viu tão só que ele nascera por Lisboa
mas por fim que de enganos todos vão
outro havia em terra de bonifrates
que por ser longa a terra e a pila não
tatuou o nome inteiro nos tomates..."
Nota da EdiSão - os alfacinhas são espertos que nem alhos. Como a territa tem um nome pequeno, vai daí no brasão põem "mui nobre e sempre leal cidade de Lisboa". Resta saber se têm caralho para tanto.
acenam... se mil vezes não te vejo,
mais mil que não aceno mas desejo,
das mil que tanto sonho como abraço.
Espadas, mais de mil, voam no espaço,
como andorinhas mil... E se as revejo,
de espada à cinta vou, ter o ensejo,
doutras mil flores rasgarem teu regaço.
E serão sempre mil as tuas dores,
e as noites, mil e uma, e tantas quais,
se vaselina mil, não tira ardores...
E muitos... quantos mil como pardais,
teus beijos nesta tranca com ardores...
mas nunca serão mil... são sempre mais!
Alcaide"
Pergunta da EdiSão - Ó Alcaide, que tal se começasses a publicar aqui o que pões nos comentários? Engoliste o convite que te mandei com um verdasco tinto, foi?...
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Como Sobral de Monte Agraço também não está nada mal para o efeito pretendido - mais ainda se for "Sobral de Monte Agraço já tem parque infantil!" - o Bartolomeu ode em sua homenagem:
Me chegam aos grupinhos putas mil
Todas elas são presentes que me mandas
porque sabes que só penso no seu gomil
E vêm todas em alegres risalhadas
Qual bando d'aves feliz e brincalhão
Todas elas, d'olho nas caralhadas
Com que lhes vou encher bem o conão
Trazem o cabelo de flores ornamentado
as mamas semelhantes ao bom marmelo
E eu, já de caralho teso e bem armado
Saberei daqueles cus e conas tirar farelo
Duas mil roliças trancas as sustentam
quais pilares de templos romanos
Mil conaças aos brados por mim chamam
Rogando-me linguados bem profanos
E eu não lhos nego, pois está claro
E as fuças enterro logo entre-bordas
Até me dizem que melhora o faro
Para encontrar melhor a febra gorda
De Sobral de Montagraço e suas bandas
Me chegam aos grupinhos putas mil
Eu sei, São, és tu que mas mandas
Para alegrar minha existência e o meu covil"
E o Nelo não pode ouvir falar em caralhos e enterras (escreve-se "em terras" mas ele não lê, prefere ouvir):
"Ai Alcagoita e Bartolodeli
Que puetas vos revelais
Falam em putas e covas mil
E us caralhos? Estarão a mais?
Ele éi çempre o mejmo fado,
Vila Nova, eça das fontes
Já não é de hoje nem de ónte
Que nós, Nelos, o sabemos achado
Vêim agora o Tal que é Dele
Mais o que rima cum ervilhana
Descubrir coizas que eles
Çó conhessem de garganta
Venhóm lá paçar cumigo
Uma çemana deças tais
Numa tenda em areais,
Costas minhas em vóço umbigo
E verão cumo éi castigo
por faltar há verdade
Saber que neça sidade
não á çó covas, eu vos digo!
Éi pra lá onde çôam as furnas
Mais o forte rugir do mar
que os homes no meiu das brumas
Louvam o mastru de pau Real.
E çe iço açim fizereim
puderão mais tarde neste broshe
Puetar coizas que conhessem
e não dum çaber que lhes foge
Façóm iço, eu vus convido
Venhóm todos em procissóm
Tenho tenda, um cu amigo
Mãos e beiços, que ção um dom!"
Mais vale oder tarde que nunca, OrCa:
"Simpática esta ideia de homenagear as terrinhas do coração através de tatuagens semi-escondidas
tão gentil a ideia de tatuar
terra-mãe na epiderme peniana
coisa assim que de murcha nos engana
mas crescendo tudo volta ao seu lugar
ver nascido em Vila Pouca da Aguiar
começar só por guiar uma magana
mas chegado à hora de cantar hosana
ter a Vila Pouca muita p'ra lhe dar
coisa assim é tremenda e mete dó
como aquele tão pequeno qu'inda cora
que coitado se engelha triste e só
esperando que lhe chegue a luz da aurora
quando enfim tal sucede é em solidó
que ele põe Vila Praia de Âncora cá de fora!
E tantas outras...
Não vás ao mar Tónio
ela gemia agarrada ao nome vil
que apertado era já de cor anil
do nascido em Vila Real de Santo António
e a gulosa que se lh'agarrava ao orto
ansiosa por quanto lhe tinha ouvido
esperando um São Martinho do Porto
sai-lhe apenas um só no Porto nascido...
outro engano porfiou outra donzela
que ao ver no pénis escrito o termo boa
ao cuidar estar ali cobra daquela
viu tão só que ele nascera por Lisboa
mas por fim que de enganos todos vão
outro havia em terra de bonifrates
que por ser longa a terra e a pila não
tatuou o nome inteiro nos tomates..."
Nota da EdiSão - os alfacinhas são espertos que nem alhos. Como a territa tem um nome pequeno, vai daí no brasão põem "mui nobre e sempre leal cidade de Lisboa". Resta saber se têm caralho para tanto.
Chessmen, an attempt to play the game
Chessmen, an attempt to play the game a series of 32 photographs by Erwin Olaf
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Peças de xadrez, uma tentativa de jogar, uma série de 30 fodografias por Erwin Olaf
a post from fluffy Lychees
CISTERNA da Gotinha
Sloggi Shares the Lingerie Love - Lets You Choose Ass. Vamos lá a personalizar o cartaz.
Hollyoaks - Calendário 2008
Hollyoaks - Calendário 2008
Um estudo conduzido por urologistas austríacos e publicado no 'Journal of Sexual Medicine': Mulheres têm capacidade para ejacular no orgasmo. Já imagino a São Rosas a pensar: "E foram precisos tantos anos para descobrir isso! E agora... como é que eu descubro como se faz?" Há alguém que explique?!
14 setembro 2007
Queer Lisboa
Entre hoje e 22 de Setembro decorre o Queer Lisboa - 11ª edição do Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa.
Na página oficial tens o programa de debates e as festas deste evento.
No blog Queer Lisboa podes ficar a par de todas as novidades.
Tens todos os detalhes no site Portugal Gay, onde encontras o programa completo, sinopses de todos os filmes e um calendário gráfico.
O programa do Queer Lisboa 11 faz uma revelação curiosa: o cinema gay português dos anos 70. O debate sobre esse tema será no dia 18 de Setembro, na Sala 2 do Cinema São Jorge, às 19h30. Do programa: "O conhecimento da existência de uma cinematografia gay portuguesa dos anos setenta desvaneceu-se ao ponto de constituir uma quase completa surpresa para quem a redescobre. Mas que a houve, houve. O Queer Lisboa 11 apresenta quatro curtas-metragens dessa época, realizadas por Óscar Alves: Aventuras e Desventuras de Julieta Pipi ou o processo intrínseco global kafkiano de uma vedeta não analisada por Freud (1978), O Charme Indiscreto de Epifânea Sacadura (1975), Good-bye Chicago (1978) e Solidão Povoada (1976)."
Que pena eu ser uma miúda da província e não poder ir lá. Quem pode ir e depois contar-nos tudinho?
Na página oficial tens o programa de debates e as festas deste evento.
No blog Queer Lisboa podes ficar a par de todas as novidades.
Tens todos os detalhes no site Portugal Gay, onde encontras o programa completo, sinopses de todos os filmes e um calendário gráfico.
O programa do Queer Lisboa 11 faz uma revelação curiosa: o cinema gay português dos anos 70. O debate sobre esse tema será no dia 18 de Setembro, na Sala 2 do Cinema São Jorge, às 19h30. Do programa: "O conhecimento da existência de uma cinematografia gay portuguesa dos anos setenta desvaneceu-se ao ponto de constituir uma quase completa surpresa para quem a redescobre. Mas que a houve, houve. O Queer Lisboa 11 apresenta quatro curtas-metragens dessa época, realizadas por Óscar Alves: Aventuras e Desventuras de Julieta Pipi ou o processo intrínseco global kafkiano de uma vedeta não analisada por Freud (1978), O Charme Indiscreto de Epifânea Sacadura (1975), Good-bye Chicago (1978) e Solidão Povoada (1976)."
Que pena eu ser uma miúda da província e não poder ir lá. Quem pode ir e depois contar-nos tudinho?
Bom fim de semana
Foto: Filip Pizlo
Dá-lhe Música
Tributo a Serge Gainsbourg
Homenagem do Canal+ francês "ao homem que
trouxe uma nota erótica à música pop francesa"
A Corpos e almas relembra-nos Je T'aime (Moi Non Plus),
de Jane Birkin e Serge Gainsbourg:
"(...)
tu vas et tu viens
entre mes reins
tu vas et tu viens
entre mes reins
et je
te rejoins
(...)"
"chiiii a quantidade de calças que eu esporrei ao som disto..."
Bartolomeu
Outras Coisas
13 setembro 2007
Naturismo, mens sana in corpore sano
O Pedro Laranjeira, membro (ben)emérito da fundiSão, além de jornalista, radialista, escritor, poeta,... e até actor, é um adepto do naturismo.
No número mais recente da revista Perspectiva, de que é director editorial, o Pedro Laranjeira escreveu um texto entesantíssimo (sim, sim, eu disse interessantíssimo) sobre o naturismo, que está disponível on-line na página internet da revista. Apresenta ainda uma compilação e roteiro de praias oficiais naturistas portuguesas e outras onde o nudismo é habitual. Recomendo que leias esse texto com uma atenção especial, já que o naturismo é, de facto, uma causa pela qual vale a pena lutar.
Deixo aqui alguns excertos:
O naturista não defende um regresso utópico às origens, mas um posicionamento saudável no eco-sistema a que pertence. É no equilíbrio dessa posição que reside a sua filosofia e a sua atitude perante a natureza, o corpo e os outros, optando pela vivência do lado natural das coisas, ajudando a enquadrá-la - e a enquadrar-nos - na moldura cada vez mais difícil de uma vida sintética, plástica e divorciada da terra.
O nudismo, fortemente associado aos movimentos naturistas, é uma consequência óbvia e a face visível das práticas de convívio com a natureza.Porém, nem todos os nudistas são naturistas, nem todos os naturistas são nudistas.Razões culturais levam muita gente que defende uma vida baseada em princípios naturais a não se sentir confortável sem roupa. A esses, deve-se o respeito e a tolerância a que têm direito.
A roupa tem toda a legitimidade como enfeite (aliás com um estatuto quase cosmético derivado da moda e da vaidade) e tem toda a utilidade também como protecção contra o frio e as intempéries... mas é artificial, não nascemos com ela - nascemos, sim, com a pele que nos cobre, com a nossa nudez e a naturalidade normal do aspecto que temos.
O naturismo está regulamentado em Portugal há 13 anos, pelo Decreto-Lei 29/94, que o define como "o conjunto das práticas de vida ao ar livre em que é utilizado o nudismo como forma de desenvolvimento da saúde física e mental dos cidadãos, através da sua plena integração na natureza" e prevê a criação de espaços destinados à prática do nudismo, que define como "praias, campos, piscinas e unidades hoteleiras e similares". A criação desta lei deve-se ao esforço de Pedro Geraldes Cardoso, pioneiro do associativismo naturista em Portugal.
Existem mais de cinquenta mil portugueses assumidamente naturistas, mas não estão reunidos em torno de iniciativas que os unam e organizem, de uma forma expressiva, à semelhança do que sucede noutros países.
Só se justifica falar de naturismo e nudismo, não pela sua essência de princípios, mas pelo desvio que a sociedade introduziu à nossa convivência natural connosco próprios. São setecentos anos de obscurantismo derivado essencialmente de princípios pseudo-religiosos que introduziram na cultura humana o pudor do corpo. Basta recordar que na idade média (e na literatura portuguesa) se chamavam vergonhas aos genitais... embora todos tenhamos nascido deles! Mas nem a religião justifica o pudor: os antigos cristãos eram baptizados nus... e, como soe dizer-se, "se Deus quisesse que andássemos nus, tinha-nos feito nascer sem roupa!"... Na Grécia antiga os atletas competiam nus, os banhos romanos eram mistos e públicos, etc.
O mais curioso desta evolução social é que, ao contrário de milhares de normas, regras e leis, que obrigam à obtenção de licenças especiais para aquisição de bens ou práticas exteriores a nós, o naturismo introduziu na lei precisamente o contrário: não é preciso nenhuma licença para usar roupa, mas a lei limita e regulamenta o nosso direito "a não a usar". (será que algum dia chegaremos a uma sociedade em que seja preciso ter uma licença para não possuir uma arma de fogo?...)
"Que espírito será tão cego e vazio que não entenda que o pé humano é mais nobre que o sapato que o calça, e que a pele humana é mais bela que as vestes com que a cobrimos?" - Miguel Ângelo (1475-1564)
"A impureza do corpo não se relaciona com a nudez, parcial ou integral, que nem sempre é impúdica. Se alguma pessoa se valer da nudez para tratar alguém como um objecto de prazer, então é essa pessoa que comete um acto impuro. A nudez do corpo não tem qualquer relevância, excepto quando desempenha um papel negativo em relação ao valor da pessoa. Mesmo quando a nudez está relacionada com um acto carnal, a dignidade permanece preservada. O impudor nasce da vontade de reduzir uma pessoa, por causa do seu corpo e do seu sexo, a um mero objecto de prazer. O corpo humano não é impúdico, nem o são as reacções de sensualidade a ele. A nudez do corpo não pode ser considerada impura, quando existe uma razão para ela." - João Paulo II, in "Amor y Responsabilidad", Madrid, Editorial Razón y Fe, pp. 211-213
____________________________
Adenda útil do OrCa, que seguiu a recomendação do Luis Vaz de Camões e foi experimentá-lo antes de julgá-lo: "Nestas coisas como em quase tudo, nada como experimentar... Posso dizer que me surgiram alguns problemas menores, rapidamente ultrapassáveis, entretanto: o escaldão do primeiro dia nas partes fudengas, pouco habituadas à exposição solar; o «efeito de pica-pau» perante alguma proximidade mais apelativa; o «efeito contrário», em contacto com a água gélida (que levou até a questionar-me se não me teria caído alguma coisa no mar...). Mas rapidamente um tipo se habitua e é uma alegria libertadora. Apontamento final: em praia, ter sempre atenção em não deixar areia no rego, pois prejudica a condução de regresso a casa".
No número mais recente da revista Perspectiva, de que é director editorial, o Pedro Laranjeira escreveu um texto entesantíssimo (sim, sim, eu disse interessantíssimo) sobre o naturismo, que está disponível on-line na página internet da revista. Apresenta ainda uma compilação e roteiro de praias oficiais naturistas portuguesas e outras onde o nudismo é habitual. Recomendo que leias esse texto com uma atenção especial, já que o naturismo é, de facto, uma causa pela qual vale a pena lutar.
Deixo aqui alguns excertos:
O naturista não defende um regresso utópico às origens, mas um posicionamento saudável no eco-sistema a que pertence. É no equilíbrio dessa posição que reside a sua filosofia e a sua atitude perante a natureza, o corpo e os outros, optando pela vivência do lado natural das coisas, ajudando a enquadrá-la - e a enquadrar-nos - na moldura cada vez mais difícil de uma vida sintética, plástica e divorciada da terra.
O nudismo, fortemente associado aos movimentos naturistas, é uma consequência óbvia e a face visível das práticas de convívio com a natureza.Porém, nem todos os nudistas são naturistas, nem todos os naturistas são nudistas.Razões culturais levam muita gente que defende uma vida baseada em princípios naturais a não se sentir confortável sem roupa. A esses, deve-se o respeito e a tolerância a que têm direito.
A roupa tem toda a legitimidade como enfeite (aliás com um estatuto quase cosmético derivado da moda e da vaidade) e tem toda a utilidade também como protecção contra o frio e as intempéries... mas é artificial, não nascemos com ela - nascemos, sim, com a pele que nos cobre, com a nossa nudez e a naturalidade normal do aspecto que temos.
O naturismo está regulamentado em Portugal há 13 anos, pelo Decreto-Lei 29/94, que o define como "o conjunto das práticas de vida ao ar livre em que é utilizado o nudismo como forma de desenvolvimento da saúde física e mental dos cidadãos, através da sua plena integração na natureza" e prevê a criação de espaços destinados à prática do nudismo, que define como "praias, campos, piscinas e unidades hoteleiras e similares". A criação desta lei deve-se ao esforço de Pedro Geraldes Cardoso, pioneiro do associativismo naturista em Portugal.
Existem mais de cinquenta mil portugueses assumidamente naturistas, mas não estão reunidos em torno de iniciativas que os unam e organizem, de uma forma expressiva, à semelhança do que sucede noutros países.
Só se justifica falar de naturismo e nudismo, não pela sua essência de princípios, mas pelo desvio que a sociedade introduziu à nossa convivência natural connosco próprios. São setecentos anos de obscurantismo derivado essencialmente de princípios pseudo-religiosos que introduziram na cultura humana o pudor do corpo. Basta recordar que na idade média (e na literatura portuguesa) se chamavam vergonhas aos genitais... embora todos tenhamos nascido deles! Mas nem a religião justifica o pudor: os antigos cristãos eram baptizados nus... e, como soe dizer-se, "se Deus quisesse que andássemos nus, tinha-nos feito nascer sem roupa!"... Na Grécia antiga os atletas competiam nus, os banhos romanos eram mistos e públicos, etc.
O mais curioso desta evolução social é que, ao contrário de milhares de normas, regras e leis, que obrigam à obtenção de licenças especiais para aquisição de bens ou práticas exteriores a nós, o naturismo introduziu na lei precisamente o contrário: não é preciso nenhuma licença para usar roupa, mas a lei limita e regulamenta o nosso direito "a não a usar". (será que algum dia chegaremos a uma sociedade em que seja preciso ter uma licença para não possuir uma arma de fogo?...)
"A impureza do corpo não se relaciona com a nudez, parcial ou integral, que nem sempre é impúdica. Se alguma pessoa se valer da nudez para tratar alguém como um objecto de prazer, então é essa pessoa que comete um acto impuro. A nudez do corpo não tem qualquer relevância, excepto quando desempenha um papel negativo em relação ao valor da pessoa. Mesmo quando a nudez está relacionada com um acto carnal, a dignidade permanece preservada. O impudor nasce da vontade de reduzir uma pessoa, por causa do seu corpo e do seu sexo, a um mero objecto de prazer. O corpo humano não é impúdico, nem o são as reacções de sensualidade a ele. A nudez do corpo não pode ser considerada impura, quando existe uma razão para ela." - João Paulo II, in "Amor y Responsabilidad", Madrid, Editorial Razón y Fe, pp. 211-213
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Adenda útil do OrCa, que seguiu a recomendação do Luis Vaz de Camões e foi experimentá-lo antes de julgá-lo: "Nestas coisas como em quase tudo, nada como experimentar... Posso dizer que me surgiram alguns problemas menores, rapidamente ultrapassáveis, entretanto: o escaldão do primeiro dia nas partes fudengas, pouco habituadas à exposição solar; o «efeito de pica-pau» perante alguma proximidade mais apelativa; o «efeito contrário», em contacto com a água gélida (que levou até a questionar-me se não me teria caído alguma coisa no mar...). Mas rapidamente um tipo se habitua e é uma alegria libertadora. Apontamento final: em praia, ter sempre atenção em não deixar areia no rego, pois prejudica a condução de regresso a casa".
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