Não é todos os dias que me deito com um corsário. Não será hoje, também. Não é ele. Os vultos são todos iguais, os homens também, mais ainda se forem do mar. Já o mar não é de pedra e os marinheiros são apenas carne. Carne que se sacia em cada porto, sem exigência objectiva de putas, princesas ou sereias.
Este marinheiro atira o cigarro para o rio com um estudado gesto de dedos, gira apenas o tronco na minha direcção e lança-me um olhar de sedução. Sinto-lhe o cheiro, agora que estou tão perto. Cheira a suor e a canja de galinha, como os homens nos meus piores pesadelos de adolescente. O casaco cheira a óleo, melhor, a bafio de navio precário.
Peço-lhe um cigarro. Estende-mo aceso, acende-o olhando-me sobre ele, sorrindo ainda. Sorrio-lhe e ele não percebe que só não me desagrada porque me é indiferente.
As noites frias de Outubro deprimem-me mais do que quaisquer outras.
Desaperto a minha blusa, nunca deixando de o fitar. Guio-lhe a mão ao meu peito, a sua mão está fria, é grossa. Com a outra mão desaperto-lhe as calças. Não o deixo beijar-me, puta que sou.
Força-me a baixar-me e lambo-lhe levemente o sexo, primeiro, depois mais depressa, finalmente com violência. Mordo-o. Afasta-me e bate-me com força na cara. Solto uma gargalhada e levanto a saia, mostrando-lhe a brancura e a nudez escondida. Bate-me na cara, novamente, ainda não lhe ouvi a voz, só a ouvirei quando me chamar puta, repetidas vezes, enquanto me fode, depois de me voltar de costas para si e de me encostar ao ferro gelado que nos protege do rio. Fode-me por trás, com urgência, agarrado aos meus flancos com tal violência que me rasga a pele das ancas. O sangue obriga as suas mãos a escorregarem na minha carne e passa a segurar-me nas mamas, puxando-me para si, obrigando-me à sua cadência de animal bruto, bestial. Vem-se enquanto me bate nas nádegas, enquanto urra, quase de dor. Afasta-se e eu deixo cair a saia, que me chega até aos pés.
Sentamo-nos no chão frio e húmido. Acende mais dois cigarros, torna a estender-me um. Diz-me que o magoei e volta a chamar-me puta, agora com um sorriso. Pergunto-lhe se quer mais. Levanto a saia, novamente, sento-me sobre ele, enquanto fumo. Ele atira o seu cigarro para longe com o mesmo gesto artístico, estudado, apalpa-me as mamas, chupa-as, morde-as, puxa-as, violenta-as o mais que pode. Estende a língua, tenta beijar-me, esquece-se que sou uma puta, que não o beijarei. Continua a dedicar-se às minhas mamas que entram inteirinhas na sua boca de abutre, enquanto se masturba, com a mesma violência, com a mesma urgência. Puxa-me os cabelos, ordena-me que grite de dor, depois que gema, depois que lhe peça mais. A tudo obedeço, sou uma puta, estou ali para isso. Obrigo-o a penetrar-me e cavalgo-o com quanta força tenho, quero magoá-lo com os meus ossos, de todas as formas, já que a mim ninguém volta a magoar.
Levanto-me rapidamente, depois de o fazer vir-se novamente, saio de cima dele, enquanto me escorre pelas pernas o esperma quente, espesso, impessoal de mais um homem, de mais um vadio homem do mar, de quem me servi para saber se estou viva, de quem me afasto, deixando-o sentado no chão manchado e molhado, sem o chegar a saber. A saia cai de novo sobre os meus pés. Sacudo o cabelo e sigo o meu caminho.
Estar viva é, afinal, o quê? As sensações físicas? Os orgasmos? Os encontros fortuitos? Esta dor lancinante no meu peito? Não querer morrer? Querê-lo? Segui o caminho junto ao rio, subindo sempre até ao café do miradouro. Sentei-me, com sede, esquecida do frio da noite de Outubro que é esta.