28 novembro 2007
27 novembro 2007
O creme
– Comprei o creme – sussurrou ela com um risinho, enquanto se sentava numa cadeira ao sol.
A amiga ajeitou as pontas da toalha, limpando um pouco de areia que um dos filhos pequenos levantara em corrida desenfreada à procura da sombra do toldo e deitou-se de barriga para baixo para se secar do banho de mar.
– Foi? – perguntou a mulher deitada, enquanto baixava as alças do fato de banho dos ombros para os braços.
– Foi – confirmou ela sem levantar a voz, enterrando os dedos dos pés na areia escaldante.
– Aquele que eu te disse?
– Sim – respondeu baixinho, sem conseguir descolar o sorriso meio idiota que ostentava desde a primeira frase.
– É muito bom, não é?
Ela olhou em volta e falou ainda mais baixo. A outra não a conseguiu perceber e reclamou sem levantar a cabeça da toalha:
– Não percebi nada, Maria. É bom?
– É – disse ela, levantando a voz, contrariada. – Muito bom.
– Espalhaste bem? – quis saber a outra.
Ela arqueou as sobrancelhas à pergunta, mas a mulher deitada não viu. Estranhou e não respondeu logo. Colocou as palmas das mãos nos braços da cadeira plástica e corrigiu ligeiramente a posição em que estava sentada, assentando mais peso sobre a nádega esquerda. Suavemente, ergueu e desenterrou as pontas dos dedos dos pés, inspeccionando à distância de uma perna esticada a perfeição do verniz vermelho que emergia da areia fina. Sorriu, gostava, sempre gostara, e desde que se lembrava tinha orgulho no perfeito alinhamento em escada dos seus dedos dos pés.
– Se espalhei bem? – inquiriu, retomando a conversa.
– Sim – respondeu o perfil esquerdo da mulher deitada. – Espalhaste bem?
– Acho que sim – informou, olhando para a amiga deitada, esperando um sorriso, que não apareceu.
– É importante – comentou a outra, desinteressadamente. – Por vezes pensamos que as partes mais expostas à agressão…
– Agressão?! – interrompeu estupefacta a mulher sentada, que já se esquecera da simetria que antes apreciava no conjunto dos seus dedos dos pés. – Agressão? – balbuciou, repetindo-se.
– Pois. – A mulher deitada juntou as mãos, sobrepôs uma sobre a outra e apoiou o queixo nas costas da mão direita. Pela primeira vez, olhou para a amiga sentada, que esperava a explicação que ela se preparava para dar e continuou: – Não penses que a coisa se dá só no sítio exposto à…
– Agressão? – sugeriu a mulher sentada, que ainda não digerira a palavra.
– Sim, pode chamar-se assim – disse a outra. – É uma agressão, no sentido em que é uma coisa fora do normal…
A outra concordou com um aceno ligeiro.
– Sim, visto assim – murmurou.
– E nós não passamos a vida nisso, não é? – perguntou a mulher deitada.
A mulher sentada, sem baixar as sobrancelhas arqueadas, limitou-se a concordar:
– Não, não passamos.
A outra ergueu a cabeça e piscou-lhe o olho:
– Não era mau, quero dizer, mas era capaz de cansar. Eu, pelo menos, fico extenuada.
– Ficas?
– Tu não?
– Eu gosto e o creme ajuda…
– É bom – concluiu a deitada – mas o creme não resolve tudo.
– Resolve a parte principal…
– Hum… mas ao fim de um tempo já nem é preciso.
– Não?
– Claro que não. – A mulher deitada fincou os cotovelos na areia, enfiou os dedos no cabelo e baixou a cabeça ao mesmo tempo que deslocava as mãos do centro para os lados penteando-se, ajeitou as alças do bikini, que já haviam subido para os ombros, e sentou-se na toalha olhando em volta. – Estás a vê-los?
– Os miúdos?
– Sim.
– Estão ali – apontou a mulher sentada, desviando o olhar para os respectivos maridos que, do outro lado do toldo, riam à gargalhada.
Rita, a mulher na toalha, acompanhou o olhar de Maria e comentou:
– Ah… mas se fosse pelo Tó… Ele não quer outra coisa…
– Não?! – pasmou Maria.
– O Quim não? – Rita sorria, sem perceber o espanto da amiga.
Maria fixou-se no marido, que lhe sorriu e, depois de devolver o sorriso, voltou-se para Rita, falando em tom meramente informativo:
– Ele gosta mas acho que não é tarado por isso…
– Tarado?! – interrompeu Rita. – O Tó não é tarado!
– Se não quer outra coisa… – depreciou a amiga. – O Quim gosta mas não quer sempre isso…
– Isso o quê?
– Isso… – Maria continuava espantada com a altura a que a amiga falava e agora mais surpreendida ainda com a expressão irada e o tom brusco. – Isso… O creme! – acabou por exclamar o mais baixo que conseguiu.
Rita ouviu e baixou a cabeça. Esticou as pernas, endireitou a toalha e, levantando a cabeça, perguntou mordendo os lábios para não rir:
– Estás a falar de que creme?
A amiga tornou a mudar de posição na cadeira, passando o peso do corpo para a nádega direita.
– E tu?
A amiga não se conteve e deixou escapar uma forte gargalhada.
– Eu… – respirou fundo para se controlar mas percebendo a posição torcida em que a outra se sentava, não aguentou e continuou a rir. – Tu estavas a dizer que compraste… que compraste…
Maria corou. Rita continuava a rir.
– E eu…
– Tu estavas a falar do creme para o sol – ajudou Maria, acompanhando-a nas gargalhadas. – Do protector… Do protector solar…
A amiga ajeitou as pontas da toalha, limpando um pouco de areia que um dos filhos pequenos levantara em corrida desenfreada à procura da sombra do toldo e deitou-se de barriga para baixo para se secar do banho de mar.
– Foi? – perguntou a mulher deitada, enquanto baixava as alças do fato de banho dos ombros para os braços.
– Foi – confirmou ela sem levantar a voz, enterrando os dedos dos pés na areia escaldante.
– Aquele que eu te disse?
– Sim – respondeu baixinho, sem conseguir descolar o sorriso meio idiota que ostentava desde a primeira frase.
– É muito bom, não é?
Ela olhou em volta e falou ainda mais baixo. A outra não a conseguiu perceber e reclamou sem levantar a cabeça da toalha:
– Não percebi nada, Maria. É bom?
– É – disse ela, levantando a voz, contrariada. – Muito bom.
– Espalhaste bem? – quis saber a outra.
Ela arqueou as sobrancelhas à pergunta, mas a mulher deitada não viu. Estranhou e não respondeu logo. Colocou as palmas das mãos nos braços da cadeira plástica e corrigiu ligeiramente a posição em que estava sentada, assentando mais peso sobre a nádega esquerda. Suavemente, ergueu e desenterrou as pontas dos dedos dos pés, inspeccionando à distância de uma perna esticada a perfeição do verniz vermelho que emergia da areia fina. Sorriu, gostava, sempre gostara, e desde que se lembrava tinha orgulho no perfeito alinhamento em escada dos seus dedos dos pés.
– Se espalhei bem? – inquiriu, retomando a conversa.
– Sim – respondeu o perfil esquerdo da mulher deitada. – Espalhaste bem?
– Acho que sim – informou, olhando para a amiga deitada, esperando um sorriso, que não apareceu.
– É importante – comentou a outra, desinteressadamente. – Por vezes pensamos que as partes mais expostas à agressão…
– Agressão?! – interrompeu estupefacta a mulher sentada, que já se esquecera da simetria que antes apreciava no conjunto dos seus dedos dos pés. – Agressão? – balbuciou, repetindo-se.
– Pois. – A mulher deitada juntou as mãos, sobrepôs uma sobre a outra e apoiou o queixo nas costas da mão direita. Pela primeira vez, olhou para a amiga sentada, que esperava a explicação que ela se preparava para dar e continuou: – Não penses que a coisa se dá só no sítio exposto à…
– Agressão? – sugeriu a mulher sentada, que ainda não digerira a palavra.
– Sim, pode chamar-se assim – disse a outra. – É uma agressão, no sentido em que é uma coisa fora do normal…
A outra concordou com um aceno ligeiro.
– Sim, visto assim – murmurou.
– E nós não passamos a vida nisso, não é? – perguntou a mulher deitada.
A mulher sentada, sem baixar as sobrancelhas arqueadas, limitou-se a concordar:
– Não, não passamos.
A outra ergueu a cabeça e piscou-lhe o olho:
– Não era mau, quero dizer, mas era capaz de cansar. Eu, pelo menos, fico extenuada.
– Ficas?
– Tu não?
– Eu gosto e o creme ajuda…
– É bom – concluiu a deitada – mas o creme não resolve tudo.
– Resolve a parte principal…
– Hum… mas ao fim de um tempo já nem é preciso.
– Não?
– Claro que não. – A mulher deitada fincou os cotovelos na areia, enfiou os dedos no cabelo e baixou a cabeça ao mesmo tempo que deslocava as mãos do centro para os lados penteando-se, ajeitou as alças do bikini, que já haviam subido para os ombros, e sentou-se na toalha olhando em volta. – Estás a vê-los?
– Os miúdos?
– Sim.
– Estão ali – apontou a mulher sentada, desviando o olhar para os respectivos maridos que, do outro lado do toldo, riam à gargalhada.
Rita, a mulher na toalha, acompanhou o olhar de Maria e comentou:
– Ah… mas se fosse pelo Tó… Ele não quer outra coisa…
– Não?! – pasmou Maria.
– O Quim não? – Rita sorria, sem perceber o espanto da amiga.
Maria fixou-se no marido, que lhe sorriu e, depois de devolver o sorriso, voltou-se para Rita, falando em tom meramente informativo:
– Ele gosta mas acho que não é tarado por isso…
– Tarado?! – interrompeu Rita. – O Tó não é tarado!
– Se não quer outra coisa… – depreciou a amiga. – O Quim gosta mas não quer sempre isso…
– Isso o quê?
– Isso… – Maria continuava espantada com a altura a que a amiga falava e agora mais surpreendida ainda com a expressão irada e o tom brusco. – Isso… O creme! – acabou por exclamar o mais baixo que conseguiu.
Rita ouviu e baixou a cabeça. Esticou as pernas, endireitou a toalha e, levantando a cabeça, perguntou mordendo os lábios para não rir:
– Estás a falar de que creme?
A amiga tornou a mudar de posição na cadeira, passando o peso do corpo para a nádega direita.
– E tu?
A amiga não se conteve e deixou escapar uma forte gargalhada.
– Eu… – respirou fundo para se controlar mas percebendo a posição torcida em que a outra se sentava, não aguentou e continuou a rir. – Tu estavas a dizer que compraste… que compraste…
Maria corou. Rita continuava a rir.
– E eu…
– Tu estavas a falar do creme para o sol – ajudou Maria, acompanhando-a nas gargalhadas. – Do protector… Do protector solar…
Leite de Burra
e) Para amaciar a pele e manter-lhe a elasticidade:
(…)
Leite de burra. POPPEA, mulher de NERO, levava consigo sempre em todas as viagens quinhentas burras com leite, tomando todos os dias banhos dele. (pág. 33)
Leite de burra. Conta-se que certas mulheres se locionavam* setecentas vezes com ele por dia, observando escrupulosamente este número. POPPEA, mulher de NERO, pôs o leite de burra em moda. Tomava banhos inteiros neste leite, para o que possuía quinhentas burras, como já acima apontámos. O leite de burra destruía as rugas por completo, conforme se dizia, etc. (pág. 35)
in AGUIAR, Asdrúbal de (1935) Estudos sobre Roma nos tempos antigos
Lisboa: Imprensa Nacional.
* Locionar - Aplicar loção.
(…)
Leite de burra. POPPEA, mulher de NERO, levava consigo sempre em todas as viagens quinhentas burras com leite, tomando todos os dias banhos dele. (pág. 33)
Leite de burra. Conta-se que certas mulheres se locionavam* setecentas vezes com ele por dia, observando escrupulosamente este número. POPPEA, mulher de NERO, pôs o leite de burra em moda. Tomava banhos inteiros neste leite, para o que possuía quinhentas burras, como já acima apontámos. O leite de burra destruía as rugas por completo, conforme se dizia, etc. (pág. 35)
in AGUIAR, Asdrúbal de (1935) Estudos sobre Roma nos tempos antigos
Lisboa: Imprensa Nacional.
* Locionar - Aplicar loção.
26 novembro 2007
Ai, que cócegas na passarinha...
Conheces a Saatchi Gallery? Aqui explicam.
Este forum de arte contemporânea tem on-line uma página com uma galeria de artistas de todo o mundo.
Pois experimentem fazer uma pesquisa por "Sao" ou por "Rosas" e
vejam o que encontram
Este forum de arte contemporânea tem on-line uma página com uma galeria de artistas de todo o mundo.
Pois experimentem fazer uma pesquisa por "Sao" ou por "Rosas" e
vejam o que encontram
CISTERNA da Gotinha
Top 10 -Fetiches mesmo muito estranhos.
Banda Desenhada imprópria para menores.
Na Rússia, existe uma estátua de bronze bem apetrechada.
Mon Blog Sexy: um blog interessante.
São 46 fotografias de rabiosques a piscar o olho ao Cu-Cu.
Banda Desenhada imprópria para menores.
Na Rússia, existe uma estátua de bronze bem apetrechada.
Mon Blog Sexy: um blog interessante.
São 46 fotografias de rabiosques a piscar o olho ao Cu-Cu.
25 novembro 2007
O poder da boca
Tivesse eu tantas jóias quantos os broches que já delineei na vida e até ficaria tentada a abrir uma joalharia de design exclusivo. Não por um apego ao investimento nem ao aforro mas por uma sólida questão de amor a esta arte influente.
Quando um gajo se dispõe a colocar o que considera a sua maior riqueza, que em tempos designei como a jóia da coroa, à mercê de incisivos e caninos que o podem ferir, golpear e em última análise, trinchar em pedacinhos tenros, tenho na boca o poder de decisão sobre dar o prazer ou a dor. E à mão de semear todas as áreas sensíveis como a linha intermédia que divide os testículos até ao rabo e arrepia, os próprios frutos polposos para lhes apreciar a textura de pêssego ou de figo seco e o par de melões traseiros para manobrar como se fora um leme.
É uma conquista empenhada em cada centímetro ganho e gajo que é gajo agradece esse direito à preguiça, como o embalo de um bebé nos braços de sua mãe.
Quando um gajo se dispõe a colocar o que considera a sua maior riqueza, que em tempos designei como a jóia da coroa, à mercê de incisivos e caninos que o podem ferir, golpear e em última análise, trinchar em pedacinhos tenros, tenho na boca o poder de decisão sobre dar o prazer ou a dor. E à mão de semear todas as áreas sensíveis como a linha intermédia que divide os testículos até ao rabo e arrepia, os próprios frutos polposos para lhes apreciar a textura de pêssego ou de figo seco e o par de melões traseiros para manobrar como se fora um leme.
É uma conquista empenhada em cada centímetro ganho e gajo que é gajo agradece esse direito à preguiça, como o embalo de um bebé nos braços de sua mãe.
São Rosas...
Sem Porquê
Não há porquê da Rosa, é rosa porque é rosa;
Não cuida de ser vista, ou ser de si curiosa.
Angelus Silesius
(in «Poesia de 26 de Séculos», tradução de Jorge de Sena, ed. Asa, 2001).
Fora eu Dom Dinis e teria feito uma 'Cantiga de Amor'.
Fora eu poeta e teria feito um 'verso' que rezaria assim:
'Nas Galerias da memória,
A Cultura de viver
é uma Arte em ruínas.
Mas....
Mora ainda nossa história,
Na grandeza da Partilha
destas coisas pequeninas'.
(futurologia... espero...!)
(Carlos Lopes Bastos - Caló)
'São Rosas, senhor...
Mas Rosas em Novembro?!
Rosas para o ano inteiro'.
És canja de galinha para as nossas Almas!
Obrigada por existires.
Obrigada por teres este Blog.
Obrigada por nos honrares com o teu Brilhantismo... sempre!
Feliz final de ano!
Que contemos muitos, com muita saúde e, claro, com alguma queca pelo meio. (estraguei o momento poético, c'um milhão de conas e respectivos caralhos! But... who cares anyway?)
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Nota da rede à São - ensopei um camião de toalhas antes de ter coragem de publicar isto. É que eu sou muito envergonhadita...
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