03 fevereiro 2008

Memórias dum aluno.

por Charlie

Ficara estabelecido desde o primeiro instante, em acordo surdo que as semanas subsequentes ratificariam, a profunda antipatia que entre nós selaria para todo o sempre o tom do nosso relacionamento.
Na verdade não gostara dela ao primeiro sinal tal como ela, sem qualquer rebuço, me fizera sentir que entre a massa amorfa daquele conjunto de alunos, eu seria para ela, e por uma questão de isenção profissional, apenas um entre esses outros números a mais que constariam das listas no final dos períodos lectivos.
E aquilo que fora, nos primeiros minutos da primeira aula, uma acre impressão, - que passara a tónica após as duas frases que trocáramos- evoluiu para a hostilidade declarada quando no primeiro teste me deparei com a nota classificativa: apenas o antigo e inenarrável “medíocre mais”. Uma nota que além de ser nitidamente injusta por comparação com os testes dos meus colegas de turma, me soubera ao horror dum náufrago enleado nos cordames, preso e arrastado aos destroços: tinha a certeza que por mais esforços que fizesse morreria afogado a poucos centímetros da superfície salvadora do “Suficiente”.
Repetiram-se as provas, e repetiu-se a classificação. O primeiro período lectivo marcado na pauta pela nódoa duma e única negativa de valor igual àquele com que ela me pontuava nos testes. Descobri que ela nem os lia, aquí e ali punha a eito uns traços a vermelho a justificar o costumeiro “ mediocre mais”.

Foi então que um rasgo da fortuna, um momento que o Destino guarda como oportunidade a não repetir, se abriu por um instante.
Nesse dia, seguindo eu já atrasado, dei com ela a entrar para a sala de aulas. Mais uns segundos e teria a implacável marcação de falta. Nos bicos dos pés, fazendo-me invisível junto à parede e quase sem ruído, saltei os últimos metros antes que a porta se fechasse. Bastaria esgueirar-me por entre a primeira fila de carteiras e sentar-me em silêncio. Foi então que reparei no envelope que lhe caíra dos livros que ela transportava. Abaixei-me, apanhei-o e deslizei para o meu lugar. Estava preso duma terrível curiosidade, receoso de ser descoberto mas de tal forma excitado que não resisti. Disfarçando o nervosismo e muito discretamente para que ninguém notasse, retirei a carta do envelope já aberto e li o seu conteúdo. Um enorme sorriso me encheu por dentro, tão intenso que sem o mostrar nos lábios, temi que me traísse no resplandecer do olhar.
Reparei como o envelope não tinha nada a ver com o conteúdo e que apenas servira de invólucro pontual. No fim desse dia de aulas, já em casa, li e reli a carta guardando-a depois em sítio seguro.
E foi com a segurança na voz que no dia seguinte e ainda no corredor e em particular lhe disse:
- Professora?!... A Gisela manda-lhe um beijinho...- Ficou a fitar-me estupefacta e ruborizada. Continuei: - Já agora, sei que o seu marido é filatelista e tenho aqui uma coisa que ele gostaria de ter.- Acto contínuo tirei da minha pasta o envelope vazio que lhe entreguei. - É só descolar o selo... é lindo e ele irá gostar...-
Apenas uma única frase foi trocada meses depois entre nós. Sem que tivesse havido mudança de atitudes, passei esse ano lectivo com a pauta abrilhantada pelo “bom mais” depois de lhe ter dito no final do segundo período, e novamente em privado, que a nota “bom menos” não me agradara de sobre maneira.

A carta que ainda guardo como triunfo atípico duma época bem distante dos tempos actuais, valeu-me além da nota final, o gozo dumas boas punhetas tocadas às extensas das elucubrações lésbicas cuja leitura ainda hoje me serve de inspiração para alguns textos que vos confidencio neste espaço....


Charlie


Brinquedos femininos


por Pedro Alves
via Moda Foca

Distracções Para o Banho















Coisas [via] [+info]

crica para visitares a página John & John de d!o

02 fevereiro 2008

Pedras, para que vos quero!

Lembram-se de termos falado aqui, quando o OrCa nos convidou para um memorável passeio a Miranda do Douro, do 69 mirandês?


Pois recentemente encontrei esta imagem de San Cipriano de Bolmir, na Cantabria:


E no Reino Unido, terra dos «Sheela Na Gig» (representações em pedra, que se encontram em muitas igrejas medievais, de uma mulher que afasta os lábios da sua vulva e se expõe aos... paroquianos), estas figuras são de uma grande variedade e riqueza.


Página entesantíssima (sim, sim, eu disse interessantíssima) sobre este tema: The Sheela Na Gig Project.
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Charlie: "Da linguagem quase perdida e imortalizada nas pedras há muita coisa a aprender e estudar. Por toda a Europa se encontram figuras rondando, sempre de forma grotesca, este tema.
A sua leitura, que num ambiente de quase total analfabetismo, era transversal a todos os estratos sociais dessas épocas e ter-se-á perdido com o passar dos tempos.
Dou por mim a imaginar todo o ambiente que se viveria nos estaleiros onde, às mãos de mestres e aprendizes, as peças eram cinzeladas e aparelhadas de forma a imortalizarem-se das mudas pedras que esperaram uma eternidade para se perpetuarem em mensagem.
O que é que as pedras querem dizer de verdade?
Não a sua mensagem directa, mas a outra.
Essa que sentimos quando olhamos interrogativos e, quantas vezes, perplexos para elas.
Elas dizem sempre muito mais do que estão a dizer-nos.
Talvez o que queriam dizer é o que elas calam e que ao calar acordem, na luz da noite, o nosso subconsciente colectivo.
Um farol à vista mas oculto entre o mar."


OrCa: "Pois, se me arranjas uma gaita de foles e um tamborileiro em fundo, sempre te digo que

se a nossa carne é fraca
se qualquer brisa a demove
dificilmente se ataca
de pedra um sessenta e nove

e quando a vulva se avulta
lábios ao céu apartados
de pedra essa carne exulta
faz-nos sentir acordados

e quem julga os medievos
tristonhos até não mais
baralha tempos coevos
qu'eles sabiam-na, carais!

E ainda...

se numa igreja medieva
cona se abre ao paroquiano
bem haja a pródiga Eva
assim se dando sem dano"

RicaPrima: "Eu, que sou pedra, agradeço-vos tanto amor, tanta emoção, tanta vibraSão! Bem hajam, Orca y Charlie! "

horóscopo - Touro


Álvaro
Revista (para já em projecto) Moda Foca

CARma Sutra



Livro



















Coisas [via]

Coisas que se podem ouvir vindas lá de dentro:
"Mete-me a marcha atrás" - São Rosas
"Olha que tás a verter óleo..." - The F Word
"Tens que recarregar os amortecedores" - São Rosas
"Cuidado com os airbags!" - The F Word
"Antes de meteres a primeira tens que sair do ponto morto" - São Rosas

01 fevereiro 2008


Bom fim de semana


Foto: Shay Laren

Relembrando os Provérbios POPulares

Já há bastante tempo que não criamos novos Provérbios POPulares. E a cultura é uma coisa muito linda, que não se deve deixar murchar.
Vou dar um mote (não confundir com andar de mota) e avanço logo com duas sugestões:

Amor com amor se paga...
... e sexo com sexo melhor ainda
... e sexo é com dinheiro

Quem se vem mais?

Falcão: "Eu, que gosto de pito, tanto o como cru como frito, c'um caralho, não sou esquisito"
OrCa: "Faz bem ao vilão, morder-te-á a mão; se te abaixares tu, 'inda te vai ao cu. (este e até ao Falcão – OrCa)
Falar é fôlego; obrar, substância. Mas o bem obrar denota elegância.
Foder e folgar, tudo é trabalhar.
Para bezerro mal desmamado, cauda de vaca é maminha (este não é original meu...)
Primeiro o bucho, depois o luxo, se queres no fim um bom repuxo.
Para que te vestes tu, se o que queres é ficar nu?
Puta e cão olham para a mão (este também não é meu...)
Banana madura em pé pouco dura.
Casa de mulher feia... às vezes nem fazem ideia!...
Meter o nariz onde não é chamado vale mais se houver nariz do outro lado.
De algodão velho não se faz bom pano, mas com saber feito não se vai ao engano.
Se tens um nó na garganta, dá à língua, que ela canta.
Homem que enfia, mulher que assobia.
Hominho, cavalinho e cachorrinho só servem para entupir caminho. Homão, cavalão e cachorrão muita vez é uma atrapalhação.
Do bígamo se diz que joga com o pau em dois pitos."

After Dinner Nipples



















Coisas [via]