Regra geral eles aborrecem-me. Eles, os homens. Todos em geral, nenhum em particular. Exceptuam-se as excepções. Raras.
Aborrecem-me os homens com quem tenho uma conversa de 10 minutos dos quais adivinho o diálogo de 5. Aborrecem-me os homens previsíveis, elementares, básicos. Gosto de homens que jogam xadrez comigo. Partidas interessantes com jogadas inesperadas. Não gosto dos que não vão a jogo quando este já começou. Isso não é uma jogada. É falta de carácter. Aborrecem-me homens com falta de carácter. A esses faz-se um xeque-mate na curva.
Aborrecem-me os homens desatentos a pormenores. Nem falo dos meus. Os deles. Homens que vomitam-me meia dúzia de vinhos excelentes mas que trocam-se todos na hora de combinar a gravata com a camisa. Ou os que me mandam emails ou SMS abreviadas com x’s e k’s. Homens que não sabem que até para se escrever um kridíssima e soar bem é preciso ter um charme natural inatingível à maioria.
Aborrecem-me os homens com os seus preconceitos e ideias pré-fabricadas, pré-congeladas e prontas a consumir diante de qualquer fêmea. Aborrecem-me homens de vistas curtas e fasquias baixas. É assim tão complicado para alguns cavaleiros aceitarem que a mesma mulher que sabe que Chardonnay é uma uva e os espargos comem-se com a mão também possa saber mudar o pneu do seu próprio carro? É assim tão complicado perceber que uma mulher que goste de sexo possa ser simultaneamente meiga, carinhosa e preocupada?
Aborrecem-me os homens que se acham espertos quando nem inteligentes o são. Aborrecem-me os que têm conhecimento de enciclopédia mas de vida (a real) não sabem nada. Os que não sabem argumentar mas que adoram uma discussão em espiral. Gosto de homens com quem consigo trocar impressões sobre todos os assuntos, com discursos eloquentes dos quais bebo as palavras com o mesmo prazer que bebo um bom vinho.
Aborrecem-me os homens que não percebem que entram em mim pelo cérebro. E daí, com passagem (ou não) pelo coração chegamos (ou não) ao sexo. O sexo não é um meio nem um fim. Talvez um complemento de algo consistente a complementar.
Aborrecem-me os homens. E gosto deles. Mas com 32 anos, sei muito bem o que pretendo dos homens. E abaixo da minha fasquia não vale a pena. É um investimento de alto risco com poucas probabilidades de algum retorno. Porque com esses até o sexo é aborrecido.
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Nota da ediSão - a Saci escreve aqui o primeiro texto e o OrCa ode-a logo:
"Saci sentimental?
Pois sim, que não tem mal...
que se lhe chegue ao bem mais fundo
- ao fundamento -
em alegórica surtida a um sentimento
mas do tamanho do mundo
um monumento
ainda que em espiral
nunca banal
ah, o gozo que nos traz a sedução
um enleio raro havendo quem o sinta
mas que dá outro sabor tal fruição
quando se dobrou já o cabo dos trinta!..."