Domingo à noite. Eu estava sentado no sofá da sala a ver um filme, quase a dormir, quando a campainha tocou. Eras tu. “Olá!” “Tu? Aqui?...” foi o que consegui articular perante tamanha surpresa. Era raro surgires assim, do nada, quase como que por magia, por acaso. “Estava aqui perto e resolvi passar por cá. Não me convidas para entrar?” “Sim, claro” afastei-me da entrada para te deixar passar e só quando entraste na sala é que me apercebi de como estavas bonita. Trazias um top de alças dum tecido muito leve, quase que deixava adivinhar os teus seios nus por baixo. O cabelo caía-te em cachos até ao fim das costas, exactamente onde começava a saia, curta, com um pouco de roda. Exibias as tuas pernas morenas que se apoiavam no cimo de um salto agulha de oito centímetros. Por instantes lembrei-me daquela vez em que ficámos uma hora à procura do teu sapato perdido pela casa. Sorri. Fiz por me sentar a teu lado no sofá da sala. Sabia-me bem a tua companhia.
“Estás sozinho?!” perguntaste lançando um olhar ao redor da sala, demorando-o no chocolate em cima da mesa. Apercebi-me disso e ofereci-te um pouco. “Sim, o Pedro foi de fim-de-semana a casa, não sei quando volta, talvez amanhã de tarde.” “Que pena…” deixaste escapar da boca cheia de chocolate. Senti uma pontinha de ciúme, para logo depois a afastar divertido com o teu ar. “Então… estamos sozinhos…?” “É.” respondi olhando-te com desafio, fingindo-te desentendida, olhaste para a televisão e quiseste saber o que estava a ver, “Um filme qualquer sobre um tipo que foi preso, sei lá, já apanhei a meio, não é nada de jeito” “Hmmm…” disseste com desinteresse, depois olhaste-me e sorriste. Aquele sorriso apanhou-me de surpresa, tinha-me desarmado, com medo que isso tivesse sido demasiado óbvio rapidamente te perguntei “Que andas a fazer por aqui afinal?” “Vim ver-te, estava com saudades.” “Pensei que estavas aqui perto e…” não me deixaste acabar a frase, inclinaste-te sobre mim e silenciaste-me com um beijo, nem tive tempo de reagir já tu estavas de pé “Mas o que é que tu…?!” “Shhh…” acendeste a luz do candeeiro ao canto da sala e apagaste a luz de cima deixando o ambiente mais suave, desligaste a televisão e caminhaste devagar na minha direcção. Agora que já não eras minha pareceste-me insuportavelmente irresistível… o modo como a saia balançava e deixava adivinhar ora uma perna ora outra à medida que avançavas para mim, o teu ventre liso, o teu peito redondo, firme, esse teu sorriso que os teus lábios carnudos desenhavam para mim, o teu olhar, tão seguro, tão profundo… Quando chegaste perto de mim já eu ansiava demais por ti, mantive-me em silêncio, não porque mo tinhas pedido, não porque não compreendia como podia aquilo ser depois de tudo o que se tinha passado, mas por saber que qualquer palavra que fosse ia estragar aquele momento. Colocaste a tua mão sobre o meu ombro e fizeste-me encostar ao sofá, num movimento lento sentaste-te em cima de mim deixando as pernas um pouco menos cobertas pela saia, os teus seios quase ao nível da minha boca… a minha respiração tornou-se mais intensa. Finalmente seguraste a minha cara com ambas as mãos, inclinaste-te ligeiramente para mim deixando o cabelo cair-te um pouco pela cara, ficaste um pouquinho assim, olhando-me, até que por fim me beijaste, primeiro com suavidade, devagar, depois com a minúcia de quem sabe o que quer, humedeceste-me cada milímetro dos meus lábios com a tua língua, depois prendeste o meu lábio com os dentes e beijaste-me de uma maneira gulosa como só tu sabes fazer… sabias a chocolate.
Não aguentei mais, enterrei a minha mão debaixo dos teus cabelos segurando-te a nuca e puxei-te a cabeça para trás, beijei-te avidamente, primeiro o pescoço, depois o colo, gemeste baixinho, e isso provocou em mim um arrepio que aumentou quando senti as tuas mãos frias nas minhas costas procurando libertar-se da camisola que eu trazia. Quando finalmente conseguiram, deixei a minha mão deslizar pela tua perna acima e as tuas unhas cravaram-se nas minhas costas. Olhei para ti, estavas ruborizada, os olhos brilhantes fixos nos meus… perdi-me neles, também tinha saudades, tinha saudades de te tocar, de te saber o cheiro, o sabor, tinha saudades do tempo em que passávamos o tempo juntos a entrelaçar cumplicidades, a fazer planos para o futuro que parecia sempre longe demais e que na realidade nunca chegou, do tempo em que qualquer motivo era bom para passarmos a tarde inteira nos braços um do outro. Era, sentia-nos a falta, sentia a tua falta e agora ali estavas tu, a olhar-me como antes, com o mesmo desejo, com a mesma intensidade, com o mesmo fulgor, isso excitava-me, excitava-me tanto que me fazia desejar que fosses minha, como daquela vez em que andámos uma hora à procura do sapato pela casa.
Despertaram-me daquele sonho os teus beijos no meu pescoço, as tuas mãos desapertando-me as calças, os teus dentes trincando a minha orelha, as tuas pernas abrindo-se um pouco mais. Voltei à realidade depressa demais, senti a cabeça à roda. Levantei-te o top e senti as tuas costas nuas, agarrei-te suavemente mas com firmeza e virei-te, deitando-te por debaixo de mim no sofá. Demorei-me um instante a admirar-te, sorriste-me com um olhar cúmplice e enrolaste uma perna em volta da minha cintura. Deslizei as minhas mãos pelo teu corpo, depois beijei-te o ventre e fui subindo para me demorar nos teus seios, para te fazer rodeios. Despi-te a saia, tu segredavas-me coisas indecentes ao ouvido, não ia aguentar muito mais tempo… sabias a chocolate.